
A desigualdade de renda no Brasil deve aumentar no próximo ano, apontam projeções da Tendências Consultoria, divulgadas nesta segunda-feira (28).
De acordo com a Tendências, com o fim do auxílio emergencial, a perspectiva é de queda de 15,4% no rendimento das famílias das classes D/E, que ganham até R$ 2,6 mil por mês – aumentando ainda mais a distância social no país, que já figura na nona colocação entre os países com maior desigualdade social no mundo, segundo o IBGE.
Quem está no topo da pirâmide vai continuar aumentando os seus rendimentos no próximo ano.
A alta nos rendimentos para os mais ricos (classe A) é de 2,7%, aponta o estudo exclusivo da consultoria, que foi divulgado pelo jornal O Globo. Essas famílias têm renda domiciliar a partir de R$ 19,4 mil por mês e representam apenas 3,4% dos lares brasileiros.
Para as famílias das classes B, C e D/E as previsões são de queda nos rendimentos em 2021.
Segundo o estudo, 2,3 milhões de brasileiros ingressaram no estrato mais baixo de rendimentos, mesmo com a injeção mensal de R$ 55 bilhões do auxílio emergencial de R$ 600 para os trabalhadores informais e outras categorias, que foi aprovado pelo Congresso Nacional, com objetivo de atenuar os impactos da pandemia de Covid-19 na economia.
O auxílio ajudou a renda dos mais pobres subir em 20,9% neste ano. O benefício foi reduzido pelo governo Bolsonaro pela metade (R$ 300) em setembro e será extinto a partir da próxima sexta-feira (1°). Para o próximo ano, mais 930 mil famílias passarão a fazer parte das classes D/E, estima a Tendências.
“Nesse ano de 2021, vamos ver o reverso da medalha. As classes D/E vão sofrer com o efeito adverso do mercado de trabalho, sem a transferência de renda para sustentar. Em um cenário de retomada gradual, a saída do auxílio emergencial não é compensada pelo mercado de trabalho”, diz Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da área de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências.
Outro estudioso do tema, Marcelo Neri, que é diretor da FGV Social, que usa um corte de renda menor que a Tendências (de até meio salário-mínimo per capita), prevê que mais 15 milhões de brasileiros vão se deslocar ainda mais para a pobreza com o fim do auxílio.
“De setembro para outubro, já vimos a pobreza aumentar em 17% com o corte pela metade do auxílio. Isso é um trailer do que vai acontecer no ano que vem”, disse Neri.
Nas projeções para um período mais longo, a Tendências Consultoria diz que vai levar tempo para que as famílias que vivem em situação de pobreza no Brasil consigam voltar a registrar alguma alta nos rendimentos.
Após a queda em 2021, as classes D/E devem ter ganhos entre 0,8% e 1% ao ano até 2025, último período do estudo, em um cenário próximo da estabilidade, dentro de um quadro de reajuste real do salário mínimo.
Na previsão para a Classe A, após o aumento de 2,7% em 2021, a retomada da economia pode se traduzir em ganhos anuais acima de 4% até 2025. “Vamos continuar com dificuldade para reduzir a desigualdade social. Esse é um dos pontos da nossa análise, inclusive para um horizonte de dez anos”, frisou Alessandra Ribeiro.
CLASSE C
Com cerca de 87% dos ganhos vindos do trabalho, a classe média, que encolheu em 2020, vai continuar diminuindo em 2021, com 250 mil famílias caindo para a faixa de renda mais baixa, diz o economista Daniel Duque, da FGV.
“O mercado de trabalho não voltou nem está próximo de voltar ao que era antes da pandemia”, afirma o economista, que estima que a taxa de desemprego chegue a 15,6% entre o segundo e o terceiro trimestre.