Em cerimônia pelo Dia do Soldado – aniversário do Duque de Caxias, no dia 25 – o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, criticou a falta de “medidas socioeconômicas, para modificar os baixos índices de desenvolvimento humano, o que mantém o ambiente propício à proliferação da violência”.
“Apesar de admitirmos que as leis vigentes devam ser modificadas com urgência”, disse em sua Ordem do Dia o general Villas Bôas, “continuamos a proceder com naturalidade em face à barbárie de perder mais de 63.000 vidas por ano”.
A cerimônia, em frente ao Quartel-general do Exército, em Brasília, homenageou os militares mortos no Rio de Janeiro, durante a operação nas favelas do Alemão, da Penha e da Maré.
Escreveu o comandante do Exército:
“Há quatro dias, durante operações no Rio de Janeiro, perdemos o cabo Fabiano de Oliveira Santos e o soldado Marcus Vinícius Viana Ribeiro, ambos do 2º Batalhão de Infantaria Motorizada, além do soldado João Viktor da Silva, do 25º Batalhão de Infantaria Paraquedista.
“Suas mortes tiveram repercussão restrita, que nem de longe atingiram a indignação ou a consternação condizentes com os heróis que honraram seus compromissos de defender a Pátria e proteger a sociedade com o sacrifício da própria vida. Como eles, há soldados das três Forças Armadas que, desde a República, têm sacrificado suas vidas para que o futuro do Brasil seja diferente.
“É chegada a hora de dizer basta ao diversionismo, à radicalização retrógrada e à fragmentação social”.
Villas Bôas apontou os problemas que levaram à intervenção das Forças Armadas – contra a opinião de seus comandantes, em especial o próprio Comandante do Exército – em uma tarefa que é eminentemente policial:
“Somos um grande país, que não consegue vislumbrar um projeto para o seu futuro, nem, tampouco, identificar qual o papel a exercer no concerto das nações.
“Para superar tantos desafios, tornou-se frequente o emprego das Forças Armadas em missões variadas, como as de garantia da lei e da ordem, atendendo prontamente ao chamado de diversas Unidades da Federação.
“Atuamos no Rio Grande do Norte, no Espírito Santo e, particularmente, no Rio de Janeiro, onde a população alarmada deposita esperanças em uma intervenção que muitos, erroneamente, pensam ser militar”.
No entanto, disse o general, “passados seis meses, apesar do trabalho intenso de seus responsáveis, da aprovação do povo e de estatísticas que demonstram a diminuição dos níveis de criminalidade, o componente militar é, aparentemente, o único a engajar-se na missão.
“Enquanto isso, há soldados nas fronteiras, ainda que lhes faltem recursos para uma eficaz e rápida atuação.
“Há soldados em Pacaraima, porta de entrada da Venezuela para o Brasil, tentando minimizar uma tragédia humanitária, que está sendo acompanhada com preocupação pela comunidade internacional.
“Há soldados distribuindo água no semiárido nordestino há mais de 15 anos.
“Há soldados trabalhando na nossa infraestrutura, na distribuição de vacinas, e na garantia da votação e apuração.
“Soldados foram chamados para vistoriar presídios e superar a grave crise de abastecimento, só contornadas graças ao espírito conciliador que trazem dentro de si”.
A cerimônia foi iniciada com o toque de silêncio e as imagens dos militares mortos, projetadas em um telão. A Ordem do Dia foi lida pelo subtenente Osmar Crivelatti, Adjunto de Comando do Exército:
“Em 1º de Março de 1845, Caxias, então vencedor da Guerra dos Farrapos, celebrou a Paz de Ponche Verde. A conclamação final sintetizava seu espírito pacificador: ‘Abracemo-nos e unamo-nos, não peito a peito, mas ombro a ombro, em defesa da Pátria, que é a nossa mãe comum’, mostrando que somente a superação dos antigos e injustificáveis antagonismos abriria caminho para a construção de um futuro grandioso.
“Ao celebrarmos 215 anos de seu nascimento, nunca foi tão importante ao Brasil enaltecer as qualidades desse brasileiro exemplar.
“Os herdeiros de Caxias têm se superado, diariamente, para honrar seu legado, ao atuar, de forma anônima e abnegada, em benefício da população, onde e quando for preciso.
“Hoje, passados dois séculos de seu batismo de fogo, o espírito pacificador de Caxias, mais do que nunca, faz-se necessário ao Brasil.
“Vivemos uma era de conflitos e incertezas, na qual os individualismos se exacerbaram e o bem comum foi relegado a segundo plano.
“Perdemos a disciplina social, a noção de autoridade e o respeito às tradições e aos valores, o que nos tornou uma sociedade ideologizada, intolerante e fragmentada. Estamos nos infelicitando, diminuindo nossa autoestima e alterando nossa identidade.
“Urge retomar o espírito pacificador de Caxias, que soube, respeitando as diferenças, encontrar um caminho de sinergia e de coesão para o País.
“Meus comandados!
“É preciso que busquemos a união, com espírito público, sacrifício e ética.
“O Brasil tem pressa para reencontrar sua identidade.
“Que as inúmeras virtudes do ‘Duque de Ferro’ nos sirvam de inspiração.
“Que nessa hora, coberta de dúvidas, sejamos corajosos para nos despojarmos daquilo que nos desagrega.
“Nós, soldados da Pátria, não podemos temer. O Brasil e os brasileiros serão sempre a nossa servidão”.