Mais de mil leitos estão sem uso nos hospitais federais por falta de médicos e enfermeiros. Enquanto isso, 447 pessoas, entre a vida e a morte, esperam por vaga de UTI
Enquanto mais de 400 pessoas aguardam por leitos de UTI no Rio de Janeiro, o colapso do sistema mostra problemas antigos da saúde pública do Rio de Janeiro. A capital do estado tem cerca de 1.500 leitos vazios porque os hospitais foram sucateados, assim como faltam médicos e enfermeiros. Mais de mil desses leitos são em unidades federais e universitárias.
A rede federal de saúde no Rio tem 1.041 leitos, muitos com respiradores, bloqueados e sem uso, principalmente por falta de médicos e enfermeiros que, apesar da necessidade urgente, não tiveram contratação autorizada pelo governo Bolsonaro.
O Ministério da Saúde chegou a anunciar em março que um dos hospitais, o de Bonsucesso, seria referência no tratamento da Covid-19. O atendimento a outras especialidades foi até suspenso. Mas, por falta de pessoal, até o início dessa semana, quase dois meses depois do início da pandemia, somente 76 dos 170 leitos prometidos estavam abertos.
A estimativa é de que faltem 8 mil profissionais na rede federal de saúde no Rio e a situação vai piorar. Sem a renovação de contratos, 4 mil médicos, enfermeiros e técnicos podem ser dispensados até o fim deste mês. Os números são da Defensoria Pública da União.
Os defensores dizem que faltou planejamento para as unidades federais de saúde ajudarem o Rio em um momento de urgência.
“Nós temos vozes dissonantes dentro da mesma rede federal. A sua estrutura interna aqui no Rio de Janeiro não consegue se comunicar com o Ministério da Saúde. Há muito tempo, há uma solicitação de concurso público, equipamento de proteção individual, mas o Ministério da Saúde parece ignorar a sua própria rede federal”, destacou Daniel Macedo, defensor público.
A Justiça já intimou o Ministério da Saúde, mais de uma vez, para esclarecer quais ações os hospitais federais do Rio estão tomando no combate à Covid-19. Segundo o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União, até agora não foram tomadas medidas práticas.
Quem trabalha nas emergências destas unidades está no limite. “Nós estamos expostos ao vírus, sem condições alguma de trabalho com dignidade. Estamos perdendo os colegas de trabalho para o vírus em decorrência da negligência do estado”, desabafa um profissional da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso.
Em ofício ao Ministério da Saúde, a diretora do hospital, Cristiane Gomes, informa que será preciso deslocar 210 médicos e 235 enfermeiros para abrir 220 leitos na unidade, número já aventado pela pasta. Ela também afirma que é necessário um respirador para cada leito, mais 70 na reserva.
O governo do município ofereceu mil vagas para médicos com salários de R$ 4.411 a R$ 11 mil por jornadas de 12 a 30 horas semanais. Apareceram muitos currículos, mas os interessados chegam num ritmo de pinga-pinga.
O esquema de contrato temporário e não celetista também afasta os profissionais que querem o mínimo das condições necessárias em um emprego e não querem servir de muleta para o governo Bolsonaro seguir sem realizar os concursos necessários para estabilizar a saúde pública no Rio de Janeiro.
Frente à inércia do governo Bolsonaro, o governador do estado, Wilson Witzel (PSC), tem procurado alternativas. Até o fim desta segunda-feira (11), o governo do estado do Rio de Janeiro terá aberto 1.129 leitos dedicados a pacientes graves com coronavírus, sendo 972 em hospitais de referência somente para o tratamento da pandemia. São um total de 447 leitos de UTI e 525 de enfermaria nessas unidades, além de 157 leitos, sendo 100 de UTI em áreas isoladas de outras unidades de saúde estaduais.
Porém, mesmo com esses números, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informa que 447 pacientes com suspeita ou confirmação de coronavírus aguardam transferência para UTI.
Segundo a pasta, todos os leitos dedicados a pacientes com a Covid-19 estão ocupados atualmente, com exceção do Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda, no sul do estado, que está com ocupação de 89% na enfermaria e 86% na UTI; e dos hospitais de campanha do Maracanã e Parque dos Atletas, abertos desde o fim de semana, e no Lagoa-Barra, que tem 101 pacientes internados, 70 deles em leitos de UTI.