
Tailândia e Camboja acusaram-se mutuamente de novos ataques neste sábado (26), enquanto os conflitos na fronteira entraram no terceiro dia sob crescente pressão internacional por um cessar-fogo. Os combates já deixaram ao menos 33 mortos e forçaram mais de 168 mil pessoas a abandonar suas casas, segundo informações da agência AP
Relatos indicam trocas de artilharia e tiroteios perto de vilarejos fronteiriços, ampliando a área de conflito que começou na quinta-feira (24), após a explosão de uma mina terrestre ferir cinco soldados tailandeses. Autoridades dos dois países atribuem a responsabilidade pelo início das hostilidades ao adversário.
A longa disputa entre Tailândia e Camboja sobre o Templo de Preah Vihear, do século XI, Patrimônio Mundial da UNESCO, intensificou-se drasticamente na quinta-feira (24). Após semanas de tensão crescente — devido a incidentes com minas terrestres e subsequentes expulsões diplomáticas mútuas —, ataques de artilharia pesada e foguetes eclodiram perto de templos na fronteira, segundo informações da agência russa Sputnik.
A fronteira de 800 km entre os dois países é alvo de disputas há décadas, mas os embates anteriores foram limitados e breves. A tensão recente escalou em maio, quando um soldado cambojano foi morto em um confronto que abalou as relações diplomáticas e a política interna tailandesa.
O ministro da Informação do Camboja, Neth Pheaktra, afirmou que os confrontos obrigaram 10.865 famílias (37.635 pessoas) em três províncias fronteiriças a buscarem refúgio. Do lado tailandês, mais de 131 mil residentes fugiram de suas aldeias.
A Al Jazeera noticiou, citando o Ministério da Saúde tailandês, que os bombardeios da quinta (24) mataram pelo menos 11 civis e um soldado na Tailândia. As autoridades de quatro províncias tailandesas que fazem fronteira com o Camboja anunciaram a evacuação de moradores em meio à escalada, informou o jornal The Nation.
A Tailândia enviou caças F-16 para realizar ataques aéreos, de acordo com as forças armadas do país. Segundo a Chancelaria da Tailândia, o Camboja respondeu com lançadores de foguetes BM-21. Publicações em redes sociais mostraram os danos causados por artilharia a uma loja de conveniência 7-Eleven e a um posto de gasolina na Tailândia na sexta-feira (25)
CAMBOJA ACUSA TAILÂNDIA POR USO DE BOMBAS DE FRAGMENTAÇÃO
A Autoridade Cambojana de Ação contra Minas e Assistência às Vítimas (CMAA, na sigla em inglês) denunciou o uso de bombas de fragmentação pelas forças tailandesas em uma área de fronteira dentro do território cambojano na sexta-feira (25). “Esta ação constitui uma grave violação das normas humanitárias internacionais”, diz a declaração da CMAA.
A agência observou que o emprego dessas munições representa “uma ameaça imediata e indiscriminada a civis, sapadores e comunidades fronteiriças” e enfatizou que as ações da Tailândia “constituem uma grave violação das normas humanitárias internacionais”.
As bombas de fragmentação são proibidas pela Convenção sobre Munições de Dispersão de 2008 devido ao seu amplo alcance e ao perigo a longo prazo que representam para os civis, especialmente às crianças”, afirmou a CMAA.
“O Camboja está familiarizado com o terrível impacto das bombas de fragmentação, tendo sofrido o legado devastador de milhões de sub-munições lançadas em seu território durante conflitos passados. Essas armas mutilaram civis, prejudicaram o desenvolvimento e aterrorizaram comunidades inteiras por gerações”, enfatizou a Autoridade Cambojana CMAA.
O primeiro vice-presidente da CMAA, Ly Thuch, denunciou que “o uso de munições de dispersão, especialmente em áreas de fronteira com populações civis ou próximas a elas, constitui uma escalada inaceitável”.
Ainda segundo informações da AP, ambos os lados utilizaram foguetes e artilharia. Após negar inicialmente, um porta-voz militar tailandês admitiu que munições cluster — proibidas internacionalmente — podem ser usadas “quando necessário”. A Tailândia já empregou essas armas em conflitos passados com o Camboja.
PREOCUPAÇÃO DA RÚSSIA
“A Rússia está preocupada com a situação na fronteira entre a Tailândia e o Camboja e pede que as partes em conflito estabeleçam diálogo”, disse a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, nesta quinta-feira (24).
“O lado russo expressa preocupação com a escalada do conflito e apela às partes para que exerçam moderação e estabeleçam diálogo, com o objetivo de resolver as contradições entre ambos países por meios pacíficos”, disse Zakharova em comunicado.