
“Neste país que cultiva tanto que ninguém é mais que ninguém, Mujica personificou isso de uma forma maravilhosa”, afirmou o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, destacando a grandeza do ex-presidente, líder do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros e da Frente Ampla
Acompanhado por uma multidão e escoltado por um cordão humano vestido de luto, o cortejo fúnebre de Pepe Mujica partiu esta quarta-feira da Torre Executiva de Montevidéu ao Palácio Legislativo, onde o “companheiro e amigo” dos uruguaios será velado. Ao lado da viúva de Mujica, Lucía Topolansky, o atual presidente, Yamandú Orsi, colocou a bandeira nacional sobre o féretro, transportado em uma carroça.
“Neste país que cultiva tanto que ninguém é mais que ninguém, Pepe Mujica personificou isso de uma forma maravilhosa. Aquele contato tão simples, tão comum. Ele era um igual, então, daí vinha a grandeza de alguém que estabelecia metas e era capaz de dialogar com um rei e um trabalhador de fazenda de leite”, afirmou o presidente.
Para Orsi, “há questões de empatia e carisma” que fundamentam o apelo do comandante à militância, que vem da grandeza como enfrentou a ditadura como líder do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros ou na reconstrução do país com a Frente Ampla.
O presidente frisou que Mujica abordou os mais variados temas e, no final, “falou sobre ciência, ciências da vida, natureza”. “Ele sempre ofereceu uma perspectiva geopolítica bastante ampla, assim como o estudo aprofundado que fez nos últimos anos sobre biologia”, acrescentou.
MAR DE APLAUSOS E SAUDAÇÕES
Entre aplausos e saudações, o cortejo ganhou a avenida 18 de julho, a principal da capital, numa simbólica marcha até as sedes dos Tupamaros e da Frente Ampla, ambas no centro de Montevidéu.
Em frente à carroça, centenas de ativistas do Movimento de Participação Popular, setor histórico da Frente Ampla criado por Mujica, desfilaram vestidos de preto com uma camiseta dizendo: “Não vou embora, estou chegando”.
Esta frase foi proferida pelo comandante em 1º de março de 2015, quando deixou a presidência do país após cinco anos. “Não vou embora, estou chegando. Vou embora com meu último suspiro e, onde quer que eu esteja, estarei lá para vocês, estarei com vocês, porque essa é a maneira mais elevada de encarar a vida. Obrigado, queridos”, sublinhou.
“Talvez para a maioria das pessoas, Mujica não seja o guerrilheiro que passou 14 anos preso nas masmorras de uma ditadura militar patrocinada por Washington, nem o líder moderado do partido, senador, ministro e presidente que governou como líder de uma bem chamada Frente Ampla, na qual combatentes veteranos como ele trabalharam lado a lado com tecnocratas que levam a palavra ‘povo’ com desconfiança. Para essa maioria, Pepe é um exemplo antes de ser governante, um forjador de frases precisas antes de ser chefe de Estado”, sintetizou o editorial do mexicano La Jornada.
Mujica faleceu aos 89 anos após uma longa batalha contra um câncer de esôfago que se espalhou para o fígado. Seu estilo de vida simples, sua pregação anticonsumista e seu legado político e ideológico fizeram dele uma referência contra a extrema-direita.
O velório permanecerá aberto até a meia-noite desta quarta, sendo retomado na quinta-feira às 8 horas quando a despedida pública continuará até a tarde, com a chegada do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que retorna da China.