“Pior que o estupro é o assassinato de um ser indefeso. O desgraçado assassino do juiz que tinha que estar na cadeia”.
A frase foi dita por Silas Malafaia e demonstra o caráter dos que criticaram e que foram para a frente do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam-UPE), em Recife, protestar contra a interrupção da gestação de uma criança, de apenas 10 anos, e que foi vítima de um estuprador dentro de sua casa por quatro anos.
O direito ao aborto é garantido pela legislação brasileira em caso de estupro. E foi amparado por uma decisão da Justiça do Espírito Santo que atendeu a um pedido do Ministério Público do estado, favorável ao aborto.
O juiz Antonio Moreira Fernandes determinou que ” a imediata análise médica quanto ao procedimento de melhor viabilidade para a preservação da vida da criança”. O juiz destacou o desejo da menor de não manter a gestação. Concluiu que “a vontade da criança é soberana, ainda que se trate de incapaz.”
Ela precisou sair do Espírito Santo para ter acesso à interrupção da gravidez, depois que médicos do estado se negaram a realizar o procedimento que havia sido autorizado pela Justiça.
A vítima, que precisou ser levada ao hospital dentro do porta malas do carro, está em observação após a realização do aborto. De dentro do hospital, ela podia ouvir a turba dos “defensores da vida”, defenderem que a sua vida deveria permanecer em risco.
Segundo o obstetra Olímpio Moraes, ela está se sentindo “aliviada” após o fim do procedimento.
“Ela está bem aliviada. O sofrimento nesses últimos dias foi terrível, as ameaças que ela sofreu. Eu espero que esse sofrimento daqui para a frente seja atenuado, e vai depender muito de como o caso vai ser conduzido, respeitando o sigilo, para que ela possa recuperar a sua vida”, disse Olímpio à Globo News.
PIOR QUE O ESTUPRO
Assim como Malafaia, os demais “conservadores” acreditam que o aborto, realizado para garantir a vida da menina e a pedido da menina, foi “pior que o estupro”.
Apresentam assim uma falsa retórica contra o aborto, para defender os estupradores familiares. Uma prática infelizmente existente entre muitas famílias brasileiras.
Para essas pessoas, a vítima (neste caso uma criança de 10 anos) pouco importa.
REDES SOCIAIS
Além das ações em frente ao hospital que recebeu a criança, diversos comentários feitos por fanáticos religiosos e seguidores de Jair Bolsonaro chamaram atenção nas redes sociais.
Um deles foi feito por Sonely Almeida, que diz ser voluntária de uma paróquia de Igreja Católica. “Quatro anos sendo estuprada ate se engravidar e não falar nada com ninguém? Será que ela é tão inocente assim? Me perdoa! A maioria das mulheres de hoje estão pior que cachorras no cio. Na minha comunidade tem crianças de dez anos que já estão com dois filhos nos braços. Estamos vivendo num mundo cruel. Onde perderam completamente o temor de Deus. Mais uma inocente que vai pagar pelos erros dos pais. Se o pai e a mãe cuidasse dela como deveria, certamente isso não estava acontecendo com ela”, disse em comentário feito no Facebook.
INVASÃO
Dentre os que convocaram o protesto em frente ao hospital está a bolsonarista Sara Giromini, que cometeu crime ao divulgar o nome da criança e o local onde ela seria internada. Após a publicação de Giromini provocou aglomeração e tentativa de invasão de fundamentalistas religiosos, contrários ao aborto, na porta do hospital na capital pernambucana.
Os Ministérios Públicos Federal e Estadual do Espírito Santo abriram investigação para apurar o vazamento de informações no caso.
O inquérito será conduzido pelas promotorias de Justiça da Infância e Juventude e da Criminal de São Mateus, cidade onde o caso ocorreu.
O órgão confirmou também que está investigando a “atuação de grupos que teriam ameaçado a família da criança”, destacou. De acordo com relatos de fontes da investigação, um grupo formado por cerca de 40 pessoas esteve na casa da menina e tentou convencer a família a levar a gravidez adiante.
De acordo com relatos de testemunhas, um homem chegou a dizer a avó da menina que o objetivo deles seria salvar o bisneto dela. A mulher teria desmaiado diante a pressão.
No domingo, a Justiça acatou uma ação MP-ES e determinou liminarmente, a retirada de um vídeo das redes sociais contendo informações que expõem a criança vítima de abuso sexual. Dessa forma, Facebook, Twitter e Google têm até 24 horas para adotarem as medidas solicitadas pelo MPES, que incluem o fornecimento dos dados e registros eletrônicos, além da remoção urgente do conteúdo da internet.
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