Trinta dias depois de Trump dizer que os Estados Unidos iriam se retirar da Síria em trinta dias, as forças invasoras norte-americanas dão início a uma lenta e desconcertada retirada.
A retirada ordenada por Trump é um claro reconhecimento de que o plano norte-americano de depor o presidente da Síria, Bashar Al Assad e seu governo, fracassou.
A decisão de Trump, com pesquisas indicando que, entre os eleitores republicanos, 50% já acham indesejável a manutenção de forças norte-americanas na Síria, acontece somente depois que os sírios conseguiram expulsar da maior parte do seu território os bandos terroristas que, desde 2011, os Estados Unidos, financiavam, treinavam e ajudavam a arregimentar com a finalidade de destruir e dividir o país.
A derrota dos intentos criminosos dos EUA veio com o povo se mostrando capaz de defender sua soberania, conquistas e integridade de seu território invadido por dezenas de milhares de tropas mercenárias que assumiram um fanatismo religioso para tentar impor regime no mesmo diapasão das monarquias mais retrógradas e submissas aos Estados Unidos na região.
Os Estados Unidos deslocaram, em 2014, 2.000 soldados e marines, além de equipamento por terra e caças, para dar suporte aos mercenários que contrataram para esta guerra por procuração.
Trump, já durante a campanha eleitoral, quando a realidade mostrava que o esquema montado por Obama e Hillary Clinton para destruir e – se possível – dividir a Síria em protetorados governados por fantoches fanatizados, já fazia água e que a guerra, por eles engendrada, não seria nenhum passeio, declarou em debate com sua oponente que esta ação norte-americana tinha sido “burra”.
Agora, com os terroristas reduzidos à ocupação de uma província, Idlib, após a magistral vitória na libertação de Alepo, com a expulsão dos terroristas da província que abriga a maior cidade síria; com o país em franca e acelerada recuperação, com o aumento da consciência e unidade do povo sírio junto a seu governo e forças armadas, Trump inicia – dois anos depois de eleito – a retirada, alegando, em um de seus maiores contrassensos, que isto se dá depois que os Estados Unidos “venceram” os terroristas que eles próprios fomentaram e deslocaram para a região.
É verdade que perderam o controle de uma parcela deles, os que se constituíram no mal denominado “Estado Islâmico”, cujos líderes se vangloriavam de cortar cabeças de prisioneiros militares e apedrejar civis. Foi com base nesta defecção de terroristas, que passaram a agir por conta própria, com base em venda clandestina de petróleo, que os Estados Unidos tentaram justificar sua presença na Síria, quando já amplamente repudiada, inclusive nos próprios EUA.
Foi inclusive sob este pretexto que realizaram o maior crime de guerra de sua invasão, ao destruírem quase inteiramente a cidade de Raqah, matando civis que haviam sido feitos reféns pelo Estado Islâmico.
A verdade é que quem venceu os terroristas foram os sírios. A entrada de tropas norte-americanas, foi para apoiar e não “derrotar” terroristas, como afirma, agora, Trump. Uma entrada para a qual nunca foram convidados e se configurou em afronta à soberania de um país regido por um governo de respeitável apreço e sintonia com seu povo.
A respeito da retirada, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério do Exterior da Rússia (país cuja solidariedade à Síria contribuiu de forma decisiva para a vitória sobre a invasão) foi clara, na entrevista concedida no dia 11:
“A presença das forças dos EUA na Síria é ilegal e não leva a acalmar a situação, mas, desde o início, alimenta e apoia as organizações terroristas”.
Ela destacou que “se Washington tem a intenção de retirada da Síria, deve levar isso a efeito porque é um passo positivo, mas deve também fazer isso, entregando as áreas de onde as forças norte-americanas sairão às autoridades do Estado da Síria”.
A retirada se dá sob oposição de setores chave de seu governo e de lideranças dos democratas, a exemplo da líder da bancada democrática da Casa dos Representantes (equivalente à nossa Câmara de Deputados), Nancy Pelosi.
O secretário de Defesa do governo Trump, James Mattis, também conhecido como Mad Dog (Cachorro Louco), renunciou por discordar da retirada e, na semana passada, o chefe da NSA (Agência Nacional de Segurança), John Bolton, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, disseram que os Estados Unidos iriam permanecer na Síria, um pouco mais, segundo informou a agência de notícias Associated Press, no dia 10.
Mas no mesmo dia, um comboio com blindados e caminhões se retirou da cidade de Rmeilan, onde há uma base aérea norte-americana, em direção ao Iraque, com o coronel Sean Ryan, porta-voz das forças invasoras, declarando que “o processo de nossa deliberada retirada da Síria começou”.
Segundo publicou o Wall Street Journal, no dia 11, um oficial do Pentágono teria dito acerca das negativas de membros do governo Trump sobre a retirada: “Nós não recebemos ordens de Bolton”.
NATHANIEL BRAIA