Investigadores decidiram anexar o discurso, feito no domingo na Avenida Paulista, no inquérito como mais uma prova de sua atividade criminosa. Já havia o vídeo da reunião golpista, agora a PF está de posse de uma autoconfissão
A situação de Bolsonaro se complicou bastante após sua confissão de que tinha conhecimento da minuta do golpe, feita durante sua fala no ato de domingo (25), na Avenida Paulista. Foi uma prova produzida por ele contra ele mesmo.
A Polícia tinha encontrado o documento, que detalhava a decretação do estado de defesa, a intervenção no TSE e a prisão de ministros do STF, na casa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro.
DETALHES DA MINUTA
Depoimentos e trocas de mensagens obtidos pela Polícia Federal indicavam que Bolsonaro tinha tomado conhecimento dos detalhes da minuta. Também ficaram sabendo que tinha sido entregue a ele pelo assessor Felipe Martins, que fez algumas mudanças como, por exemplo, reduzir o número de presos, mas fazendo questão de manter o encarceramento de Alexandre de Moraes, discutindo a minuta, depois, com os comandantes militares em busca de apoio.
Eram indícios fortes de que Bolsonaro teve participação direta na elaboração do golpe. No entanto, surge, agora, mais uma prova concreta, obtida pela confissão feita por Bolsonaro no domingo. Ele havia ficado calado no depoimento à Polícia Federal, mas bateu com a língua nos dentes durante o ato da Paulista.
Bolsonaro ainda tentou alegar que a decretação do estado de defesa, totalmente ilegal, que constava na minuta, era legal e que não desrespeitava a Constituição. Obviamente, trata-se de uma mentira. A minuta previa a decretação de um golpe de Estado. Não havia nenhuma motivação legal a não ser sua derrota eleitoral iminente e, mais ilegal ainda, eram as prisões que ele pretendia fazer e que incluíam, inicialmente, até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
DISCURSO ANEXADO AOS AUTOS
A avaliação de que Bolsonaro se complicou com o discurso foi feita pelos investigadores que já decidiram, inclusive, anexar o seu conteúdo como prova no inquérito que investiga a trama golpista do ano passado. A afirmação de que não houve crime porque não houve golpe é uma falácia. O que a Justiça vai julgar é a tentativa de golpe. Porque, se ele tivesse ocorrido, não haveria nem STF para julgar nada.
“A transcrição do momento será incluída no relatório do caso”, informaram os investigadores. A alegação de que o golpe e a decretação do estado de defesa era constitucional não tem a menor base legal. Não significa nada do ponto de vista jurídico, a não ser uma confissão cristalina de que ele pretendia praticar um crime contra o país e a democracia.
Bolsonaro acabou confessando também que não conseguiu dar o golpe porque, segundo ele, “não se viu tanques nas ruas”. É verdade, o comandante do Exército, na ocasião, general Freire Gomes, barrou as armações golpistas e chegou a ameaçar Bolsonaro de prisão. Por isso, ele não conseguiu os tanques. O alto comando das Forças Armadas não aderiu ao seu plano de golpe e impediu que ele se concretizasse.
Foi nessa época que a milícia digital bolsonarista atacou violentamente o comandante do Exército, general Freire Gomes e os demais militares e outros comandantes que resistiram ao golpe. O vice na chapa de Jair Bolsonaro, general Braga Netto, chegou a xingar o comandante do Exército, chamando-o de “cagão”. A ofensa foi detectada numa troca de mensagem do militar com o tenente-coronel Mauro Cid.
VÍDEO JÁ HAVIA INCRIMINADO O MITO
A confissão de Bolsonaro se soma ao vídeo obtido pelo PF onde aparece pregando o golpe e marcando data, frisando que tinha que ser ante das eleições. O vídeo foi de uma reunião realizada em 5 de julho de 2022, no Palácio da Alvorada, com a presença de seus auxiliares mais próximos e ministros para discutir a data da realização do plano e a preparação para a ação golpista. A gravação foi feita pelo ajudante de ordem Mauro Cid, que fez um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal.
PERDÃO PARA TERRORISTAS
Durante seu discurso, que ele fez abraçado a uma bandeira de Israel, em apoio ao genocídio feito por seu colega Benjamin Netanyahu contra a população civil de Gaza, também tentou livrar a cara de suas hordas fascistas que invadiram as sedes dos Três Poderes e depredaram tudo no dia 8 de janeiro. Vários deles já foram condenados pelo STF e já cumprem pena.
Bolsonaro chamou os vândalos que quebraram tudo o que viram pela frente de “pobres coitados”. Pediu que eles fossem perdoados. Não é que Bolsonaro se preocupe de verdade com qualquer membro de suas milícias. O que ele quer, ao pedir anistia para os lunáticos é abrir espaço para também se livrar das penas que vai pegar por tentar contra o país e a democracia.