Ele mesmo havia cortado a verba no valor de R$ 161 milhões que seria utilizada para finalizar a adutora. Depois de tocar acordeon e dar gargalhadas, ele abriu a torneira mas não tinha uma gota de água
Nos idos de 1992, o saudoso deputado Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB, afirmou, em entrevista no programa do Jô Soares, que o Brasil precisava exorcizar o “fantasma” (Collor) que ainda perambulava pelos salões do Palácio do Planalto, mas que já não era mais o presidente da República. Algo bastante semelhante ao que é vivido hoje no Brasil. Bolsonaro literalmente deixou o país à deriva. Ele não faz nada, só faz perambular pelo país, espalhando o vírus, arrumando confusão e divulgando fake news.
Foi o que aconteceu nesta quinta-feira (21). Ele foi a Pernambuco inaugurar uma obra, a adutora Ramal do Agreste, na cidade de Sertânia, que simplesmente não funciona. Ela deveria fornecer água para 2 milhões de pessoas, mas não tem uma gota de água sequer. E não tem, porque o próprio Bolsonaro vetou, em abril, o valor de R$ 161 milhões que seria utilizado para finalizar a obra. Os assessores esqueceram de avisá-lo dos cortes e ele, que não governa e só pensa em fazer campanha e demagogia, foi inaugurar a adutora seca.
Em nota, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), esclareceu que durante “todo o ano de 2021, nenhum único centavo foi repassado ao governo de Pernambuco para o andamento das adutoras”. Ou seja, enquanto Bolsonaro passeia o tempo todo, inaugurando obras inacabadas.
Ele segue fazendo demagogia enquanto o país afunda numa de suas piores crises sanitárias, econômicas, políticas e sociais da história do Brasil. A inflação está em disparada, o desemprego e o subemprego atingem 33 milhões de brasileiros e a fome está batendo às portas de 19 milhões de pessoas. Mais de 100 milhões em situação de insegurança alimentar, segundo o IBGE. No entanto, nada disso preocupa Bolsonaro, que vive passeando, arrumando brigas e fazendo intrigas.
Sem ter o que dizer sobre essa grande tragédia social vivida pelo povo, Bolsonaro resolveu bater na mesma tecla de sempre, dos ataques às vacinas e das agressões à CPI da Pandemia, que não o perdoou e acaba de produzir um relatório apontando pelo menos nove crimes cometidos por ele durante a crise sanitária.
Os crimes cometidos pelo presidente da República e apontados pela CPI são: 1) epidemia com resultado morte; 2) infração de medida sanitária preventiva; 3) charlatanismo; 4) incitação ao crime; 5) falsificação de documento particular; 6) emprego irregular de verbas públicas; 7) prevaricação; 8) crimes contra a humanidade; e 9) crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo). O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), rebateu nesta quinta-feira a declaração de Flávio Bolsonaro de que seu pai daria gargalhadas para o relatório. Aziz disse que “o riso dele é de nervoso, porque ele sabe que não vai escapar das punições”.
Tossindo o tempo todo e sem máscara, Bolsonaro disse, durante seu discurso, que não tomou a vacina e que não vai tomar. Voltou a dizer que usou cloroquina quando se infectou e conclamou os presentes a seguirem o seu exemplo. Zombou das vacinas dizendo que seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se vacinou e pegou Covid-19.
Neste mesmo dia as autoridades sanitárias do Amazonas divulgavam dados de que mais de 85% dos pacientes internados em UTI por Covid-19 nesta data não tomaram as duas doses da vacina contra o coronavírus. Ou seja, a vacina impede a progressão da doença e evita internações e mortes. Mas, para Bolsonaro, nada disso importa. Ele só pensa em seu charlatanismo.
Disse aos presentes à cerimônia que não chamassem o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Pandemia, de vagabundo, porque isso seria “um elogio” para ele. O ódio destilado pelo acusado contra o relator da CPI é perfeitamente compreensível. O relatório, lido na terça-feira (19), por Renan Calheiros, apresentou um conjunto probatório consistente apontando o envolvimento direto de Bolsonaro em crimes com penas de até 30 anos de cadeia. O resultado da atuação de Bolsonaro na pandemia foi colocar o país como campeão mundial de mortes por milhão de habitantes e o segundo do mundo em número absoluto de mortes. Tivesse o governo agido de forma diferente, dizem os cientistas, e mais de 400 mil mortes poderiam ser evitadas.
Cercado pelo relatório da CPI e pelo desastre de seu governo, Bolsonaro não consegue nem mesmo garantir os recursos mínimos para concluir as poucas obras que ele tenta inaugurar. Foi o caso da adutora seca de Pernambuco, mas é também a situação de seu “bolsa família fake”. Além de não garantir nem mesmo os recursos para pagar o valor que ele anunciou, como também, em sua justificativa para consegui-lo, transformou o programa, que era permanente, em programa temporário, que vai durar só até o final de 2022. Ou seja, mais demagógico e eleitoreiro do que isso é impossível.
Acossado também pelos caminhoneiros, que já marcaram até uma greve para o dia 1º de novembro, por conta da desastrosa política do governo de atrelar os preços dos combustíveis ao dólar e ao preço do barril de petróleo no mercado internacional, Bolsonaro também inventou mais uma falácia. Para não mexer em sua política criminosa de preços, que só beneficia os importadores de combustíveis e as multinacionais, ele prometeu uma “ajuda” para os caminhoneiros. Também não sabe como será e nem de onde vai sair o dinheiro. Fez isso porque os caminhoneiros mostraram que não estão brincando e até já pararam nesta quinta-feira (21) o transporte de combustíveis em seis estados.