Eventos em Belgrado e por toda a Sérvia marcaram os 20 anos dos bombardeios dos EUA/Otan à Iugoslávia, em condenação à devastação então cometida, aos crimes de guerra que seguem impunes e à violação à lei internacional, que abriu precedente para agressões a outros povos nos anos seguintes sob ‘fachada humanitária’. Os bombardeios duraram 78 dias, matando milhares de pessoas e ferindo dezenas de milhares, e causaram danos à infraestrutura estimados em US$ 100 milhões à época.
Delegações do mundo inteiro, inclusive o Conselho Mundial da Paz (CMP), presidido pela brasileira Socorro Gomes, participaram da conferência “Paz e Prosperidade contra a Guerra e a Pobreza”, organizada pelo Fórum de Belgrado por um Mundo de Iguais, encabeçado pelo ex-chanceler Zivadin Jovanic, e ainda pelo Clube de Generais e Almirantes da Sérvia e pela Sociedade Sérvia de Anfitriões.
Presença também de líderes religiosos, pesquisadores, advogados e comitê internacionais de solidariedade aos sérvios, com o painel “Não Esquecer” tendo grande destaque.
“No momento mais obscuro tentaram nos convencer de que éramos culpados pela agressão de que fomos vítimas. Mas aqueles que se solidarizaram conosco nos deram força e inspiração para reagir”, disse o atual ministro da Defesa sérvio, Aleksandar Vulin.
“Vidas de crianças sérvias, policiais e soldados, também contam. (…) Nenhuma nação tem o direito de dizer que civis e crianças foram danos colaterais. (…) Tentaram matar a Sérvia, mas mataram o direito internacional”, afirmou.
Referindo-se à anexação de países dos Bálcãs e do antigo Pacto de Varsóvia à OTAN, Vulin garantiu que a Sérvia não trilhará esse caminho e “nunca fará às outras nações o que fizeram conosco”.
Ele enfatizou a importância da classificação de “agressão” à operação da Otan contra a então Iugoslávia, como tipificado pelos Tribunais de Nuremberg e de Tóquio.
Em seu discurso, Socorro Gomes denunciou os bombardeios dos EUA/Otan contra a Iugoslávia como “uma brutal agressão a um país soberano, reconhecido internacionalmente, com plenas relações diplomáticas, econômicas, comerciais e culturais em todo o mundo, membro da ONU desde a sua fundação, dotado de governo próprio, parlamento, corte de justiça, Constituição”.
Ela sublinhou que se tratava de um país em busca do progresso econômico e social, conhecido pela convivência entre as diversas nacionalidades que o compunham, “um país pacífico que não tinha atentado jamais contra a soberania de nenhum outro nem à paz regional”.
“A guerra da Otan contra a Iugoslávia fez soar naquele momento o dobre de finados do sistema multilateral e revelou os desígnios do imperialismo estadunidense e seus aliados da Otan de impor um domínio unipolar no mundo”, advertiu.
A agressão contra a Iugoslávia também foi precedida por uma campanha midiática de mentiras e desinformações, para demonizar os iugoslavos e seus líderes, acoplada à manipulação de questões étnicas para dividir e desencadear conflitos, como amplamente condenado na conferência.
Procedimento que iria se repetir antes de cada nova agressão cometida contra povos soberanos daí em diante, com o ‘vilão’ de escolha só mudando de nome – de Milosevic a Assad, passando por Sadam e Khadafi – mas as alegações essencialmente as mesmas.
Como ocorreria mais tarde na Líbia, a Otan serviu de força aérea para os paramilitares e traficantes do autodenominado Exército de Libertação de Kosovo e, após a saída das tropas iugoslavas em junho de 1999, a província foi transformada em protetorado da Otan, uma base aérea norte-americana foi instalada e em 2008 anunciou-se a “independência”.
Também discursaram em defesa da paz e da soberania Moara Crivelente, do Cebrapaz, Milan Krajca, do Movimento pela Paz Checo e Filipe Ferreira, do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC).
Após a queda do socialismo na União Soviética e no Leste Europeu, começou em 1991-1992 a dissolução da Iugoslávia socialista, com a criação das repúblicas da Croácia, Eslovênia, Bósnia, Macedônia e Iugoslávia Federal, esta integrada pela Sérvia e Montenegro, que em 2006 se tornariam duas repúblicas separadas.
Além da conferência, a programação dos 20 anos da agressão incluiu ainda uma exibição rica em informações e imagens e visitas aos monumentos às vítimas, onde os participantes puderam prestar sua homenagem.