Os investimentos seguiram em queda em agosto deste ano, segundo o Indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
No mês, o índice apontou um recuo de 1,5% nos investimentos em máquinas e equipamentos, na construção civil e em outros ativos, em comparação entre julho e junho deste ano.
“O resultado sucedeu à baixa verificada no mês anterior, quando o indicador recuou 0,7%. Com isso, o trimestre móvel encerrado em julho registrou queda de 0,2% na comparação dessazonalizada. Vale notar que o indicador se situa 17,6% abaixo do máximo atingido na série, verificado em abril de 2013”, destacou o instituto em nota. Em maio cresceu 2,4%.
Frente aos mesmos períodos de 2022, o indicador mensal apresentou quedas de 6,5%, em julho, e de 3,1%, no trimestre móvel. Em relação aos primeiros sete meses de 2022, o resultado também ficou no negativo (-1,8%). Já no acumulado dos últimos doze meses, os investimentos totais cresceram apenas 0,8% em julho.
“Na comparação com ajuste sazonal [no caso, afastando as variações típicas para os determinados períodos do ano] – os investimentos em máquinas e equipamentos – medidos segundo o conceito de consumo aparente, que corresponde à produção nacional destinada ao mercado interno acrescida das importações – apresentaram um recuo de 4,0% em julho, encerrando o trimestre móvel com alta de 1,1%”, constatou o Ipea.
Esses recuos apontados pelo indicador de investimento refletem a restrição ao crédito que está sendo provocada pela manutenção da política de juros altos estabelecida pelo Banco Central (BC), por meio da taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,75% ao ano.
Frente à política monetária restritiva do BC, a atividade econômica do país cresceu 0,9% no 2º trimestre de 2023, demonstrando uma desaceleração frente ao trimestre anterior, período em que o PIB registrou alta de 1,8%. Neste período, a indústria variou positivamente em 0,9%, com destaque para o baixo desempenho da indústria de transformação, alta de 0,3% frente ao trimestre anterior. No primeiro semestre, a indústria de transformação recuou -1,3% em relação ao 1º semestre de 2022.
Os investimentos em máquinas e equipamentos ficaram praticamente parados no 2º trimestre de 2023, ao atingirem um avanço de 0,1% frente ao trimestre anterior, época que tombaram -3,4% em relação ao 1º tri de 2023. Em comparação com o mesmo período de 2022, os investimentos recuaram 2,6% e, no semestre de 2023, ficaram -0,9% abaixo do pico que foi atingido no semestre de 2022.
Assim, a taxa de investimento ficou em 17,2% do PIB no segundo trimestre de 2023, ficando abaixo dos 18,3% observados no mesmo período do ano anterior.
“O nível elevado dos juros pode ter papel relevante em explicar o mau desempenho da demanda por investimentos e da atividade manufatureira”, afirmaram os técnicos do Ipea, Leonardo Mello de Carvalho e Julia de Medeiros Braga, na nota técnica do Ipea “Desempenho do PIB no segundo trimestre de 2023”.
MENOS CRÉDITO ÀS EMPRESAS, APONTA IEDI
De acordo com os dados divulgados pelo BC, no 2º trimestre de 2023, as novas concessões de crédito somaram R$ 1.445,2 bilhão, sendo uma diminuição real de -0,9% em relação a igual trimestre de 2022, já descontada a inflação segundo o IPCA.
Ao analisar este dado, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), destaca que a retração foi puxada principalmente pelas operações de crédito das pessoas jurídicas (-5,2%). Entre as principais modalidades desta parcela do crédito, destacam-se os recuos de aquisição de outros bens (-24,1%).
“Os juros têm sido um obstáculo para o crédito fluir pelo sistema econômico. Nas novas concessões, a média real das taxas de empréstimo no 2º trim/23 atingiu 27,3% ao ano (a.a.), implicando elevação de +13 p.p. ante o 2º trim/22 e de +2,5 p.p. frente ao trimestre precedente. No período jan-jun/23, a média real de juros registrou alta de 11,9 p.p. ante igual período do ano de 2022. Tanto o crédito às empresas como o crédito às famílias tiveram avanços de dois dígitos no período”, afirmou o IEDI, em nota.
O economista do IEDI, Rafael Cagnin, ressalta que “o investimento vem de uma trajetória de desaceleração desde o ano passado. Houve um período positivo em 2021, dada a base de comparação baixa, mas voltou a desacelerar no ano passado e neste ano, ficando negativo no segundo trimestre”, comentou Cagnin, em reportagem do Valor Econômico publicada na última sexta-feira (6).
No cenário de escassez de crédito e do baixo ritmo de crescimento, a indústria não consegue renovar suas máquinas e equipamentos, como destaca Cagnin. “Outro ponto de atenção é o levantamento da CNI segundo o qual a idade média dos equipamentos da indústria é alta e mais de um terço está obsoleta”, disse.
O Brasil deve terminar este ano com uma taxa de investimento próximo de 17% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Se confirmada essa previsão, a taxa de investimento de 2023 ficaria abaixo da média de 21% e bem abaixo dos 24% necessários, avalia a associação.
“Estamos com demanda reprimida. Deveríamos estar com um investimento entre 24% e 25% do PIB para indústria e infraestrutura, quando investimos [apenas] 17%. A principal razão por trás disso é a política monetária restritiva”, diz José Velloso, presidente-executivo da Abimaq.