No trimestre móvel encerrado em julho, a queda é de -0,3%
O consumo de bens industriais recuou em -2,5% na passagem de junho para julho, segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que foram divulgadas na terça-feira (19). Quando comparado com julho de 2022, o indicador mensal de Consumo Aparente de Bens Industriais do Ipea apontou queda de -5,2%.
“Este resultado ocorreu em razão do recuo de 3,5% da produção interna destinada ao mercado nacional (bens nacionais) e da alta de 0,2% das importações de bens industriais”, destacou o Ipea.
Por classes de produção, em julho, a indústria extrativa caiu 16,6%. Já a indústria de transformação teve um recuo de 1,8%, com destaque para o consumo de bens de capital (máquinas e equipamentos etc.) que desabou -5,7%. Já o de bens intermediários, que são aqueles insumos produzidos para compor outros bens (componentes de televisão, por exemplo), o recuo foi de -2,4%, na margem.
A queda no consumo de bens industriais está ligada diretamente à política monetária contracionista do Banco Central (BC), de Roberto Campos Neto, que por meio da taxa básica de juros Selic (que nos 12 meses até agosto ficou nos 13,75% ao ano), impõe restrições à oferta de crédito do país.
Frente à repressão que o BC está impondo ao consumo de bens, 13 dos 22 segmentos da indústria de transformação tiveram desempenho negativo frente a junho. Veja a tabela a seguir, reproduzida do Ipea.
No último mês do primeiro semestre de 2023 o indicador havia apontado um crescimento de 1,4%. Com o resultado de julho, o consumo de bens industriais apresentou uma queda de -0,3% no trimestre móvel encerrado em julho. Frente ao ano passado, a queda é de -2,6%.
No trimestre móvel encerrado em julho, o resultado da indústria extrativa também foi negativo, -7,1%. A indústria de transformação teve um recuo de -1,8%, com destaque para queda também do consumo de bens de Capital (-0,6%).
No acumulado em doze meses, a demanda por bens industriais está -1,1% em baixa, corroborando com o cenário de estagnação já apontado pela Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em julho de 2023, a produção industrial nacional recuou 0,6% frente a junho, de acordo com o IBGE. Em relação a julho de 2022, a queda foi de 1,1%, e no acumulado de 12 meses até julho, não houve crescimento da produção (0,0%).
Quatorze das 15 regiões pesquisadas pelo IBGE registraram quedas em suas produções. As maiores quedas vieram do Amazonas (-8,8%), Bahia (-6%) e Pará (-4,4%). A indústria paulista, a maior e mais desenvolvida do país, teve um recuo de -0,5% na comparação mensal.
Ao divulgar os números da indústria em julho, o analista da analista da PIM Regional, Bernardo Almeida, apontou os juros altos como o principal fator para a atual situação industrial brasileira.
“É possível perceber uma perda de ritmo na indústria nacional como um todo, que pode ser observada desde março, quando atingiu um crescimento de 1,1%. Isso pode ser explicado pela conjuntura atual, pela taxa de juros que ainda se encontra em um patamar elevado, o que pressiona a linha de crédito disponível para o investimento. Isso recai diretamente sobre a cadeia produtiva, sobre as tomadas de decisões por parte dos produtores, já que o investimento se torna mais caro. Isso vale também para os resultados regionais, com um cenário disseminado de resultados negativos em 14 dos 15 locais pesquisados”, diz o pesquisador.
Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define o novo patamar da taxa básica de juros, atualmente em 13,25%. A queda de meio ponto percentual em agosto – depois de um ano em 13,75% a.a., manteve o Brasil campeão mundial de juros reais.