Com prejuízo histórico, varejista aponta impacto da Selic nas vendas e nos empréstimos tomados e afirma: “juros mais baixos significam, em última análise, vendas em alta e inadimplência em baixa”
A queda nas vendas, inadimplência em alta e os juros elevados levaram o Magazine Luiza a fechar dois centros de distribuição desde março, localizados nas regiões Sul e Nordeste do país. De acordo com a empresa, que amargou um prejuízo líquido de R$ 302 milhões no segundo trimestre deste ano, uma alta de 123% ante os R$ 135 milhões de prejuízo de um ano antes, a decisão de fechar os centros de distribuição, assim como centrais de armazenagem, fazem parte de um conjunto de “ajustes na capacidade” da empresa, inclusive com demissão de funcionários.
As medidas foram anunciadas na terça-feira (15) em teleconferência de resultados pelo diretor financeiro Roberto Belíssimo.
Sob o comando da empresária Luiza Trajano, o Magazine Luiza fez questão de ressaltar em seu relatório os danos que os juros elevados vêm causando nas vendas e nos empréstimos tomados, destacando que cada ponto percentual de redução da Selic traz uma economia anual de mais de R$ 150 milhões nas operações da empresa.
“O impacto para o Magalu é significativo, sobretudo no que se refere às vendas de bens duráveis, com tíquetes mais altos e mais sensíveis às condições do crédito. Juros mais baixos significam, em última análise, vendas em alta e inadimplência em baixa”, diz a empresa.
Luiza Trajano, em evento do Instituto para Desenvolvimento do Varejo, realizado em 12 de junho último, frente a frente com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez duras críticas ao nível da taxa básica de juros (Selic), ainda em 13,75% ao ano naquela data, e cobrou a redução dos juros.
“Estamos tendo excesso de produto, as indústrias não têm onde colocar, nem sempre esse remédio amargo (juros altos) resolveu a inflação. Já tivemos muito remédio amargo, se estou defendendo é pela pequena e média empresa. Queria pedir, por favor, para dar um sinal de [que vai] baixar esses juros”, declarou Luiza Trajano, alertando que os juros do BC estão provocando uma “quebradeira” nas empresas.
Hoje a Selic está em 13,25%, depois do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduzir no início de agosto deste ano em apenas 0,5 ponto percentual a taxa que se manteve em 13,75% desde agosto do ano passado.
Não foram apenas as pequenas e médias empresas que Trajano acertadamente apontou como as mais atingidas pelos juros abusivos impostos pelo BC, que dos 2% a.a., de dois anos atrás, para os atuais 13,25% a.a., aumentaram 562%. Grandes varejistas como a própria Magazine Luiza e as Casas Bahia, sua principal concorrente, apresentaram prejuízos no semestre e estão em processos de reestruturação encolhendo suas operações.
O que pareceu ser, num primeiro momento, uma medida positiva, com mais tempo e análise mostra-se muito pouco ou quase nada, para alguma recuperação da economia. A Ata do Copon, divulgada no dia 9 deste mês, não poderia deixar isso mais explícito.
“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz trecho da Ata.
As projeções das instituições financeiras apontam para uma Selic chegue ao final do ano em 11,75% a.a. e projetam também o IPCA, índice de inflação oficial, em 4,84%. Nesse cenário, os bancos, e o rentismo que eles organizam, estariam ganhando ainda 7% de taxa de juros reais, mantendo-se entre as maiores do mundo.
É inviável uma economia nessas condições de juros, derrubando o investimento produtivo, aprofundando a concentração de renda, forçando maior endividamento do Estado e das famílias.
Não é à toa que as vendas do comércio varejista ficaram estagnadas em 0,0% na passagem de maio parra junho, depois de cair -0,1% em abril e -0,7% em maio, segundo pesquisa do IBGE.