
“O caminho é unir todas as forças e colocar o povo na rua para exigir renúncia de Campos Neto”
Em entrevista exclusiva à Hora do Povo, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, ex-presidente da CGTB, protagonista (ao lado de Adilson Araújo, presidente da CTB) da primeira fusão de centrais sindicais, para “fortalecer a unicidade sindical e um programa desenvolvimentista para o Brasil”, declara que a unificação “foi uma grande sacada, um momento sublime no movimento sindical, inspirado no legado de Getúlio Vargas”.
Bira considera que a decisão, celebrada desde 2021, se consolidou e foi um importante passo para a construção da Frente Ampla pela democracia. “A vitória eleitoral do presidente Lula abriu um novo tempo no Brasil”, avaliou o sindicalista.
Para o veterano líder sindical, “a alucinada taxa básica de juros, promovida pelo presidente do Banco Central, Campos Neto, de 13,75% ao ano, a maior do mundo, é a questão mais urgente a ser enfrentada”. Bira lembrou que o Brasil gastou, em 2021, R$ 350 bilhões de juros. “Três anos depois, agora em 2023, devemos pagar R$ 800 bilhões. Não há economia que aguente. Evidentemente, não sobra dinheiro para quase nada”.
Bira denuncia que “Campos Neto, bolsonarista, usa o juro absurdo e o cargo para sabotar o governo”. Afirma que “o caminho é unir todas as forças da nação, trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, estudantes, religiosos, e colocar o povo na rua para exigir a sua renúncia”. Bira afirmou que conversou sobre o assunto com o presidente Lula, com vários dirigentes sindicais e com o coordenador do movimento Direitos Já, Fernando Guimarães.
Existe uma imensa expectativa do povo brasileiro no governo Lula, avalia o líder sindical. Na opinião de Ubiraci, Lula será um ótimo presidente. “O governo deve concentrar seus esforços em unir a nação pelo desenvolvimento econômico, pelo fortalecimento do mercado interno, através do aumento real do salário mínimo e pela reindustrialização do país, através do investimento público”.
Considera, no entanto, que “com essa sangria, esse gasto com juros, não dá para fazer quase nada”. Bira acha que “o Brasil não aguenta mais uma frustração, e que pode ter consequências trágicas, como a volta do fascismo. Por isso, o juro é o primeiro problema a ser resolvido”. Bira é metalúrgico e foi secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de SP.
A seguir, leia a íntegra da entrevista.
CARLOS PEREIRA
HP – Faz dois anos da unificação da CGTB com a CTB. Valeu a pena?
Bira – A unificação da CGTB com a CTB foi uma grande sacada para a conjuntura que ainda estamos atravessando. O povo sofreu muito com o governo que queria implantar uma ditadura fascista. Dar o exemplo foi o melhor que podíamos fazer. Com a fusão das duas centrais, de 2021 para cá, fortalecemos a unicidade sindical e o pensamento desenvolvimentista. O mais importante é que fortalecemos o movimento sindical brasileiro, e isso ajudou muito a unir as principais lideranças nacionais em defesa da democracia. Conseguimos aparar as resistências e derrotamos o fascismo com a força exuberante de uma frente ampla encabeçada pelo presidente Lula. Ganhamos as eleições.
O congresso de unificação foi um momento sublime no movimento sindical. Eu tive a felicidade de ler a “Carta Testamento” do presidente Getúlio Vagas.
HP – E agora, quais as prioridades?
Bira – A medida mais urgente e necessária é a redução dessa taxa de juros alucinada que o Banco Central paga aos rentistas, de 13,75%, a maior do mundo. No ano passado, em 2021, o Brasil gastou com juros mais de R$ 350 bilhões. Esse ano, deverá chegar a R$ 800 bilhões. Não há economia que aguente. Tem que estancar essa sangria. Só assim haverá dinheiro para o que é necessário: o salário mínimo, moradia, reequipamento do SUS, investimento em ciência e tecnologia. Enfim, recursos para atender as crescentes necessidades das massas e, com investimento público, reindustrializar o país.
O Campos Neto não pode fazer o quer. Está na presidência como funcionário. Não teve nenhum voto. Vamos colocar uma pressão insuportável para cima dele e exigir a sua renúncia. Juntar toda a sociedade brasileira, partidos políticos, democratas, nacionalistas, trabalhistas, social-democratas, evangélicos, comunistas, ambientalistas, etc., como fizemos na luta em defesa da democracia. Eu já discuti essa ideia com o presidente da República, com vários dirigentes sindicais. Todos com quem conversei estão muito afim. Você imagina, as centrais de trabalhadores, a CNI, a Fiesp, a Abimaq, todos juntos contra esses juros absurdos. Temos que unir forças para isolar mais ainda o bolsonarista Campos Neto. Ele exerce a presidência do BC para sabotar o governo Lula.
HP – Depois de reduzir os juros, quais as prioridades?
Bira – Ganhamos as eleições por uma diferença pequena, mas muito significativa. Derrotamos uma derrama de dinheiro público como nunca se viu, a Polícia Rodoviária Federal obstruindo o trânsito dos eleitores, uma roubalheira sem limites. Foi uma vitória épica.
Lula tomou posse, derrotou a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro. Agora todos o aguardam. Então, é arregaçar as mangas e iniciar a reconstrução da Pátria. Começar um novo tempo, sem desemprego, com desenvolvimento, sem fome e sem miséria.
Caberá ao presidente unir a nação pelo desenvolvimento econômico, pelo fortalecimento do mercado interno, através do aumento real do salário mínimo e pela reindustrialização do país, através do investimento público.
HP – Caso contrário?
Bira – Não pode ter caso contrário. Lula vai fazer um bom governo. O povo brasileiro não suporta mais uma frustração. Tem uma expectativa muito grande no Lula.
Caso contrário? Ou seja, manter ou piorar atual situação do povo? Não tem outra, o fascismo volta, e aí é ruim para todo mundo. É ruim para o industrial, para o comerciante. Não é muito difícil de perceber que se a coisa for por água abaixo, o bolsonarismo volta, e com mais força. Voltarão as perseguições aos trabalhadores, aos professores, aos democratas e aos intelectuais. A indústria nacional vai deixar de existir. Vai ficar um exército de pessoas famintas e miseráveis correndo atrás de um pedaço de pão.
HP – Com o Arcabouço Fiscal, não vai poder gastar a economia com a redução dos juros. Vai para o superavit primário, para reduzir a relação dívida/PIB.
Bira – O Arcabouço Fiscal do Haddad não rompe com os limites do teto de gastos. É um pouco menos ruim, mas não deixa de ser um teto de gastos com abas de 0,6% a 2,5%, com ampliação dos gastos no máximo de 70% do aumento da receita e com um teto de R$ 100 bilhões. Veja, os juros, em 2023 serão de R$ 800 bilhões de reais. Enfim, tem que abaixar as taxas de juros. Para isso tem que juntar todos os setores da sociedade que não querem a volta do Bolsonaro. Aí, resolvida essa questão, encontra-se uma solução. O fato é que eu não tenho a menor dúvida, se esse governo fracassar, fracassa o Brasil.
HP – O salário mínimo foi de R$ 1.302 para R$ 1.320. São R$ 18 reais. É pouco, não é?
Bira – Se eu estivesse no governo, aumentava o salário mínimo para mais que R$ 1.320. Seguiria o exemplo de Getúlio Vargas. O presidente deu 100% de aumento no salário mínimo, que ficou congelado durante todo o governo anterior, do Marechal Dutra. Não estou propondo 100% de uma vez, mas até o fim do mandato. Aumento real do salário mínimo traz muitos benefícios. Com aumento real, os trabalhadores vão comprar mais, as empresas vão colocar as máquinas paradas para rodar e contratar mais trabalhadores. É isso que faz o Brasil crescer. A fórmula nos governos anteriores do Lula (a média do crescimento do PIB nos últimos dois anos mais inflação) garante aumento real se houver crescimento do PIB. Mas se cair, ficamos devendo, como já aconteceu. O Dieese fala que o salário definido pela Constituição seria mais de R$ 6 mil.
HP – A CTB apoia o projeto contra as fake news do deputado Orlando Silva?
Bira – Temos que dar todo apoio ao deputado Orlando Silva, que é relator do PL das Fake News, que pune quem se beneficiar das fake news. Por que os bolsonaristas querem manter as fake news sem nenhuma restrição? Porque a mentira e a calúnia ajudam a trazê-los de volta ao poder, a se aproveitarem do desespero do povo.
HP – Alguma questão que você gostaria de mencionar?
Bira – Temos que fazer nossa pressão, senão vamos deixar os banqueiros da Faria Lima fazerem a pressão sozinhos. O exemplo foi o 1º de Maio, que botou no centro a redução dos juros, a partir do presidente da República. Se colocássemos na chamada, na convocação, a redução dos juros, teria sido melhor ainda. Temos que dar continuidade ao exemplo do 1º de Maio. Fazer uma grande mobilização com trabalhadores, empresários, estudantes, artistas, religiosos e exigir a renúncia desse Campos Neto. Com o povo na rua, a coisa muda de figura. O Brasil não aguenta esse bolsonarista mais dois anos assaltando nosso Tesouro.