
Um retrato de um menino palestino de nove anos que perdeu os dois braços em um bombardeio israelense em Gaza foi premiado nesta quinta-feira (17) como a foto do ano de 2025 do concurso World Press Photo
A foto, da palestina Samar Abu Elouf para o The New York Times, mostra o menino Mahmoud Ajjour, que teve um braço decepado e outro mutilado por um ataque israelense na Cidade de Gaza, em março de 2024. É a premiação mais importante no fotojornalismo e existe há 70 anos.
Em relato para a World Press Photo Foundation, a fotógrafa contou que quando Mahmoud percebeu que teria os dois braços amputados, ele disse à sua mãe: “como eu vou te abraçar agora?”
Durante o ataque, ao perceber que estava ferido, Mahmoud pediu à mãe para deixá-lo para trás e levar sua irmã. “Ele temia pelas suas vidas devido à intensidade do bombardeio. Mas sua mãe se negou a ir e permaneceu ao seu lado”, acrescentou Samar.
“Em Gaza, eles estão amputando braços sem medicação. Imagine seu filho passando por isso”, observou a premiada fotógrafa.
Agora, o menino mutilado pela guerra colonial de Netanyahu está aprendendo a usar o celular, escrever e abrir portas com os pés e sonha em conseguir próteses e viver como qualquer outra criança.
A Foto do Ano de 2025 faz parte de uma reportagem sobre os poucos palestinos gravemente feridos que conseguiram sair de Gaza para ter tratamento médico.
“Tem algo na expressão [do menino] que é muito melancólica e triste. Quando você começa a ver isso na expressão dele, para mim, pelo menos, eu desço pela imagem e fico horrorizada ao ver que o menino não tem braços. Eu acho que essa é uma foto que você consegue entrar facilmente. E ela é incrivelmente impactante e aterrorizante, francamente.”, disse a presidente do júri global do World Press Photo, Lucy Conticello.
Samar Abu Elouf nasceu em Gaza, mas foi para Doha em dezembro de 2023. Ela mora no mesmo prédio que Mahmoud e outras famílias que também fugiram de Gaza.
“Eu fico muito feliz que minha fotografia conseguiu chegar ao mundo todo, apesar da situação em Gaza ainda ser muito difícil. Sair de Gaza não foi uma decisão fácil para mim, eu achei que meu papel como fotojornalista tinha acabado. Mas eu sabia que precisava continuar porque a guerra ainda está acontecendo, ainda não acabou. Daqui, eu comecei a pesquisar. Eu queria fazer algo por aqueles que buscam refúgio e queria contar a história deles”.
Em um momento em que o regime de Netanyahu reabre sua “Nakba” em Gaza, enquanto nos EUA o trumpismo atualiza o macarthismo perseguindo estudantes que se manifestaram contra o genocídio de palestinos perpetrado por Israel, essa premiação é um estímulo à denúncia e à resistência.
Segundo a organização humanitária Save the Children, “mais de 10 crianças, em média, perdem uma ou ambas as pernas todos os dias em Gaza”, com base nos números da ONU. Em dezembro passado, o porta-voz da UNICEF, James Elder, após retornar de Gaza, disse que cerca de 1.000 crianças palestinas tinham perdido uma ou ambas as pernas. Já o número de crianças palestinas mortas beira os 20.000.