“O então comandante do Exército, general Freire Gomes, disse que caso [Bolsonaro] tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”, relatou o brigadeiro Batista Júnior, comandante da Aeronáutica.
O relatório final da Polícia Federal sobre a trama golpista detalha o depoimento de ex-comandantes das Forças Armadas onde eles relataram terem sido apresentados a um plano de golpe pelo então presidente Jair Bolsonaro.
Os depoimentos revelam também a resistência dos comandantes a embarcar na intentona. O ex-comandante da Aeronáutica diz textualmente que se não fosse o general Freire Gomes, então comandante do Exército, o golpe teria se concretizado.
Generais do Exército ouvidos pelo site de notícias G1 esta semana demonstraram perplexidade diante da coordenação dos ataques a integrantes das Forças Armadas, constantes no inquérito tornado público na terça-feira (26).
Segundo esses generais, ficou claro que as ações tinham o mesmo modus operandi: contavam com a participação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, e tinham sinal verde do Palácio do Planalto. Entre as ações coordenadas, segundo a PF, estão a “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro”, documento de pressão do alto mando pela adesão ao golpe.
O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-Comandante do Exército, afirmou à Polícia Federal que se manifestou contra qualquer ação que impedisse a posse de Lula tanto diante de Bolsonaro como no Ministério da Defesa, em discussões reservadas com generais sobre o assunto. Após a derrota para Lula, Bolsonaro convocou reuniões no Palácio da Alvorada com a presença dos comandantes das Forças Armadas e de Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa.
Assim como Freire Gomes, o tenente-brigadeiro Baptista Jr, que ocupou o cargo de comandante da Aeronáutica, também se colocou contra o golpe de Bolsonaro e afirmou que, se não fosse a recusa do comandante do Exército, o golpe provavelmente teria ocorrido.
“Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta do decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante respondeu que sim; que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente a tentativa de Golpe de Estado teria se consumado”, afirmou Baptista Jr.
Ainda de acordo com o depoimento do ex-comandante da Aeronáutica, Bolsonaro teria sido alertado por Freire Gomes que, se continuasse com a tentativa de golpe de Estado, teria que prendê-lo. Os depoimentos dos dois foram decisivos, segundo a PF, para colocar Bolsonaro no centro do golpe que se planejava no Planalto.
“Em uma das reuniões dos comandantes das Forças com o então presidente após o segundo turno das eleições, depois de Jair Bolsonaro aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de institutos previstos na Constituição (GLO [Garantia da Lei e da Ordem], ou estado de defesa, ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, disse que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”, relatou.
Segundo o inquérito, Bolsonaro apresentou um documento que previa as hipóteses de instaurar Estado de defesa ou de sítio, além de dar início a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Freire Gomes disse em depoimento que se opôs aos planos golpistas de Bolsonaro. O comandante implicou diretamente o ex-presidente na tentativa de golpe.
“Em outra reunião no Palácio da Alvorada, em data em que não se recorda, o então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação da comissão de regularidade eleitoral para ‘apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral'”, diz o registro do depoimento do general Freire Gomes à PF.
Bolsonaro também teria chamado reservadamente no Alvorada o general Estevam Theophilo, comandante do Coter — comando das Operações Terrestres — com o intuito de mostrar o “firme propósito de implementar o que estava escrito”.
O general Theophilo disse que foi à reunião no palácio a mando de Freire Gomes. Contudo, Freire Gomes desmentiu essa informação e disse que a ordem não partiu dele.