Para Strache, ex-vice-chanceler da Aústria, a “franqueza” na admissão de Merkel de que os tais “Acordos” foram só para ganhar tempo de armar a Ucrânia “arruína a base de confiança nos dirigentes europeus”
“A ex-chanceler da Alemanha Angela Merkel disse que os Acordos de Minsk não eram sérios, que foram assinados só para dar tempo à Ucrânia de se preparar para um potencial desenlace militar. A franqueza de Frau Merkel nesse aspecto é assustadora. Desse jeito, arruinamos qualquer base de confiança”, lamentou o ex-vice-chanceler da Áustria, Heinz-Christian Strache, em uma mesa redonda sobre o conflito ucraniano em Viena, na terça-feira (13).
O diplomata austríaco referia-se à declaração de Merkel em entrevista ao jornal Die Zeit, no início de dezembro, reconhecendo que os Acordos de Minsk visaram “dar tempo à Ucrânia” para se reforçar militarmente. Segundo destacou a antiga líder alemã, todos entendiam que o problema não estava resolvido e que o conflito estava congelado. A ex-chanceler acrescentou que, em 2014, a Otan não era capaz de fornecer a Kiev armas nas quantidades em que o faz hoje em dia.
Os Acordos de Minsk para resolver a situação no Leste da Ucrânia foram assinados em 2015 e previam o cessar-fogo, a retirada de armas pesadas da linha de frente, bem como uma reforma constitucional, que introduziria a descentralização e a adoção de uma lei sobre o status especial de algumas áreas das regiões de Donetsk e Lugansk. Contudo, Kiev nunca cumpriu o plano acordado.
Strache reclamou que, ao se posicionar dessa forma, os líderes europeus estão apenas destruindo qualquer base para confiar neles.
Esta é precisamente a mensagem que tiraram das declarações de Merkel na China. O jornal estatal Global Times destacou que esta situação mostra que alguns países ocidentais nunca cumprem suas obrigações e os acordos que assinam, e não têm escrúpulos em se retratar.
A publicação destaca que as declarações da ex-chanceler arrancam o que restava da máscara “amigável” que alguns países ocidentais vestem frente a Rússia, já que aos olhos de alguns Estados a Rússia é simplesmente um “alienígena” diplomático e político.
“Influenciados por Washington, alguns vêem Moscou como uma suposta ameaça devido ao seu enorme poderio militar e a um sistema político que não se ajusta ao ‘padrão ocidental’. Como resultado, esses países nunca pararam de reprimir a Rússia”, assinala o artigo.
Nesse contexto, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, indicou que “Berlim e, como consequência, todo o Ocidente coletivo não tinham intenção de aplicar os acordos de Minsk”.
Segundo a chancelaria russa, o Ocidente “fingiu ter aderido à resolução do Conselho de Segurança, na realidade inundando o regime de Kiev com armas”, enquanto “ignorava todos os crimes cometidos pelo regime de Kiev em Donbass e na Ucrânia, visando lançar um golpe decisivo contra a Rússia”.
SOBRE OS ACORDOS DE MINSK
Em fevereiro de 2014, o governo eleito da Ucrânia foi derrubado pelo chamado golpe Euromaidan apoiado pelos Estados Unidos e outras potências ocidentais. A ingerência desencadeou um conflito nas regiões orientais do país, onde as pessoas que se recusaram a se curvar à nova liderança de Kiev formaram as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk (RPD e RPL, respectivamente) e proclamaram a independência delas.
Kiev tentou subjugar rapidamente as repúblicas recém-formadaspor meio do uso do poder militar, mas falhou. Não tendo conseguido uma vitória decisiva no campo de batalha e com a Rússia e as potências europeias a apelarem a uma solução pacífica para o conflito, o governo ucraniano recorreu às negociações, dificultadas pela sua relutância em falar diretamente com os líderes da RPL e RPD.
Em meio à situação delicada, o recém-formado Grupo de Contato Trilateral sobre a Ucrânia, composto por Kiev, Moscou, Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e o Formato Normandia, formado por Ucrânia, Rússia, Alemanha e França, conseguiram chegar ao que ficou conhecido como os Acordos de Minsk, em 13 de fevereiro de 2015, quando foi assinada uma série de medidas, relembrou a agência Sputnik Brasil.
Os acordos receberam este nome porque as negociações foram realizadas na capital bielo-russa de Minsk, que serviu como um terreno neutro.