Conselho de Administração da estatal determina mudanças na política de distribuição de dividendos, incluindo a possibilidade de recompra de ações
O Conselho de Administração da Petrobrás (CA) aprovou na quinta-feira (11) o pagamento de R$ 24,65 bilhões em antecipação de dividendos aos acionistas da estatal, dos quais 63% são associados privados e na maioria estrangeiros.
O montante refere-se ao resultado do lucro que a estatal obteve no primeiro trimestre, cerca de R$ 38,2 bilhões, sendo uma queda de 12% frente ao quarto trimestre de 2022 e de 14,4% na comparação com mesmo período de 2022. Segundo a direção da empresa, o resultado do primeiro trimestre de 2023 reflete a desvalorização no preço do petróleo tipo Brent no período.
No comunicado, o Conselho de Administração da Petrobrás, hoje ja formado por integrantes do governo Lula, declarou que “com relação à remuneração aos acionistas aprovada, o montante está alinhado à Política de Remuneração aos Acionistas vigente, que, em caso de endividamento bruto inferior a US$ 65 bilhões, a Petrobrás deverá distribuir aos seus acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e as aquisições de ativos imobilizados e intangíveis (investimentos)”.
Na nota ainda, o CA afirmou que determinou que a Diretoria Executiva da Petrobrás realize mudanças na política de remuneração dos acionistas da estatal, adotada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Adicionalmente, o CA determinou que a Diretoria Executiva elabore proposta de ajuste do Planejamento Estratégico em curso e aperfeiçoamento da Política de Remuneração aos Acionistas da Petrobras, incluindo a possibilidade de recompra de ações, e submeta essas matérias para deliberação do CA antes do encerramento do mês de julho de 2023”, diz o trecho do comunicado.
Nesta sexta-feira (12), ao defender que a Petrobrás precisa voltar a investir, o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, reafirmou que haverá mudanças na política de dividendos da estatal e disse que os acionistas da empresa terão que aceitar uma rentabilidade menor.
“Outro desafio que a gente tem é harmonizar melhor o perfil de investidor da Petrobrás. A Petrobrás é uma empresa segura, um transatlântico. Se quiser uma lanchinha rápida, pega ações de uma startup de garagem, investe e vai lá para o oceano. Se vier uma onda maior, você pode perder tudo. Se quiser um transatlântico, ele é mais devagar, se move mais lentamente, mas vai entregar lá no outro lado. O investidor que procura segurança é conservador e aceita rentabilidade menor”, declarou Paul Prates ao jornal O Globo.
Ao todo, no ano passado, os acionistas da estatal receberam R$ 215,8 bilhões em dividendos, sendo a maior pagamento na história da empresa. A Petrobrás foi a segunda maior pagadora de dividendos no mundo, ficando atrás da mineradora anglo-australiana BHP Group, segundo o Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson.
“Pagou dividendos absurdos de R$ 215 bilhões, deixando de investir e gerar empregos no país”, criticou a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), na última Assembleia Geral de Acionistas da Petrobrás.
Em seu voto, a Aepet defendeu a recompra das ações da Petrobrás. “Além de terem sido vendidas por um valor muito inferior ao real, agridem a soberania do País e geram enorme prejuízo para a Petrobrás e para o povo brasileiro”, constatou a Aepet; expondo que diante da distribuição dos R$ 215 bilhões em dividendos pela estatal em 2022, “pela composição acionária atual, os acionistas estrangeiros – cerca de 40% deles são da Bolsa de Nova Iorque – receberam R$ 100 bilhões destes dividendos e o Povo brasileiro (o governo) ficou apenas com 78,71 bilhões. Portanto, qualquer recuperação que a Petrobrás consiga, dos estragos produzidos nela, pelos maus dirigentes, vai beneficiar muito mais os investidores estrangeiros do que o povo brasileiro”, observou a entidade.
Distribuição de dividendos pela Petrobrás nos últimos anos:
2018: R$ 7,1 bilhões
2019: R$ 10,7 bilhões
2020: R$ 10,3 bilhões
2021: R$ 101,4 bilhões
2022: R$ 215,8 bilhões