O descontrole dos preços e a decisão do governo de repassar à população os custos pela crise energética têm consequências dramáticas para as famílias brasileiras: 46% delas afirmam que já comprometem a metade ou mais da renda mensal com a conta de luz e gás. Os dados são de pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), contratada pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade), que também conclui que para os 10% mais pobres, o nível de compromisso das rendas com as contas básicas chega quase ao total do que recebem.
No caso da energia elétrica, a criação de tarifas especiais ao longo do ano passado para compensar o acionamento das termoelétricas deixou as contas de luz 25% mais caras em 2021. A população já está pagando a conta pela escassez hídrica prevista há mais de 5 anos e agora terá de arcar com os custos de um financiamento às distribuidoras aprovado pelo governo que adicionará mais 9,1% às faturas em 2022.
De acordo com a pesquisa do Ipec, 90% dos entrevistados afirmam que o atual valor da conta de luz está impactando “muito” ou “um pouco” a vida das suas famílias e que para poder pagá-la, quatro em cada dez brasileiros (40%) diminuíram ou deixaram de comprar roupas, sapatos e eletrodomésticos. Outros 22% afirmam ter reduzido a cesta de alimentos básicos para garantir a energia em suas casas, índice que chega a 28% entre os nordestinos. Além disso, 14% deixaram de pagar contas básicas como as de água e gás encanado.
No caso do gás, o aumento acumulado no ano passado chega a absurdos 35,8% – com um botijão chegando a custas R$ 140 em algumas regiões de país. Bolsonaro, que na época da eleição prometeu gás a R$ 40, nada fez para mudar a situação.
O aumento do botijão foi o que mais pesou no bolso dos brasileiros, afirmam 58% dos entrevistados. Um em cada dez brasileiros passou a usar lenha para cozinhar, 6% passaram a usar carvão, e 4% o fogão elétrico.