Retração de 5,0% na FBCF é influenciada pela alta taxa de juros do país, diz Juliana Trece, coordenadora da pesquisa
O Monitor do PIB-FGV apontou queda DE 0,6% na atividade econômica em agosto em relação a julho, considerando-se dados com ajuste sazonal. O resultado se soma aos dados já divulgados de um início de terceiro trimestre no vermelho, quando o comércio varejista e o setor de serviços, medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), registraram resultados negativos.
Na semana passada, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) foi pelo mesmo caminho, com queda de 0,77% em agosto em relação a julho.
Os dados vêm após alguns meses de variações positivas e mostram a desaceleração em que se encontra a economia brasileira, asfixiada pelas altas taxas de juros pelo elevado endividamento e inadimplência das famílias. A sinalização de desaceleração da economia não impediu que o Banco Central continuasse em sua marcha lenta de redução dos juros a conta-gotas. Com a queda na inflação, os juros reais continuam subindo, os mais altos do mundo.
O Monitor destaca dois componentes para o resultado negativo da economia em agosto. Pelo lado da oferta, a forte queda na agropecuária, setor que impulsionou o crescimento do Produto Interno Bruto nos primeiro e segundo trimestres, e pelo lado da demanda, o desastroso resultado do segmento de máquinas e equipamentos, segmento que mais depende do crédito e tem sido atingido pelas criminosas taxas de juros impostas pelo Banco Central, que impedem os investimentos, derrubam a produção e as vendas e inibem a aceleração do emprego no país.
“Na retração de 0,6% da economia brasileira em agosto, comparado a julho, destacam-se negativamente dois componentes. Pela ótica da oferta, a forte queda na agropecuária é explicada pela redução da colheita de safras, como a soja. Pela ótica da demanda, a retração na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) tem se aprofundado principalmente devido ao desempenho negativo do segmento de máquinas e equipamentos. O comportamento negativo da agropecuária era de certa forma esperado, devido ao calendário de colheitas e ao forte desempenho positivo observado no setor no primeiro semestre. No entanto, o contexto de retração da FBCF é bastante diferente tendo influência da alta taxa de juros do país”, segundo Juliana Trece, coordenadora da pesquisa.
“A FBCF retraiu 5,0% no trimestre móvel findo em agosto. Pela primeira vez, desde o trimestre findo em abril de 2022 o segmento da construção retraiu, mas a sua pequena contribuição de -0,2 p.p. para a FBCF não justifica a forte retração observada neste componente desde o início do ano. O segmento de máquinas e equipamentos, tem ampliado suas retrações ao longo dos trimestres tendo sido influenciado pelos desempenhos ruins em diversos tipos, tendo como principal destaque o segmento de caminhões, ônibus e relacionados”, diz a nota da FGV.
Na comparação interanual a economia cresceu 2,5% em agosto e 2,8% no trimestre móvel findo em agosto. No acumulado em 12 meses até agosto, o resultado foi de 3,0%.
O Monitor aponta também que consumo das famílias cresceu 3,1% no trimestre móvel findo em agosto, mas desde o trimestre encerrado em maio há uma “estabilidade no crescimento do consumo das famílias”.A exportação de bens e serviços cresceu 10,6% no trimestre móvel findo em agosto, puxado pelo crescimento das exportações de produtos agropecuários e da extrativa mineral, “estas duas commodities foram responsáveis por cerca de 90% do desempenho positivo das exportações”.Já o total das importações retraiu 4,6% no trimestre móvel findo em agosto, influenciada pela queda na importação de bens intermediários.
Em termos monetários, estima-se que o acumulado do PIB até agosto em valores correntes, tenha sido de 7 trilhões 039 bilhões e 803 milhões de Reais.
TAXA DE INVESTIMENTO
O Monitor destaca no gráfico abaixo em duas linhas as médias das taxas de investimento: a laranja (em cima) mostra a média das taxas de investimento mensais desde janeiro de 2000 (18,0%); a cinza (em baixo), a média das taxas de investimento mensais desde janeiro de 2015 (16,7%). Observa-se que a taxa de investimento em agosto foi de 17,5%; pouco acima da média histórica desde 2015, mas abaixo da média histórica desde 2000.