Plano envolvia o uso de militares armados e a tomada de “estruturas estratégicas”, segundo descoberta da PF
O ex-presidente Jair Bolsonaro tinha pronto desde 2021 um plano de fuga do país que envolvia o uso de militares armados e a tomada de “estruturas estratégicas”.
O plano serviria “caso seu ataque ao poder Judiciário e ao regime democrático sofresse algum revés que colocasse sua liberdade em risco”, afirmou a PF.
No notebook do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, os investigadores encontraram um documento de 2021 que detalhava as ações necessárias para garantir a fuga de Bolsonaro. O plano era uma adaptação “da doutrina militar” e até tinha logos do Exército.
O documento encontrado falava sobre a RAFE (Rede de Auxílio à Fuga e Evasão) e LAFE (Linha de Auxílio à Fuga e Evasão), que são termos militares, para três situações: “STF [Supremo Tribunal Federal] interfere no Executivo”; “STF cassa a chapa para 2022”; e “STF (TSE) barra a PEC aprovada pelo Congresso do voto impresso”.
Em seguida, aponta qual seria a posição de Jair Bolsonaro: “Presidente decide não cumprir a decisão do STF – sem apoio formal do Exército”.
A primeira medida seria garantir a “proteção do presidente da República no [Palácio do] Planalto e Alvorada”. Para isso, seria necessário “cooptar militares do GSI [Gabinete de Segurança Institucional] que assim que acionado estejam ocupando posições chaves no Planalto/Alvorada”.
O plano ainda diz que seria necessário “ocupar Etta Estrg [estrutura estratégica, com impacto social, econômico ou político] como forma dissuasória para mostrar apoio ao Presidente”. A ideia era deixar uma estrutura “ECD [em condições de] exfiltrar o Presidente para fora do país”.
Outro passo descrito pelo documento era arrumar “armamento e munição ECD [em condições de uso] (providenciar cofre e deixar ‘ao alcance’)”.
Na avaliação da Polícia Federal, “um dos objetivos era a ocupação de estruturas estratégicas por militares que tivessem aderido ao intento golpista, para mostrar apoio ao então presidente Jair Bolsonaro e com isso, possivelmente, inibir qualquer ação do Estado decretada pelo Poder Judiciário”.
O último passo apontado no plano é “montar e operar uma RAFE [Rede de Auxílio à Fuga e Evasão]/LAFE [Linha de Auxílio à Fuga e Evasão] para exfiltrar o Pr para o exterior”.
Como explicaram os investigadores, “após garantir a segurança de Jair Bolsonar, os militares golpistas criariam uma rede de auxílio para acolher o ex-presidente e conduzi-lo para fora do território nacional”.
Esse documento demonstra que o governo Bolsonaro já tinha enfrentamentos com o Supremo Tribunal Federal planejados e calculados para levar a uma “ruptura institucional”. Em uma manifestação no dia 7 de setembro daquele ano, Jair Bolsonaro falou que não iria cumprir mais decisões do ministro Alexandre de Moraes.
“Apesar de não empregado no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado”, apontou a PF.
Em 2022, depois de perder as eleições para Lula e não conseguir o apoio das Forças Armadas para dar um golpe, Jair Bolsonaro “saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 08 de janeiro de 2023 (‘festa da Selma’)”, aponta o relatório que indicia o ex-presidente.