“Queriam intimidá-lo, mas nunca conseguiram”, observou o vereador Edson Santos (PT), autor da homenagem post mortem
Na noite de quinta-feira (30), a Câmara Municipal do Rio de Janeiro concedeu o Título de Cidadão Honorário post mortem ao ex-vereador Antônio Carlos Nunes de Carvalho, o Tonico.
A concessão do título, de autoria do vereador Edson Santos (PT), aconteceu 30 anos após a homenagem ter sido proposta pela unanimidade dos vereadores à época, 1993 – ano da morte de Tonico -, mas nunca ter sido votada.
O texto foi então desengavetado pelo vereador Edson Santos e aprovado, desta vez, quase por unanimidade, pois Carlos Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, votou contra.
A homenagem aconteceu no Salão Nobre da Câmara Antônio Carlos de Carvalho, lotado de familiares, amigos e companheiros que estiveram ao seu lado no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), do qual era dirigente, no MDB, que ajudou a construir em oposição à ditadura, e em todos os momentos importantes da luta do povo brasileiro pela democracia, por melhores condições de vida e pela soberania do país.
Durante a homenagem, o vereador Edson Santos anunciou a presença dos filhos de Antônio Carlos: Flávia Assis Carvalho, Gabriel Camilo, Miguel Moraes, Joana Moraes e Marcelo Carvalho, além da ex-mulher de Tonico, a jornalista Olga Assis.
Também estavam presentes o ex-deputado estadual Raimundo de Oliveira, o vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz Hermano Castro, o vice-presidente estadual do PCdoB Irapuan Santos, Jorge Venâncio, do Comitê Central do PCdoB e assessor da Diretoria Financeira da Finep, a historiadora em Memória Social, Eladir dos Santos, e, representando a deputada federal Jandira Feghali, o membro da direção estadual do PCdoB, Carlos Henrique Tibiriçá, além de representantes de organizações sociais, sindicatos, entre outras personalidades políticas.
Após anunciar as presenças, Edson Santos disse que havia preparado um discurso por escrito, mas que o momento era de “tanta emoção”, que deixaria aos outros, falar sobre Tonico.
Mas no mesmo dia havia postado em suas redes sociais um pouco da trajetória do ex-vereador. “Em agosto de 1980, terroristas a serviço da ditadura explodiram uma bomba que destruiu o gabinete do vereador Antônio Carlos Carvalho e feriu gravemente vários de seus funcionários. Queriam intimidá-lo, mas nunca conseguiram. Com destacada atuação, seu mandato continuou a ser um foco de resistência da luta popular contra a ditadura. A entrega do título de cidadão honorário, ainda que tardia, é justo reconhecimento à coragem deste companheiro que jamais será esquecido”, escreveu Edson Santos.
“Com destacada atuação, seu mandato continuou a ser um foco de resistência da luta popular contra a ditadura”
Olga Assis agradeceu a presença de todos e, também muito emocionada, leu uma mensagem recebida do Coletivo Comunista sem Flores, uma entidade paraense: “Antônio Carlos de Carvalho tinha, na capacidade de identificar-se com o povo e de expressar as suas necessidades, uma das suas características principais. Sua militância, incluindo seu mandato ‘federal’ (em alusão a sua atuação política não apenas local, mas nacional), sabia unir à luta o enfrentamento dos problemas concretos dos trabalhadores com o combate à ditadura, e denunciar as mazelas do capitalismo, causa principal da barbárie que vivíamos e ainda vivemos”.
Em declaração à Hora do Povo, o vice-presidente estadual do PCdoB e amigo de longa data de Tonico, Irapuan Santos, disse que “esta homenagem ao vereador Antônio Carlos de Carvalho é uma bela demonstração de quem acredita na luta pela transformação do Brasil”.
“Saúdo o vereador Edson Santos pela iniciativa e aos 29 vereadores que em 1993 apoiaram a indicação. Assim como dirijo um olhar fraterno aos familiares do homenageado, aqui presentes. Tonico foi um dos grandes dirigentes do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, no qual muito jovem ingressou e permaneceu até o final dos seus dias. Era respeitado no Brasil inteiro e falava de igual para igual com os grandes líderes políticos de sua época”, disse Irapuan. “Seu exemplo de luta e coragem está totalmente incorporado à grande contribuição dada pelos melhores filhos da Nação. Viva Antônio Carlos de Carvalho! Viva o Brasil”, finalizou.
De acordo com Jorge Venâncio, “o Tonico teve duas características centrais, que marcaram a sua militância e a de todos que o admiravam e se espelhavam no seu exemplo: uma combatividade ímpar contra a ditadura, que se espraiou na determinação com que os brigadistas da Hora do Povo defendiam nas ruas o seu direito democrático de denunciar os crimes do regime; e uma enorme amplitude na soma de todas as forças que podiam, mesmo parcialmente, se opor ao autoritarismo, porque uma lição que ele nos deixa é que só uma frente ampla pode criar as condições para isolar e derrotar o fascismo”, disse.
Referindo-se às imagens de Tonico ao lado de figuras como Tancredo Neves, Teotônio Vilela e Fidel Castro, entre outras, que passavam em uma tela durante o evento, Jorge Venâncio complementou: “essas fotos marcantes com todas as lideranças democráticas da época são expressão disso. Seu exemplo ilumina até hoje as forças progressistas. Tonico presente!”, disse.
Os momentos musicais abrilhantados pelo Coral da Câmara Municipal, sob regência da pianista Cássia Borges, emocionaram os presentes com canções para lá de significativas em se tratando de Tonico: a música “Hoje”, do grande compositor Taiguara, que foi o primeiro editor de cultura da Hora do Povo; e “Canção da América”, de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Afinal, como afirma o texto da justificativa à concessão do Título de Cidadão, “nascido em Caxias, no Maranhão, Antônio Carlos de Carvalho engrandeceu a cidade do Rio de Janeiro com a sua atuação. (…) ‘Tonico’, como era chamado carinhosamente pelos amigos, era uma ‘unanimidade’. Querido por todos os companheiros, respeitado pelas correntes divergentes, era admirado por todos, pela sua coragem, firmeza ideológica, alegria de viver e a sua eterna esperança na mudança dos tempos em busca de uma vida melhor para o povo”.
ANA LÚCIA
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