“A inflação do jeito que está e o remédio para combatê-la, que é o aumento dos juros, compõem um cenário de quarto trimestre preocupante para o varejo”, aponta CNC
A combinação inflação, renda achatada e juros altos – receita que tem deteriorado a economia do país ao longo deste ano – vai custar caro para o comércio. Um estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio) estima perdas de R$ 44,7 bilhões para o setor no quarto trimestre – período do ano tipicamente marcado pelo crescimento das vendas por conta do Natal e promoções da Black Friday. O valor é uma revisão do cenário que o setor projetava no início do ano, quando o avanço da vacinação e a consequente queda do número de infectados pela Covid-19 era uma promessa de dias melhores para a economia do país.
Neste meio tempo, contudo, a inflação disparou e atingiu níveis recordes, principalmente pressionada pelos preços administrados pelo governo. Com o desemprego também nas alturas – além do corte nos programas de assistência social -, as rendas das famílias foram corroídas. Enquanto ninguém tem dinheiro nem para as despesas do mês, a solução encontrada pela equipe econômica da gestão Bolsonaro foi aumentar os juros, ou seja, apertar ainda mais as contas.
“A reversão do quadro foi muito rápida: a inflação do jeito que está e o remédio para combatê-la, que é o aumento dos juros, compõem um cenário de quarto trimestre preocupante para o varejo”, afirma o economista-chefe da CNC e responsável pelo estudo, Fabio Bentes. O estudo foi encomendado e divulgado pelo Estadão na terça-feira (23) e prevê que a receita do comércio caia 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado, somando R$ 747,3 bilhões.
O comércio varejista já não vai bem. De acordo com os dados da pesquisa mensal do setor realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas caíram 1,3%, em setembro ante agosto, e 5,5% sobre o mesmo período do ano passado, quando nem mesmo existia vacina. Os resultados, também de queda, da indústria e dos serviços terminam de compor o cenário de grave crise.
Acumulando avanço de 10,67% até outubro e impactando fatalmente no consumo, a inflação será responsável por 70% do que o varejo perderá no último trimestre do ano.
“A disparada da inflação foi o principal fator para a piora das expectativas de vendas no quarto trimestre”, completa Bentes. A projeção leva em conta que, com o encarecimento da comida, do gás, da energia e dos combustíveis, as famílias não terão nenhuma “margem” para as compras de fim de ano. Já as vendas a prazo se tornam inviáveis com o avanço dos juros: a taxa básica (Selic) subiu para 9,25%, levando os juros do crediário a 44% ao ano e o rotativo do cartão se crédito a 339,5%.