“Mesmo que acabem as cestas, a gente entrega um ossinho, um pedaço de frango, mas ninguém sai sem nada daqui”. diz funcionária de açougue em Cuiabá
Famílias sem ter o que comer viraram a noite do domingo para segunda-feira (20) na “fila de ossinhos” para garantir cesta básica completa no CPA 2, em Cuiabá. O açougue faz doações de alimentos de segunda a quinta-feira, a partir das 7h.
De acordo com a funcionária do estabelecimento, “mesmo que acabem as cestas, a gente entrega um ossinho, um pedaço de frango, mas ninguém sai sem nada daqui”, contou ela ao G1.
Segundo a cozinheira Brasilina de Sousa, de 48 anos, que frequentava a “fila dos ossinhos” antes dela virar notícia nacional, conseguia se sentar em uma mureta de frente para o açougue, que podia esperar sentada e sem tantas pessoas. “Mas agora é uma multidão de gente, não aguento meu joelho”, disse a cozinheira, que está afastada do trabalho por licença médica.
Brasilina sente dores na coluna e que afetam seu joelho direito, a impedindo de permanecer em pé por um longo tempo. “Só que não recebo auxílio nenhum, nem INSS, nem nada. Conto só com doação e com ajuda de alguns parentes e amigos para pagar uma conta de luz, conta do mercado, essas coisas”, disse a cozinheira, que entrou na Justiça para conseguir os benefícios sociais, mas até agora, não obteve sucesso.
Assim como dona Brasilina, há milhares de famílias no Brasil inteiro encontrando dificuldades para se alimentar diante da carestia dos preços dos alimentos. O “ossinho”, como é chamado pelas famílias, é a sobra da desossa do boi e dura cerca de três dias no prato. As famílias usam no feijão e na sopa para alimentar seus filhos.
Diante da forte desvalorização do real frente às demais moedas estrangeiras e o fim dos estoques regulatórios dos alimentos – moléstias concebidas pela gestão econômica de Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes- os preços dos alimentos e dos combustíveis fizeram com que a inflação disparasse e ultrapassasse os dois dígitos, alta de 10,74%, nos últimos 12 meses (até novembro), segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, que mede a inflação oficial do país.
No ano passado, 9% da população brasileira ou 19,1 milhões de pessoas estavam em situação de fome do Brasil – número que faz parte de um contingente de 116,8 milhões de brasileiros que conviviam com algum grau de insegurança alimentar – conforme dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).
“É um cenário que não deixa dúvidas de que a combinação das crises econômica, política e sanitária provocou uma imensa redução da segurança alimentar em todo o Brasil”, diz um trecho da pesquisa que foi realizada, entre 5 e 24 de dezembro do ano passado, em 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, seja em área urbana e rural.