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Projetos visam consolidar o país como potência espacial, garantindo soberania e benefícios para comunidades locais
Até o final de 2026, o Brasil planeja finalizar quatro projetos que estão em andamento para desenvolver Veículos Lançadores de Pequeno Porte (VLPPs). Trata-se de equipamentos da indústria espacial que podem colocar satélites e outros objetos em órbita, usando tecnologia nacional. Com isso, o país pretende reduzir a dependência de produtos de outros países, após mais de 50 anos de utilização de tecnologias estrangeiras.
Essa iniciativa marca um avanço crucial na busca pela independência tecnológica e na ampliação das capacidades do Brasil na exploração espacial. Ao investir nesse setor, o país não apenas consolida sua posição no cenário internacional, mas também cria oportunidades para pesquisa, desenvolvimento e inovação no campo espacial.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) anunciou investimentos de mais de R$ 1 bilhão por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para o projeto. A iniciativa ocorre em colaboração com a Universidade Federal do Maranhão.
O centro de lançamento em Alcântara, no Maranhão, será a base dessa empreitada, solidificando o estado como o segundo polo espacial mais importante do Brasil, logo atrás de São José dos Campos. A atuação do MCTI é crucial para o fortalecimento da infraestrutura e do potencial tecnológico do país nesse setor estratégico.
“A localização de Alcântara, próxima à linha do Equador, oferece vantagens estratégicas, reduzindo custos e aumentando a eficiência dos lançamentos. Além disso, a base fortalece a capacidade de monitoramento e defesa do território nacional, essencial para a vigilância de fronteiras e recursos naturais”, afirma Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasi.
Além disso, ressalta Lucina, “a base fortalece a capacidade de monitoramento a defesa do território nacional, essencial para a vigilância de fronteiras e recursos naturais”. A ministra também enfatizou a importância dos projetos de lançamento de foguetes para o desenvolvimento econômico e social do Maranhão e do Nordeste. Essas iniciativas, “destaca, criam empregos qualificados e estimulam a inovação, medidas fundamentais para a inclusão social e a redução das desigualdades regionais”.
Ronaldo Carmona, professor de Geopolítica da Escola Superior de Guerra, analisa que a crescente importância da questão espacial na vida moderna e que as tecnologias e as tensões geopolíticas relacionadas ao espaço estão se intensificando, o que reforça a centralidade dessa pauta.
“A questão espacial na vida moderna adquire uma centralidade cada vez maior, por isso assistimos a uma verdadeira corrida das tecnologias e a um certo acirramento na confrontação geopolítica”, prevê. “Como o Brasil tem essa ambição de ter um sistema espacial completo, precisa valorizar a grande infraestrutura de Alcântara, uma das melhores do mundo em termos de localização geográfica”, defende Carmona, que também é professor do mestrado em Engenharia Aeroespacial na UFMA.
A titular do MCTI explica que os VLPPs em desenvolvimento representam a primeira geração de veículos lançadores, servindo como uma porta de entrada para que a indústria nacional avance na criação de satélites mais complexos.
Ela destaca a crescente importância do Brasil no cenário internacional, ressaltando seu papel como parceiro relevante no setor espacial, o que fortalece sua influência diplomática e tecnológica e abre portas para colaborações globais. Os investimentos mencionados visam, não apenas atender às demandas atuais. A perspectiva é construir um futuro promissor de longo prazo para consolidar o Brasil como uma potência nas áreas espacial e tecnológica. Ao mesmo tempo, assegurar o bem-estar da população.
“Estamos construindo um legado que vai além do alcance imediato, projetando o Brasil e suas vocações”, afirma Luciana. “Os investimentos em Alcântara são mais que uma conquista técnica ou científica. São uma afirmação da nossa capacidade de inovar, de crescer deforma sustentável e de garantir que o Brasil ocupe o lugar que merece no cenário mundial. Estamos escrevendo um novo capítulo na história do nosso País”.
Além dos quatro projetos de VLPPs, está em construção um satélite óptico submétrico de grande porte, com investimento de 230 milhões de reais, liderado por um consórcio ligado ao grupo Embraer. Como as empresas nacionais ainda não têm estrutura para operar um equipamento que pesa cerca de 250 quilos, ele será lançado por um veículo estrangeiro.
“O Centro de Pesquisas Espaciais do Maranhão, que vai ser construído a partir da infraestrutura laboratorial na Base de Alcântara, não representa apenas o desenvolvimento de lançadores e satélites. Vai influenciar na indústria de manufatura desses equipamentos”, reitera o catedrático da Escola Superior de Guerra.
“O desenvolvimento dos VLPPs impulsionará uma cadeia produtiva que envolve engenharia de organizar as linhas de alta complexidade, materiais avançados, eletrônica, software e muito mais”, explica Luciana. “Isso gerará empregos de alta qualificação, fomentará a inovação e atrairá investimentos tanto nacionais quanto internacionais”, avalia. “[…] a expertise adquirida poderá ser aplicada em outros setores, como defesa, telecomunicações e energia, ampliando o impacto positivo na economia”, reforça a ministra.
Uma crítica aos novos incrementos para Alcântara, porém, parte do cientista político e liderança quilombola Danilo Sereja. É que as iniciativas não alteram o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas firmado entre Brasil e Estados Unidos em 2019, o que contraria interesses desses povos, observa Danilo. O pacto selado pelos respectivos presidentes dos dois países à época, Jair Bolsonaro, e Donald Trump (esse último reempossado no cargo recentemente), permite a exploração comercial da base maranhense.
Pelo disposto, tanto o governo norte-americano quanto empresas estadunidenses podem obter lucros da unidade de lançamento de foguetes instalada no estado nordestino. Assim, os novos desenvolvimentos continuarão a operar dentro dos parâmetros impostos pelo acordo. Essa medida gerou forte oposição – e ainda persiste, de setores nacionalistas que apontam interferência na soberania do país.
Com os investimentos planejados, o líder quilombola defende que o retorno financeiro da exploração comercial do CLA seja compartilhado com as centenas de famílias instaladas no território. Ele também cobra do governo federal o cumprimento do Decreto de Interesse Social e da Portaria de Reconhecimento do Território, assinados pelo presidente Lula em setembro do ano passado. Os documentos preveem que a área destinada à base militar – cerca de 9 mil hectares hoje – não pode ser estendida.
Os termos presentes no texto também incluem a regularização de 78 mil hectares de títulos de terras para os quilombolas. Posteriormente, o governo concederia a titulação definitiva da posse da terra, o que não avançou até agora. “Esses projetos anunciados não significam muita coisa para nós, porque não alteram a vida dos moradores de Alcântara”, afirma o cientista.
Não há, segundo Danilo “uma política do governo de transferir parte dos benefícios dessas atividades espaciais ou tecnológicas para as comunidades”. “A gente nunca acessou os ganhos com essa exploração. Até segunda ordem, não teremos nenhum impacto positivo”, avalia o líder quilombola.
Durante sua visita à Base de Alcântara em janeiro, Luciana Santos destacou o compromisso do governo com o desenvolvimento da infraestrutura espacial brasileira. Ela ressaltou, na ocasião, a importância de garantir que as atividades na base sejam realizadas de forma sustentável e que beneficiem as comunidades locais.