Queda nos recursos da educação é a maior desde 1992 e governo quer aprofundar ainda mais o arrocho no próximo ano
Com o lema “Unidade pela educação pública”, milhares de estudantes e professores universitários entoaram o hino nacional argentino antes de tomar as ruas de Buenos Aires, nesta quarta-feira (16), para exigir um basta nos gigantescos cortes no Orçamento de 2025 e nas agressões fascistas de Milei a seus oponentes.
Conforme apurado, o investimento na educação entrou em colapso no último ano quando o governo duplicou o corte geral do gasto público para garantir a drenagem de recursos ao capital financeiro, sob o discurso da “austeridade”.
Segundo a Federação Universitária Argentina (FUA), a Frente Sindical (integrada por professores e funcionários), e o Conselho Interuniversitário Nacional (CIN) não há registro de nenhuma queda de investimentos tão profunda no setor educacional desde 1992. O ano foi de colapso, todos recordam, pois estavam mergulhados sob o desgoverno de Carlos Menem. Agora, alertam, com o pacote neoliberal em vigor, as perspectivas para 2025 são ainda mais sombrias.
A pobreza já atinge 52,9% da população, é a maior em duas décadas, e a indigência – pobreza extrema caracterizada pela desnutrição – passou de 9,5% no final do ano passado para 20% em agosto. O desemprego dispara, assim como o arrocho salarial e desaparecem, da noite para o dia, direitos sociais e trabalhistas historicamente conquistados.
Dirigente da Federação de Docentes das Universidades (Fedun), Daniel Ricci, destacou a necessidade de recuperar as perdas salariais de 63,5% – que se agravam com a inflação – e o Fundo Nacional de Incentivo Docente, complemento remunerativo abandonado pelo governo.
Na segunda-feira (14), incentivados pelo discurso raivoso da ministra da Segurança, Patricia Bullrich – que chamou os universitários de “delinquentes” e “criminosos” -, um grupo de marginais infiltrou-se numa assembleia da Universidade de Quilmes e jogou gás pimenta nos participantes. Com o mesmo veneno, os arruaceiros repetiram a conduta covarde das tropas arregimentadas por Milei contra idosos, mulheres e crianças, como já foi fartamente testemunhado pelo jornal Página12. No caso de Quilmes, 23 pessoas precisaram de atendimento médico.
GOVERNO DA PERUCA E DA MOTOSSERRA
Ridicularizando o governo da peruca e da motosserra, os manifestantes compareceram nesta quarta com faixas, cartazes e bumbos, na “Marcha das Velas”. Exigindo respeito e diálogo, responderam às provocações da ministra que disse que estariam armados até com “coquetéis molotov”. “Tragam a peruca do Milei, para ele ver que essa cidade não muda de ideia, ela luta e luta pela educação”, entoou a multidão, fortalecendo as ocupações, vigílias e assembleias nas dezenas de universidades de todo o país.
“Fazemos um chamado ao governo para que pare a violência, com as declarações que a incentivam e com as expressões nas redes sociais que, posteriormente, se expressam nas ruas”, afirmou a presidenta da FUA, Piera Fernández De Piccoli.
O secretário geral da Associação dos Docentes da Universidade de Buenos Aires (Aduba), Emiliano Cagnacci, reforçou a cobrança e exigiu responsabilidade de Milei. “Há discursos hostis que o que fazem é agravar o conflito e nós não queremos aumentá-lo. Há dez meses que o governo nos empurra a isso. Temos que falar do arrocho, do atraso dos salários, e o governo diz falsidades que não somam, só servem para levar confusão à comunidade com mentiras”.
Defendendo a “universidade pública e gratuita”, a ex-presidente Cristina Kirchner condenou o governo da “odiologia”. “São teóricos e práticos da odiologia. Isso se vê nas ruas, em como reprimem, como vão à Universidade de Quilmes para dispersar uma assembleia e depois saem a se vitimizar, quando estão as provas de que foram eles que entraram e atacaram com gás pimenta”.
MOBILIZAÇÕES POR MAIS VERBAS CONTINUAM
As mobilizações fazem parte do plano de luta definido pelo movimento estudantil e sindical universitário que inclui mais dois dias de greve nacional. Na próxima segunda e terça-feira a paralisação será de 48 horas e todas as quartas-feiras serão realizadas aulas públicas de norte a sul, em sintonia com o que for deliberado pelo Congresso quanto ao Orçamento de 2025.
Os reitores reivindicam um aumento de 50% nos recursos propostos pelo governo para o próximo ano. Além disso, a comunidade universitária anunciou marchas regionais em cinco províncias (estados) diferentes para federalizar o protesto.