Produção de aço caiu 8,9% e as venda recuaram 5,7% no semestre. Instituto Aço Brasil destaca a dificuldade verificada nos principais setores consumidores de aço – o automobilístico, bens de capital e construção civil -, que respondem por 82,5% demanda
A produção e as vendas de aço no Brasil sofreram uma forte queda de janeiro a junho deste ano, segundo divulgou o Instituto Aço Brasil. Nos primeiros seis meses do ano, frente a igual período de 2022, a produção de aço bruto caiu 8,9%, para 15,972 milhões de toneladas; e as vendas internas encolheram 5,7%, para 9,626 milhões de toneladas.
A entidade destaca que a dificuldade verificada nos principais setores consumidores de aço – o automobilístico, bens de capital e construção civil -, que respondem por 82,5% demanda, levaram o Instituto a revisar para baixo suas previsões para este ano de 2023, com quedas na produção de 5,0%; nas vendas internas de 6,0%; no consumo aparente (vendas internas mais importações) de 2,6%. As exportações devem cair 0,3% e as importações devem crescer 25,6%, estima o Instituto.
São setores consumidores de aço que mais dependem de crédito e que estão sendo afetados pelos escandalosos juros impostos por Roberto Campos Neto à frente do Banco Central. As montadoras estão parando a produção, com queda de 17% em junho na comparação com maio. A produção de bens de capital acumula retração de -9,6% de janeiro a maio, “em uma trajetória de progressiva deterioração”, diz o Instituto e Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Quatro em cada 10 empresários da construção apontam os efeitos da alta da taxa Selic, em 13,75% desde agosto do ano passado, na desaceleração da atividade econômica, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria.
“As preocupações no cenário que, em abril, impediram o Aço Brasil de ter uma perspectiva otimista para o ano acentuaram-se nos últimos três meses. A necessidade de avanços na agenda de competitividade do país se torna cada vez mais urgente, de forma a trazer a indústria do aço para um ciclo de crescimento sustentado. Vale lembrar que o desempenho do aço é indicador antecedente do PIB (Produto Interno Bruto)”, alerta Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.
A utilização da capacidade instalada da indústria apresenta percentuais negativos preocupantes. No primeiro semestre de 2022 manteve 68,8% da capacidade de produção operando, enquanto no mesmo período de 2023 apenas 62,7% da indústria estava operando ou 37,3% de máquinas estavam paradas. São menos postos de trabalho, menor renda, menor consumo, ratificando “a forte desaceleração da economia com o juro elevado do Banco Central”, conforme destacou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Temos capacidade de produzir 51 milhões de toneladas por ano e produzimos 34 milhões”, diz Jefferson de Paula, presidente do conselho diretor da Aço Brasil e presidente da ArcelorMittal no país. “É por falta de mercado mesmo, os principais setores que demandam aço não vêm andando bem”, completou.
A venda de aços laminados planos caiu 3,8% e a de longos, 8%. Apesar da iniciativa do governo federal de tentar impulsionar a produção e vendas da montadoras com incentivos para baratear a venda de carros novos, a produção e venda de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas estão caindo bastante e não deve mudar muito, segundo o executivo do IAB.
O Aço Brasil também prevê queda no consumo per capita de produtos siderúrgicos no Brasil este ano, de 108,6 quilos para 105,9 quilos por habitante. O país tem um dos piores desempenhos entre países emergentes desde 1980, quando registrava consumo per capita de 100,6 quilos. Entre 1980 e 2022, a média mundial cresceu 74%, para 223,5 quilos. No período, na China, o indicador cresceu 1.918%, para 645,8 quilos; na índia, 539%, para 81,1 quilos; no Chile, 118%, para 114,4 quilos; e, no México, 69%, para 194,8 quilos.
Nesse cenário adverso para a produção interna, observa-se uma explosão das importações que, no comparativo acumulado dos semestres, registrou uma alta de 43,2% e, entre junho do ano passado para o deste ano, uma alta de 94,1%.
Segundo Jefferson de Paula, isso se deve ao câmbio mais favorável para importações e a um excesso mundial de capacidade produtiva, que causa uma corrida por mercados consumidores no exterior ao mesmo tempo em que se estabelecem medidas protecionistas. É a chamada “guerra de mercado”.
A política cambial vigente, há décadas no país, torna o Brasil um mercado aberto ao aço importado. “Aumenta o risco do chamado desvio de mercado”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Aço Brasil, se referindo à concorrência desleal.
“Estamos vendo consistentemente o mercado de aço caindo no Brasil”, afirma ainda o chefe do Conselho Diretor da Aço Brasil. A entidade já projeta um aumento de 25,6% nas importações de aço para o total do ano, que chegariam a 4,2 milhões de toneladas.
As exportações de aço brasileiro caíram 4,2%, na comparação com o primeiro semestre de 2022. O câmbio que favorece as importações tem efeito contrário nas exportações. Fator a favor da produção interna na conquista e manutenção de clientes no mercado exterior.
Para melhorar as atividades do segmento, o Instituto do Aço defende o incentivo à maior oferta de sucata metálica no mercado nacional, o barateamento do gás natural, que haja exigências de aço local para concessão de alguns financiamentos, como para torres de energia eólica, e prioritariamente a contenção de práticas predatórias de comércio, questão que remete a situação do cambial.
A indústria do aço é um ramo vital da economia. Quando Getúlio Vargas deu início à industrialização do Brasil, a iniciativa mais importante foi erguer a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Todavia, a chamada globalização quer nos impor o retorno a uma economia primária e o encolhimento do setor deve ser visto como uma grave ameaça ao desafio da reindustrialização do País.