Quadrilha se vira com chefe interino
Mesma base que serviu Lula foi conduzida para tucano pelo chefe do PR
O despejo de uma coleta de siglas, supostamente partidárias, na candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin, no mesmo momento em que mais um esquema de corrupção na estatal rodoviária paulista, a Dersa, é exposto pela força-tarefa da Operação Lava Jato, parece, como dizem alguns órgãos de mídia, emblemática.
Os novos apoiadores de Alckmin são os mesmos que apoiaram Lula e Dilma – e não mudaram de programa nem de objetivos por causa da troca de candidatos. Nem precisavam. Não foi por nenhuma convergência programática que eles apoiaram Lula e Dilma, exceto quanto ao objetivo de roubar o Erário e a propriedade pública. Nisso, aliás, sua convergência com o PT era absoluta.
Até o “articulador” do apoio a Alckmin, Valdemar Costa Neto, investigado por receber uma propina de R$ 500 mil da UTC Engenharia, condenado a sete anos e 10 meses de cadeia na época do chamado “mensalão” – e indultado por Dilma em 2015 -, é o mesmo que foi articulador do apoio a Lula.
Embora, Alckmin tem também a sua carga própria na Lava Jato.
“Sem sombra de dúvidas, há mais de dez anos existe uma organização criminosa dentro da Dersa”, disse a procuradora da República Anamara Osório Silva, da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo.
Apesar dessa afirmação, diante das provas, ser incontestável, o que veio à tona agora não é o mesmo esquema de Paulo Vieira de Souza, o “Paulo Preto”, e outros operadores tucanos que tinham pouco a ver com o Alckmin.
A quadrilha denunciada agora, que cavou um rombo de, pelo menos, R$ 625 milhões nas obras do Rodoanel, é encabeçada pelo ex-secretário de Logística e Transportes de Alckmin – e ex-presidente da Dersa – Laurence Casagrande, preso em 21 de junho e denunciado pelo Ministério Público Federal, até agora, por fraude à licitação, falsidade ideológica e associação criminosa (v. HP 25/07/2018, PF indicia 12 por desvio de R$ 600 mi no Rodoanel).
O Rodoanel é a única obra de grande porte dos tucanos, desde que estão no governo de São Paulo (1995). Mais do que isso, é uma obra interminável, que começou há 20 anos (1998) e ninguém sabe quando acabará – o que é uma grande identidade com as obras do PT. Como estas, o Rodoanel parece uma obra feita – ou, melhor, iniciada – para roubar.
Daí os “aditivos” que provocaram majorações de preços, nas obras do Rodoanel, de até 1.060% (cf. íntegra da Denúncia, p. 18).
Quais empresas se locupletaram com os superfaturamentos e sobrepreços no Rodoanel?
A principal é a OAS, a mesma do triplex do Lula – e do cartel do bilhão, que passava propinas ao PT, e aos atuais apoiadores de Alckmin, para roubar a Petrobrás.
Outra é a espanhola Acciona, cujo principal lobista era um operador de nome Fernando Soares, conhecido como “Fernando Baiano”, condenado pelo juiz Sérgio Moro a 16 anos e um mês de prisão, no âmbito da Operação Lava Jato.
Em suma, são sempre os mesmos.
Dizia um escritor português, agoniado com a situação atual de seu país – e comparando-a com a época do salazarismo – que “só mudam as moscas, a m… é sempre a mesma”.
Pois, entre Lula e Alckmin, uma coisa é verdade: as moscas são as mesmas.
Como Lula está preso, essas moscas voejaram para Alckmin, do PSDB, partido de Aécio Neves – a quem Alckmin substituiu como presidente nacional da sigla – e segundo maior receptáculo das doações “oficiais” das empresas agarradas na Operação Lava Jato.
O PSDB, até agora, não expulsou nenhum envolvido em corrupção – nem Aécio Neves, flagrado quando pedia propina para Joesley Batista, da JBS.
Seria injusto, portanto, que falássemos nas moscas em torno de Alckmin, sem começar pelo PSDB.
Quanto ao PP, partido com maior número de réus na Lava Jato (é o único que conseguiu superar o PT), é o mesmo da época em que Janene e Youssef passaram sua tecnologia para os lulistas.
Já o PTB, de Roberto Jefferson e Cristiane Brasil, como se sabe, é muito diferente da época em que seu presidente, o mesmo Jefferson, recebia dinheiro do PT para apoiar Lula…
Condenado a 7 anos e 14 dias de cadeia por corrupção passiva e lavagem, Jefferson foi outro indultado por Dilma em 2015. Agora, ele descobriu que “é Geraldo Alckmin que o PTB vê como líder capaz de tudo, como Moisés no deserto a nos guiar à Terra Prometida. A identidade do PTB com Alckmin vai além das identidades nas reformas, nos une também o princípio da administração pública focada na cidadania”.
Como todo mundo sabe, Jefferson é um campeão da cidadania e da administração pública. O que ele não gosta é do deserto. Prefere a Terra Prometida dos cofres públicos.
Já sua filha, Cristiane Brasil, é investigada no STF por “comercialização de registros sindicais”. Proibida pelo ministro Luiz Edson Fachin de se encontrar com os outros investigados no mesmo inquérito, ela foi liberada pelo petista Dias Toffoli, para se encontrar com eles na convenção do PTB que apoiou Alckmin (cf. Cristiane Brasil imita PT e se diz perseguida pela Justiça).
Talvez porque a rede de criminosos seja a mesma, houve quem dissesse – inclusive na imprensa – que esses partidos foram apoiar Alckmin por articulação de Lula, que seria o “orientador” de Valdemar Costa Neto. Em troca, Alckmin, se eleito presidente, liberaria Lula e acabaria com a Lava Jato.
Não sabemos se isso é verdade – e, portanto, não o afirmamos. É algo por aí que Marina Silva quis dizer com “Alckmin é uma Dilma de calças” ou Ciro Gomes com “Valdemar está sendo orientado pelo Lula”.
Mas existe algo que, sem dúvida, é verdade: o principal interesse desses novos apoiadores de Alckmin é, tanto quanto Lula, escapar da Lava Jato e acabar com ela.
Ou será que o interesse desse pessoal é desenvolver o Brasil, combater a dominação do imperialismo e instalar o socialismo?
A começar pelo próprio partido de Alckmin, toda essa turma não tem outro projeto para o Brasil, senão o de acabar com a Lava Jato para roubar impunemente o dinheiro público e a propriedade pública.
É verdade que não são os únicos: afinal, qual é o projeto do PT?
Por isso, a suspeita de que Lula interferiu para que o centrão, e outros partidos além desses, apoiem Alckmin não é descabida. Até porque, a insistência de Lula na sua própria candidatura, significa facilitar a campanha de Alckmin.
Tudo isso são mais indícios do que provas, é verdade – ainda que muitos indícios, segundo alguns criminalistas, possam equivaler a uma prova.
Mas a questão é que este país está cansado de Alckmins e Lulas – e das moscas, sempre as mesmas, que os acompanham.
O que se pode esperar de quem é eleito com o apoio de bandidos – inclusive, talvez, o apoio tácito, ainda que camuflado, de Lula – senão proteger bandidos?
CARLOS LOPES