63 milhões de brasileiros podem ficar abaixo da linha da pobreza
Em janeiro, estima-se que 63 milhões de brasileiros podem ficar abaixo da linha da pobreza, com renda de até R$ 455 por mês, após o fim do auxílio emergencial na virada do ano, segundo o Ibre/FGV. Em 2019, segundo o IBGE, o país tinha 52 milhões de brasileiros nessa situação.
Na extrema pobreza, no primeiro mês deste ano, estão cerca de 27 milhões de pessoas, isso significa que 12,8% dos brasileiros passaram a viver com menos de R$ 246 ao mês ou R$ 8,20 ao dia, segundo projeção da FGV Social, num cenário dramático de aumento do desemprego e dos preços dos alimentos, luz, gás, aluguel e transporte.
“As transferências oficiais emergenciais caem à metade agora e desaparecem em 31 de dezembro quando teremos meia população da Venezuela de volta à velha pobreza apenas pelo fim do efeito-auxílio”, destacou a pesquisa da FGV Social analisando o corte na renda emergencial.
O auxílio emergencial tirou 13 milhões da pobreza extrema até julho de 2020 e impediu um tombo maior do Produto Interno Bruto no segundo trimestre (-9,7%), no auge da primeira onda da Covid-19. Com o recrudescimento da pandemia no final do ano e no início deste ano de 2021, aumenta a pressão pela manutenção do auxílio emergencial enquanto a vacinação em massa não acontece e o governo Bolsonaro, além de dificultar a vacinação, também não apresenta qualquer saída para a crise econômica, até porque não tem.
A renda emergencial foi aprovada pelo Congresso Nacional em março para mitigar os efeitos da pandemia da Covid-19 e salvar vidas, apesar de toda a resistência do governo Bolsonaro que falava em “gripezinha” enquanto seu ministro da Economia dizia que a economia estava “decolando”. Guedes defendeu um vale de R$ 200. O Congresso aprovou o auxílio emergencial de R$ 600 e de R$ 1.200 para as mães que criam filhos sozinhas. Já em setembro do ano passado, com a carestia, empresas fechando e o desemprego batendo recorde, Bolsonaro e Guedes tentaram acabar com a renda emergencial. Diante de forte pressão, o auxílio emergencial continuou até dezembro, mas foi reduzido à metade em nome de uma “responsabilidade fiscal” que deixa de lado qualquer responsabilidade com a vida humana.
Enquanto cresce na sociedade a pressão, entre políticos, sindicatos, economistas e empresários da indústria, do comércio e dos serviços, pela manutenção do auxílio diante do recrudescimento da pandemia da Covid-19, Bolsonaro e Guedes dizem que o auxílio emergencial é uma “bomba”, tem que cortar da educação, da segurança, da saúde, etc, etc, etc. “Se apertar o botão, vai ter que travar o resto todo”, disse Guedes. “É que nem um botão [de bomba] nuclear. Apertou, paga o preço”, completou o ministro de Bolsonaro sobre o auxílio emergencial. Para ele, 1000 mortes diárias é pouco, “quem sabe num cenário de 1.500 mortes…”
Na sexta-feira (29), Guedes divulgou uma nota sobre as “projeções de crescimento econômico e medidas fiscais”, onde reafirma ser contra a manutenção do auxílio emergencial.
Na essência de suas “projeções”, ao contrário de inúmeros países do mundo que estão expandindo os gastos públicos no combate à pandemia, o remédio de Guedes é o mesmo que levou o país à recessão e ao desastre econômico no primeiro ano do governo Bolsonaro, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 1,1%: cortes nos investimentos públicos, desvio dos recursos públicos da saúde, educação, ciência e tecnologia, segurança para pagar dívida a bancos, fim do abono salarial, entre outros programas sociais, cortes nos salários dos servidores públicos, médicos, enfermeiros, professores, e nas aposentadorias.
Os milhões de “invencíveis”, trabalhadores informais, microempreendedores, mães chefes de família, desempregados, citados por Guedes, enfrentaram ao longo do ano passado a disparada no preço do arroz, da carne do óleo de soja, do feijão. Sem auxílio emergencial, sem emprego, sem renda, já não conseguem sequer comprar alimentos.
Como registrou Ancelmo Gois em sua coluna no O Globo de domingo (31/1): “Dirigentes do setor de supermercados estão ligando para deputados para defender o retorno imediato do Auxílio Emergencial. Em janeiro, o primeiro mês sem o Auxílio, os resultados de vendas foram piores que as piores expectativas do setor. Os brasileiros reduziram as compras até de arroz, feijão, ovos e macarrão“.