Nesta quinta-feira (16), começa o julgamento político do presidente Donald Trump no Senado dos EUA, após o envio, pela Câmara dos Deputados, na véspera, da acusação de abuso de poder e obstrução ao Congresso, depois de quase um mês de protelação.
A comitiva da Câmara foi recebida pelo líder da maioria, senador Mitch McConnell, que declarou que o Senado “está pronto” para receber os deputados designados ‘gerentes’, que atuarão como promotores da acusação.
O julgamento será dirigido pelo presidente da Suprema Corte, John Roberts e os 100 senadores se tornam o júri. O recebimento oficial do documento também irá ocorrer nesta quinta-feira, em outra cerimônia.
No último ato na Câmara, controlada pelos democratas, foram eleitos os sete promotores do processo: o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, que encabeçou a investigação inicial e será o acusador principal; o presidente do Comitê Judiciário da Câmara, Jerrold Nadler, cujo painel redigiu os artigos de impeachment; o presidente do Democratic Caucus, Hakeem Jeffries; e os deputados Jason Crow, Sylvia Garcia, Zoe Lofgren e Val Demings.
Jamais um presidente norte-americano até hoje foi afastado ao final do processo. Ainda assim, Trump terá a duvidosa honra de ser o terceiro presidente norte-americano na história a passar por isso. Na lei norte-americana, o presidente só é afastado após a decisão final do Senado.
Para ser afastado, 67 senadores (dois terços) terão de votar contra Trump – o que é altamente improvável com os republicanos tendo controle por 53 a 47. Precisaria que 20 senadores republicanos roessem a corda.
O que deixa Trump à vontade para insuflar seu eleitorado visando as eleições de novembro, enquanto chama o processo que a presidente da Câmara dirigiu de “farsa”, “caça às bruxas” e tentativa de ignorar o resultado das eleições que Hillary perdeu.
Uma cena e tanto: Pelosi assinou a papelada do impeachment com várias canetas que, dizem os comentários, serão leiloadas ou presenteadas. Depois, seguiram em séquito até o Senado. Não sem antes Pelosi ter pespegado duas ou três frases, para ficarem para sua biografia. Como era “triste e trágico” que as ações de Trump “para comprometer a segurança nacional” [em Kiev?] houvessem forçado os deputados ao impeachment. E que iriam “fazer história” ao atravessar o corredor [do Congresso] para entregar os artigos de impeachment.
Na Câmara, a aprovação do envio das acusações ao Senado foi por 228 a 193, inteiramente por linhas partidárias. Todos os deputados republicanos votaram contra e todos os democratas a favor, mais uma independente.
Não é difícil prever que, no Senado, a menos que apareça aquela famosa figura do imaginário norte-americano, a “arma fumegante”, a votação vai ser nos mesmos parâmetros.
Com tantas crimes de que indiciar Trump – crianças separadas dos pais, incitação à xenofobia, tratados imprescindíveis rasgados, ocultação de imposto de renda e, agora, o assassinato do general Suleimani à luz do dia -, os democratas acharam por bem investigá-lo por um telefonema ao novo presidente ucraniano em julho, Volodymyr Zelensky.
Em que, famosamente, solicitara a “interferência de uma potência estrangeira” para fins pessoais, a Ucrânia pós-Maidan, a mais nova versão do “Rabo abana o cachorro”.
A “contrapartida” oferecida por Mr. Presidente era a liberação de uma ajuda militar de quase US$ 400 milhões, prometida mas retida, e um magnânimo convite visitá-lo na Casa Branca.
Em troca, a investigação da interferência do antigo governo de Kiev no grampo do Diretório Nacional Democrata (base do affair Russiagate?) e também da corrupção envolvendo o ex-vice de Obama, Joe Biden, e seu filho, agraciado depois do golpe de fevereiro de 2014 com uma diretoria na empresa de gás de um oligarca ucraniano.
Acusação desencadeada a partir do relato de um agente da CIA que ouvira outros agentes da CIA chocados com o telefonema. O abuso de poder ficava caracterizado pelo fato de que, na época do telefonema Biden já era um dos principais pré-candidatos democratas à presidência.
A acusação de obstrução do Congresso se refere à ordem de Trump aos seus auxiliares na Casa Branca para não deporem no parlamento sobre o caso e pela recusa a entregar documentos relativos à investigação.
Falta ver se o Senado admitirá testemunhas ou examinará as mais recentes digitais do advogado faz-tudo de Trump, Rudy Giuliani. John Bolton, o ex-conselheiro de Segurança Nacional, está sequioso por falar.
A.P.