Taxa de inflação das famílias de renda muito baixa é de 10,63%, com disparada nos preços dos alimentos, energia elétrica e gás de cozinha
O Brasil vive uma grave crise inflacionária, com a variação média de preços atingindo 9,68% em 12 meses até agosto. Para os mais pobres, cujo consumo é baseado em produtos de primeira necessidade – como alimentos e gás de cozinha – a pressão é ainda maior. A pesquisa mensal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que avalia o impacto da inflação nas diferentes classes sociais divulgada nesta quarta-feira (15), mostra que a variação de preços sentida pelas famílias de renda muito baixa é de 10,63% nos 12 meses até agosto.
O que mais pesou no bolso do consumidor, chegando ao extremo de inviabilizar parte dos brasileiros a consumir itens indispensáveis da sua alimentação diária foram: alimentos em domicílio, cujo avanço foi de 16,6%; a energia elétrica, que teve aumento de 21,1% em 12 meses; o gás de botijão, com 31,7% de aumento; além do avanço dos preços nos medicamentos, de 5,6%. O instituto ressalta que a inflação alta dos alimentos, sobretudo, foi determinante para o impacto nas famílias das três primeiras faixas de renda pesquisadas.
O Ipea destaca o aumento de itens importantes como o do frango (4,5%) e dos ovos (1,6%), que antes substituíam a carne de boi, a alta da batata (20%), do açúcar (4,6%) e do café (7,6%).
“Os alimentos, ao contrário do que era esperado, voltaram a impactar a inflação, principalmente para os mais pobres, e não era imaginado um quadro tão ruim para a energia elétrica”, afirma a pesquisadora responsável pelo estudo, Maria Andreia Parente Lameiras, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea.
Pelos critérios do Ipea, as famílias de renda muito baixa são aquelas com rendimento domiciliar inferior a R$ 1.808,79 por mês. Entre os mais ricos, o avanço nos preços foi de 8,04% no acumulado até o mês passado. O grupo de renda alta é formado por famílias com rendimento domiciliar superior a R$ 17.764,49 por mês.
“É um quadro de pressão inflacionária, que ainda está maior para a faixa de renda mais baixa. E as perspectivas não são muito animadoras para o final do ano”, completa Maria Andreia.
Renda caiu 9,4% na pandemia
A Fundação Getúlio Vargas (FGV-Social) apresentou recentemente estudo que mostra que a renda média do brasileiro se encontra hoje -9,4% abaixo dos níveis do final de 2019. Para a metade da população considerada pobre, a perda da renda individual dobra a média: ganha-se 21,5% menos em 2021 devido ao crescimento do desemprego e do desalento.
A combinação de desemprego e inflação tiveram importantes “consequências distributivas”, diz a FGV-Social. “Nos 12 meses terminados em julho de 2021 a inflação dos pobres foi 10,05%, 3 pontos de percentagem maior que a inflação da alta renda”, diz o estudo, citando os dados da pesquisa do Ipea do mês anterior.
“Ele se deu em função do maior aumento do preço de alimentos e do gás de cozinha entre outros elementos que tem maior peso na cesta de consumo dos mais pobres”.