
Ex-presidente alertou que o “fracasso do plano de Milei”, com recente maxidesvalorização de 30% do peso, repercutirá de forma devastadora entre os trabalhadores e aposentados. “Quem acabará pagando é o povo argentino, com a miséria e a fome”, remarcou
A ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, denunciou o “fracasso do plano de Javier Milei” com a recente desvalorização de quase 30% do peso frente ao dólar e alertou que a medida terá impacto desastroso entre os trabalhadores e aposentados. Cristina afirmou que os “Caputo boys” – referência aos Chicago boys e ao ministro da Economia, Luis Caputo – “são gangues que atendem ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que dá dólares aos governos gorilas e quem acaba pagando por eles é o povo argentino, com a miséria e a fome”.
“O FMI te forçou e você se desvalorizou em quase 30%. Porque aquela coisa toda de ‘o dólar vai oscilar entre US$ 1.000 e US$ 1.400’…”, ironizou a líder peronista, é “algo que nunca chove, só transborda”. “Vocês fizeram uma bagunça no mesmo dia em que a inflação disparou 3,7%? Vamos lá!!! Vocês sabem que as pessoas na rua sentem algo diferente. E tudo isso com o dólar estagnado e o maior reajuste da história recente para aposentados, salários e províncias [Estados]”, acrescentou.
Em um comunicado, com letras maiúsculas, Cristina questionou: “Quer me dizer para que te serve a motosserra? Porque está claro que seu plano – se é que você tinha um – fracassou”. “E olha, eu te disse que o problema não eram os pesos… que o problema eram os dólares que você não têm e que teve que pedir emprestado ao Fundo. Pense só, ontem mesmo roubaram 400 milhões de dólares das reservas… O mesmo valor que é necessário para reconstruir Bahía Blanca!”, acrescentou. Cidade costeira a 650 quilômetros da capital, Bahia Blanca foi devastada em dezembro de 2023, quando um vendaval causou mortes, derrubou casas e danificou infraestruturas, e continua aguardando recursos para sua restauração.
O descaminho empreendido por Milei e sua gangue, assinalou, aponta para “tempos difíceis para aqueles que trabalham, para aqueles que produzem e que não têm como de se defender da austeridade e da especulação”, e reitera a necessidade da Argentina “retornar a uma direção nacional e racional, justa e, acima de tudo, humana”.
Sobre a vinda do Secretário do Tesouro dos Estados Unidos à Argentina, Cristina questionou o que “economista especialista em crescimento com ou sem dinheiro”: “E agora, o que você vai fazer”. E respondeu: “Na segunda-feira, você vai estender o tapete vermelho na Casa Rosada para pedir mais dólares a Scott Bessent, Secretário do Tesouro de Trump, que trabalhou com George Soros. Este será seu principal credor na próxima semana”.
“É o povo argentino quem pagará o preço de tuas decisões, de tua arrogância e do teu entreguismo”, reiterou a dirigente peronista, numa alusão à venda de dólares por mil pesos a algumas horas antes de uma desvalorização que leva a moeda a 1.400 pesos, o teto de um sistema de bandas.
Cristina Kirchner ainda frisou a forma “completamente delirante” com que “lê fluentemente, de uma forma zen”, o discurso sobre como encarar a conjuntura, “talvez obedecendo a algum ritual esotérico que os argentinos comuns desconhecem?”. “Que conversa é essa de você enfrentar a crise global desencadeada pelo seu ‘amigo’ Trump com mais ajustes? Sério? Você quer matar todos os argentinos?”, questionou.