
Reunidas na Confederação Industrial de Sindicatos da República Argentina (Cisra), liberanças responsabilizaram o governo pelo fechamento de 1.482 empresas de manufatura e a perda de 33 mil empregos no setor.
A Confederação Industrial de Sindicatos da República Argentina (Cisra) afirmou que no dois de setembro, dia do setor, “não há nada para comemorar” e responsabilizou a situação caótica a Milei, pois “o presidente se converteu em um grande promotor da indústria, mas daquela do resto do mundo”.
Em um documento duro e esclarecedor, a entidade rechaçou as “políticas de abertura indiscriminada, defasagem cambial, desmantelamento de instrumentos governamentais de política produtiva, juntamente com demissões, cortes salariais e tetos salariais, que estão impactando severamente as fábricas, seus trabalhadores e a estrutura produtiva nacional”.
Reunidos na sede do Sindicato dos Mecânicos e Trabalhadores Similares do Transporte Automotivo (Smata), as cerca de 40 entidades pertencentes à Cisra culparam o governo pela “combinação letal” de abertura e atraso cambial. O resultado disso implicou com que entre novembro de 2023 e maio de 2025 fossem fechadas 1.482 empresas de manufatura – das 49.622 em atividade – e na perda de 33.000 empregos no setor. Números que são ainda mais graves e sobem para 97.130 se forem incluídos os setores de construção e mineração.
As entidades assinalam que a situação é resultado de políticas oficiais que “privilegiam as finanças em detrimento da produção nacional e da mão de obra argentina”
O documento acordado pelas 37 organizações sindicais que compõem a Confederação indica que “a indústria argentina atravessa o período mais difícil das últimas décadas” e que, durante o período, “todos os 16 setores industriais sofreram contração”, sendo que nove dos 16 setores operam abaixo dos níveis atingidos no final de 2023.
MAIS DE QUATRO EM CADA DEZ MÁQUINAS PERMANECERAM OCIOSAS
Os dados disponíveis pintam um quadro extremamente grave e convergente em várias frentes. Em junho, a utilização da capacidade instalada atingiu 58,8%, o que significa que mais de quatro em cada dez máquinas permaneceram ociosas. Esse número representa uma queda de mais de 14% em relação a junho de 2024. Com exceção do refino de petróleo, a maioria dos setores industriais está registrando retração, com particular intensidade nos setores de produtos de tabaco e minerais não metálicos, que apresentaram queda superior a 25%.
Na avaliação das entidades, a situação é resultado de políticas oficiais que “privilegiam as finanças em detrimento da produção nacional e da mão de obra argentina”. Ao mesmo tempo, alertam para “o enorme impacto multiplicador” do setor “quando ele cresce”, mas observam que “o mesmo acontece quando ele encolhe, prejudicando todos os argentinos”.
“SEM INDÚSTRIA ARGENTINA NÃO HÁ EMPREGO”
Em sua apresentação “Sem indústria argentina não há emprego”, o diretor do Centro Argentino de Economia Política (Cepa), Hernán Letcher apontou que 95,7% das indústrias relataram “estar em uma situação pior do que no ano passado”. Além disso, 56,5% afirmaram estar “muito pior”. Portanto, 73,9% reconhecem ter tido que demitir funcionários, e seis em cada dez empresas decidiram reduzir seus turnos de produção.
A pesquisa também indica que 52,2% das indústrias afirmam manter “pelo menos 40% de sua capacidade instalada ociosa”. Como se não bastasse, apenas 4,3% do total acreditam que a situação permanecerá estável, enquanto o restante acredita que a situação vai piorar.
O documento divulgado pela Cisra bate de frente com a posição do ministro da Desregulamentação, Federico Sturzenegger, que sustenta que “a abertura gera empregos ao reduzir custos”. “Os dados contradizem isso: o que é criado é claramente menor do que o que é destruído e se concentra em comércio e serviços precários, informais ou baseados em plataformas”, sustenta.
Na mesma linha, alertam os dirigentes, “os salários reais da indústria estão abaixo dos níveis de novembro de 2023”. O que é mais grave, enfatizam, é que em “um país que depende principalmente do consumo como motor de sua produção está se condenando à estagnação com essa abordagem de política econômica”.
Entre outros participaram o dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos (UOM), Abel Furlán; o presidente do bloco de deputados da União pela Pátria, Germán Martínez, juntamente com as deputadas Blanca Osuna, Julia Strada e Carolina Yutrovic; o deputado e líder da Associação Bancária, Sergio Palazzo; e Vanesa Siley, deputada e líder do Sindicato dos Trabalhadores da Magistratura.