Pouca adesão, isolamento político, transtornos e possível perda de estrutura de defesa do PL, seu partido, levaram Bolsonaro a pedir o fim das arruaças
Com medo das consequências que os bloqueios de estradas, mantidos por seus milicianos, podem trazer aos problemas jurídicos que ele já tem, Bolsonaro divulgou um vídeo nesta quarta-feira (2) tentando convencê-los a desobstruir as vias. Já há casos de mulheres em trabalho de parto que ficaram presas, de falta de oxigênio para hospitais e de desabastecimento de supermercados.
Depois de dizer que também ficou decepcionado com o resultado das eleições, Bolsonaro pediu para que seus milicianos arruaceiros não pensem mal dele. “Não pensem mal de mim”, disse ele, pedindo que as estradas sejam liberadas.
O temor de Bolsonaro está justamente no fato dele perder o foro privilegiado a partir de janeiro, quando sair do Palácio do Planalto. Este, aliás, foi o principal motivo para ele negociar um cargo de assessor no PL e poder contar com os advogados do partido para defendê-lo de seus crimes.
No entanto, pequenos grupos de caminhoneiros financiados por empresários seguiram bloqueando as estradas e provocando ainda mais desgaste para Bolsonaro. Quando ele viu que as garantias oferecidas pelo PL, de escritório e bancadas de advogados, além de outras estruturas para defendê-lo quando sair do governo, estavam ameaçadas com a continuidade dos bloqueios, gravou o vídeo desta quarta-feira.
O silêncio de Bolsonaro por mais de 48 horas após a derrota para Lula nas urnas no domingo já estava sendo visto como uma espécie de senha para os insufladores do golpe. Entretanto, a pouca adesão aos protestos e o agravamento do isolamento político do governo com os bloqueios fizeram-no recuar. Ele teve que admitir, mesmo a contragosto, a derrota nas urnas durante a sua primeira manifestação no final da tarde desta terça-feira (1).
Nesta quarta-feira (2), grupos de bolsonaristas inconformados com a derrota eleitoral foram para as portas dos quarteis em algumas capitais pedindo para os militares se rebelarem contra o resultado das urnas. Não houve nenhum sinal de que eles apoiariam a empreitada golpista. Como foi Dia de Finados, ao invés de se dirigirem aos cemitérios para homenagear os mortos, os bolsonaristas decidiram homenagear o finado governo Bolsonaro, morto pelas urnas no último domingo. A manfestação ao final da tarde foi a água que faltava para apagar o “incêndio” bolsonarista.