Com o preço do botijão de gás acima dos R$ 110, as famílias brasileiras retrocederam no tempo usando lenha para cozinhar.
Em 2021, cerca de 24 milhões de toneladas de lenha foram usadas como fonte de energia nas residências. Este é o maior patamar desde 2009, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), compilados pelo site Poder360.
A lenha representou 26% da matriz energética residencial em 2021, ficando atrás apenas da eletricidade (45,4%). O gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido popularmente como “gás de cozinha” representou 23% do total.
Entre 2012 e 2016, o GLP foi a segunda fonte energética mais usada nas residências.
Em 2021, o botijão de gás de 13 kg acumulou alta de 37%, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). De janeiro até maio, o combustível registra alta de 7,91%. A disparada do preço do botijão reflete a danosa prática na Petrobrás de atrelar os preços internos dos combustíveis ao dólar e ao barril do petróleo no mercado internacional.
O levantamento aponta que, entre 2007 e 2013, o consumo de lenha para este tipo de prática estava em declínio no país. No entanto, com o advento, em 2016, de obrigar a Petrobrás a praticar os preços do mercado internacional, o uso da lenha para cozinhar voltou a crescer em números absolutos.
O coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, destaca que a trajetória de crescimento da lenha acompanha a redução do uso do GLP.
“Em condições econômicas ideais, o espaço ocupado pela lenha deveria ser ocupado pelo gás. O que houve a partir de 2016 foi, exatamente, a substituição do gás pela lenha”, afirmou Nozaki. “Isso foi provocado pela perda do poder de compra do salário e pelo aumento no preço do gás em função da PPI [Política de preço de paridade internacional (PPI)] adotada pela Petrobrás”, explicou.
De 2016 até maio deste ano, o preço médio do botijão saiu de R$ 74 para R$ 110,6 – em valores corrigidos pela inflação do período. Em maio, o custo do gás de cozinha representava 9,3% do salário mínimo.
Bolsonaro – que prometeu gás a R$ 35 durante a campanha eleitoral de 2018 – quer que os preços do botijão e demais combustíveis continuem dolarizados. Esta política garante uma alta lucratividade para os acionistas privados da Petrobrás – que na sua maioria são estrangeiros – e de importadores de derivados de petróleo.
Para manter os altos ganhos bilionários destes, Bolsonaro propõe reduzir a receita da União, Estados e municípios, por meio de zerar as alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos Estados e do PIS/Cofins.
Para Nozaki, a medida pode causar uma redução pouco expressiva, entre R$ 0,50 e R$ 0,80, no botijão de 13 Kg, mas que será rapidamente consumida por novos reajustes.
“O problema é que essa redução de centavos pode ser rapidamente perdida com novos reajustes feitos pela Petrobrás e uma parcela vai ser absorvida pelas margens das refinarias e distribuidoras”, disse.