“Sem auxílio emergencial as pessoas estão mais impelidas a trabalhar, mesmo com a piora da pandemia”, avalia economista da FGV
Sob o impacto da pandemia e sem auxílio emergencial, o número de trabalhadores na informalidade voltou a disparar. Uma análise dos dados da Pnad Contínua realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas em conjunto com a consultoria Idados apurou que, do terceiro para o quarto trimestre de 2020, houve um aumento de 6,8% no contingente de trabalhadores em atividades informais. Enquanto isso, a renda oriunda desse tipo de trabalho, já bastante inferior ao trabalho formal, caiu ainda mais: -2,6%.
“No auge da pandemia [em 2020], havia auxílio emergencial, mas ele primeiro foi reduzido e depois suspenso, sem retorno pelo menos até agora. Nessa situação, as pessoas estão mais impelidas a trabalhar, mesmo com a piora da pandemia, e o conta própria é uma forma de inserção mais fácil”, afirma o economista da FGV Bruno Ottoni. “Só que a atividade econômica no primeiro trimestre está mais fraca, tem menos gente circulando e comprando. Esse trabalhador por conta própria não vai conseguir auferir a mesma renda. Pelo menos o primeiro trimestre do ano deve ter mais trabalhadores por conta, com renda média menor”.
Os trabalhadores por conta própria são, em sua maioria, ambulantes, pessoas que vendem comida na rua, cabelereiros, motoristas de aplicativos, entregadores de delivery – todos que exercem suas atividades de forma precarizada, sem renda fixa, sem direitos. A maior parte não tem CNPJ nem registro de microempreendedor individual (MEI) e por isso são classificados como informais pela pesquisa do IBGE.
Pela impossibilidade desses trabalhadores realizarem suas atividades durante a pandemia – quer pelas restrições de circulação, quer pela queda geral na demanda – o auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado, que depois foi reduzido pela metade, garantiu que por alguns meses essas pessoas e suas famílias tivessem alguma renda para garantia de suas necessidades básicas. Isso provocou em um primeiro momento a redução do contingente de informais que agora, sem a renda emergencial, voltaram às ruas em situação de risco no momento mais crítico da pandemia, com mais de três mil mortes diárias.
Na quinta-feira, depois de deixar milhões de brasileiros em ajuda emergencial por três meses, Bolsonaro assinou a medida provisória que prevê um novo auxílio de apenas R$ 250, em média, para a metade dos que foram atendidos no ano passado. Sendo que, cerca de 40% vão receber apenas R$ 155, menos do que o valor do Bolsa Família, hoje em R$ 190.