A nova “base aliada” deverá reproduzir o amplo movimento democrático que se formou durante a campanha e que levou à vitória da democracia sobre o obscurantismo e a barbárie representada pelo bolsonarismo
A equipe do presidente da República eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), iniciou as articulações para formar uma base aliada no Congresso Nacional. Esta base deverá reproduzir o amplo movimento democrático e antifascista que se formou durante a campanha e que levou à vitória da democracia sobre o obscurantismo e a barbárie representada pelo bolsonarismo.
AQUI CABE TODO MUNDO QUE DEFENDE A DEMOCRACIA
Como dizia Geraldo Alckmin, vice de Lula e coordenador da equipe de transição de governo, durante a campanha, “aqui cabe todo mundo que defende a democracia”. A intenção inicial dessas articulações é que se somem aos dez partidos da coligação (PT, PSB, PCdoB, REDE, PSOL, PROS, SOLIDARIEDADE, AGIR, PV e AVANTE ) que elegeu Lula, o MDB, o PSDB, o União Brasil, o PDT, o PSD e o Cidadania. Há espaço para ampliar ainda mais. A ordem é isolar o fascismo.
A construção de uma base sólida será decisiva para que o novo governo consiga colocar em prática um vigoroso programa de reconstrução nacional e de recuperação da cidadania vilipendiada pelo bolsonarismo.
Garantida a democracia, os primeiros passos do novo governo serão a garantia de recursos emergenciais para os programas de combate à fome e à miséria, o aumento real do salário mínimo e a retomada de obras paradas com a criação imediata de milhões de empregos.
Lula já anunciou diversas vezes na campanha que a sua ideia fixa e sua missão de vida é criar empregos. Ele anunciou que, assim que tomar posse, logo na primeira semana de janeiro, convidará uma reunião com todos os governadores eleitos do país para discutir as obras prioritárias de cada unidade da Federação. Esse será um passo importante na restauração de federação, que foi muito agredida e desrespeitada durante a gestão Bolsonaro.
Segundo ele, os estados apontarão as obras estratégicas a serem retomadas ou iniciadas. Ele destacou também durante a campanha que o seu governo entregou cerca de 13,5 mil obras durante o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e que outras 13 mil foram projetadas, orçadas e depois interrompidas. Segundo Lula, muitas dessas obras podem ser retomadas imediatamente.
SIMONE TEBET FOI DECISIVA
O MDB cumpriu um papel muito importante na luta contra o fascismo nesta eleição. O apoio da senadora do partido e presidenciável Simone Tebet no segundo turno foi decisivo para a vitória de Lula. Nada mais natural que o partido, e a própria Simone, participem ativamente do novo governo. Nos bastidores, dirigentes emedebistas têm sinalizado interesse por Educação, Minas e Energia, Transportes e Integração Nacional.
Líderes históricos do PSDB e do Cidadania, como Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e Roberto Freire engrossaram a grande frente democrática que foi vitoriosa no último domingo. Caso Lula e Alckmin decidam acomodar a Federação PSDB/Cidadania, são diversos os nomes desta federação que podem ajudar no governo de reconstrução nacional. Diversos economistas de renome do PSDB, entre eles André Lara Resende, Edmar Bacha, Pérsio Arida e outros, apoiaram Lula na campanha eleitoral.
Assim também ocorre com o União Brasil e o PSD, este último, inclusive, o partido que comanda o Senado Federal. A manutenção de uma política ampla e democrática de reconstrução nacional, conduzida com habilidade, será o caminho para isolar o bolsonarismo.
Os partidos que as urnas jogaram na oposição ao governo Lula – majoritariamente PL, PP e Republicanos – tanto na Câmara como no Senado, não têm unidade para agirem em bloco. A tendência é que eles se dividam. Tirando os parlamentares mais fascistas, os demais eleitos por essas siglas tendem a ser atraídos para uma convivência democrática com a nova administração. Isso, sem dúvida, exigirá maior habilidade, firmeza e amplitude na condução da política e da economia.
ISOLAR O FASCISMO
É geral a avaliação de que dificilmente, os bolsonaristas, sendo minoria no interior da oposição, teriam força política suficiente para levar as bancadas desses partidos para uma postura intransigente ou para a oposição radical. A tendência é que os chamados “pragmáticos”, que são maioria nesses partidos, especialmente na Câmara, liderem essas bancadas e as liberem em votações relevantes.
O que unirá a base aliada será uma pauta democrática e nacional desenvolvimentista bem conduzida. A oposição mais radical se reunirá em torno de uma pauta antidemocrática, recessiva, submissa a interesses internacionais, entreguista e presa à uma narrativa distorcida de costumes. O governo terá como desafio um diálogo amplo com a sociedade e, principalmente, com o Congresso Nacional, buscando sempre se pautar pelo equilíbrio e por objetivos nacionais bem definidos.
O cenário internacional é propício a que o Brasil se desenvolva de forma autônoma e exuberante. A janela de oportunidades que se abre com a crise vivida pelos principais centros econômicos mundiais é muito grande. O Brasil tem uma tradição de se relacionar bem com todos os países do mundo.
O profundo desarranjo da cadeia global de suprimentos e serviços, provocado pela guerra da OTAN com a Rússia e pela disputa de hegemonia entre EUA e China abre uma avenida para um país com o tamanho e as potencialidades do Brasil. É só saber aproveitar bem as oportunidades. Navegar com firmeza e habilidade neste mar revolto em que o mundo mergulhou será a base da construção e manutenção da frente ampla que reconstruirá o Brasil.
S.C.