“A gente teve um cenário devastador de um aumento de 80% no número de leilões. Então do mesmo jeito que tínhamos em 2018, por mês, 200 imóveis loteados em um edital de leilão, agora tem de 800 a 1000”, diz especialista
Entre as dificuldades que as famílias têm enfrentado para pagar suas contas, como o cartão de crédito, água e luz, estão as prestações de financiamento imobiliário. Os imóveis levados a leilão, por inadimplência de seus compradores, tiveram um enorme crescimento nos últimos anos.
De acordo com a Caixa, em sua carteira de contratos, que representa algo em torno de 70% dos financiamentos da casa própria, em 2022, nove mil imóveis foram a leilão. No ano passado, 26 mil. E só no primeiro semestre de 2024, já totalizaram o dobro da soma dos dois anos anteriores, com 47 mil imóveis arrematados, com descontos que chegam a 40%.
De acordo com a Caixa, em nota ao Estadão, “com o objetivo de amenizar as consequências da pandemia, a Caixa ofereceu, na época, alternativas como a pausa de pagamento estendida e o parcelamento parcial da parcela [..], evitando assim a retomada dos imóveis”.
O aumento da inadimplência entre as famílias brasileiras e a disparada dos juros nos financiamentos dos imóveis nos últimos anos só fizeram aumentar o número de leilões.
Segundo a advogada especialista em direito imobiliário, Natália Roxo, “a gente teve um cenário devastador de um aumento de 80% no número de leilões. Então do mesmo jeito que tínhamos em 2018, por mês, 200 imóveis loteados em um edital de leilão, agora a tem de 800 a 1000. É um procedimento bem rápido e direto. Se a gente falar, na ponta da lei, o primeiro passo seria notificar a dívida e depois de 15 dias, se você não paga a divida integral, se for citado corretamente, a gente tem já a consolidação registrada na matrícula e após 60 dias para o leilão acontecer. Então a gente está falando que, dentro de um semestre, você perde o imóvel”, disse a advogada especialista em direito imobiliário Natália Roxo ao Jornal Nacional.
Com a retomada do ciclo de alta dos juros pelo Banco Central, o sonho da casa própria fica cada vez mais distrante.
Em março de 2020, os brasileiros inadimplentes eram 64,8 milhões, segundo a Serasa Experian. Este 2024, o número veio crescendo e atingiu 73 milhões de brasileiros com contas atrasadas em outubro do ano passado.