Em um iate e rodeada por quatro homens sem camisa, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), indicada por Michel Temer para assumir o Ministério do Trabalho, divulgou um vídeo nas redes sociais, onde diz que não deve nada aos trabalhadores que escravizava.
No pitoresco vídeo ao som de um funk, e no fundo o mar, Cristiane afirma com voz embargada: “Todo mundo tem direito de pedir qualquer coisa na Justiça. Todo mundo pode pedir qualquer coisa abstrata. O negócio é o seguinte: ‘quem é que tem direito?’, ainda mais na Justiça do Trabalho”.
Na vã tentativa de se defender das críticas e embargos na Justiça contra a sua nomeação, a deputada continua: “Eu só quero saber o seguinte: quem (sic) que pode passar pela cabeça das pessoas que entram contra a gente em ações trabalhistas?”. “Eu juro para vocês que não achava que eu tinha nada a dever para essas duas pessoas que entraram contra mim, e eu vou provar isso em breve”, disse, apoiada por um dos seus acompanhantes. “E eu tô com você, doutora”, disse um tipo de óculos escuros com os braços ao seu redor. Outro acompanhante, que se identifica como empresário, declarou: “nós sabemos disso, ação trabalhista toda hora a gente tem”.
Pouco antes de sua posse, veio à tona que Cristiane Brasil foi condenada em 2016 a pagar 60,4 mil a um ex-motorista particular, cuja carteira não assinou, e que era exposto a jornada de trabalho excessiva. Na véspera da posse, a deputa tentou em vão um acordo com o ex-funcionário. Pelo mesmo motivo, um outro funcionário foi à Justiça do Trabalho contra ela, mas no final as partes acabaram fazendo um acordo, que quem passou a cumprir foi uma funcionária do gabinete da parlamentar.
As declarações, evidentemente, causaram grande mal-estar e foram alvo de chacota nas redes sociais. Ainda assim, Temer, de olho nos votos que Roberto Jefferson, ex-presidiário do mensalão do PT, diz conseguir no PTB, partido que preside, para a reforma da Previdência, insiste na desgastada nomeação.
Cristiane foi anunciada como ministra do Trabalho em 3 de janeiro. Sua posse, no entanto, foi suspensa por decisão liminar emitida pelo juiz federal Leonardo Costa Couceiro, da 4ª Vara de Niterói, atendendo pedido de advogados trabalhistas. A ação popular e a decisão do magistrado argumentam que a nomeação desrespeita a moralidade administrativa, já que a deputada foi condenada em processos trabalhistas.
Apesar de a Advocacia Geral da União (AGU) e da defesa de Cristiane terem recorrido às instâncias superiores, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a posse em caráter liminar.
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