Taxas ultrapassam 70%, afirmam entidades
Na segunda-feira (30), associações que representam grandes varejistas, shopping centers e lojistas enviaram cartas ao Ministério da Economia e ao Banco Central (BC) em que denunciam que os bancos aumentaram “expressivamente as taxas de juros”, em meio à pandemia do coronavírus. Segundo as entidades, as taxas cobradas pelos bancos ultrapassam 70%, em alguns casos.
Em ambas as cartas, as entidades denunciam que desde o início da crise os bancos promoveram “aumento expressivo das taxas, com médias superiores a 50% e, em alguns casos, acima de 70% em operações habituais do varejo, como capital de giro, conta garantida, antecipação de recebíveis, risco sacado, empréstimos em moeda estrangeira, entre outras operações ”, diz o texto enviado ao BC.
Entre as entidades que assinam os documentos estão: Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que representa cerca de 400 empresas – Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), com 70 associados – Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), que representa 27 federações estaduais de associações comerciais – Associação Brasileira de Franchising (ABF), maior entidade do setor de franquias – e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Na carta enviada ao ministro da Economia, as entidades solicitaram que o BC atue para evitar uma “elevação desmedida dos juros”, e haja com medidas para impedir que os bancos realizem “solicitações desproporcionais de garantias que inviabilizam o acesso às operações de crédito já existentes no mercado”.
Segundo às entidades, os aumentos nas taxas já foram verificados em todos os modelos de empresas – grande, médio e pequeno porte.
“Houve um aumento mesmo em linhas de risco quase zero, como recebíveis. Já recomendamos na carta opções para aumentar a liquidez do mercado”, afirma o presidente da Abrasce, Glauco Humai, ao Valor.
Em 20 de fevereiro o BC anunciou a redução da alíquota de compulsório – reserva obrigatória recolhida dos depósitos bancários – que incide sobre os recursos a prazo, de 31% para 25%, liberando R$ 49 bilhões de recursos para os bancos emprestarem. Em março, foi feito novo anúncio de redução do compulsório para injetar mais recursos nos bancos para que estes pudessem emprestar às empresas como umas das formas delas enfrentarem a crise do coronavírus. Por meio de nota, o BC anunciou na segunda-feira (23/3) a redução do compulsório sobre recursos a prazo, de 25% para 17%, mais R$ 68 bilhões seriam liberados.
Empresários de vários segmentos já vinham denunciando que, além de aumentarem os juros, os bancos estavam reduzindo os prazos de quitação dos empréstimos.
Além da denúncia do comércio varejista, as entidades pedirem ao governo novas medidas de urgência que possam frear os efeitos da Covid-19 no setor.
Ao presidente do BC as entidades pediram que sejam criadas linhas de crédito específicas para franquias, a serem pagas em 60 meses e com carência de dois anos, além de liberação dos recursos do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas mantidos pelo Sebrae para uso como capital de giro.
Para o Ministério da Economia, as associações solicitam permissão para compensar créditos de tributos federais por débitos previdenciários em aberto, refinanciamento de impostos federais e suspensão de pagamento de PIS e Cofins por 80 dias, para quitá-los em 2021 em 12 parcelas, sem juros.
“Entendemos que há pacotes sendo lançados pelo governo e, comparado com o cenário de uma semana atrás, tivemos avanços. Mas falta uma coordenação geral, falta unidade. Temos tido contato permanente com o Carlos da Costa [secretário especial de produtividade, emprego e competitividade do Ministério da Economia], mas não há uma posição clara daquilo inicialmente proposto por nós. Nós entendemos o volume de demandas agora, mas sem isso, não há planejamento”, disse Humai.