“Nas condições de guerra econômica que nos foi declarada de fato”, é essencial abandonar “moedas tóxicas como o dólar”, defendeu o Ministério de Relações Exteriores da Rússia. O diretor do Departamento de Cooperação Econômica, Dmitry Birichevsky, afirmou que “os países do Sul Global não estão satisfeitos com o fato de o dólar ter se transformado de um meio de pagamento e poupança em uma arma contra os ‘indesejados'”
“Nas condições da guerra econômica que nos foi declarada de fato, os objetivos de reorientação das relações econômicas externas em direção aos países do Oriente e do Sul Global vêm em primeiro lugar”, afirmou o diretor do Departamento de Cooperação Econômica do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Dmitry Birichevsky, sublinhando a necessidade da maioria dos países abandonar gradualmente “moedas tóxicas” como o dólar.
Conforme o dirigente russo, “a situação é complicada por isso estar acontecendo no contexto do domínio contínuo do Ocidente nas estruturas de governança global”. “Nesse ambiente difícil, a diplomacia econômica representa uma das áreas mais importantes da política externa russa”, disse.
Em entrevista à Sputnik, Dmitry Birichevsky avaliou a complexidade do momento geopolítico, frisando que sendo a cooperação econômica uma das suas principais áreas de trabalho, tem como responsabilidade garantir os interesses russos e dos seus parceiros.
Na avaliação de Dmitry, a politização da economia global faz com que os países da “maioria global” já estarem deixando de utilizar o dólar, que se desacreditou pela irresponsável política macroeconômica ocidental, inflação e interrupções nas cadeias de suprimento internacionais, bem como problemas contínuos no sistema financeiro dos países desenvolvidos.
“Os países do Sul Global não estão satisfeitos com o fato de o dólar ter se transformado de um meio de pagamento e poupança em uma arma contra os ‘indesejados’. Qualquer Estado cuja orientação política, por algum motivo, não agrade ao Ocidente coletivo corre o risco de enfrentar sanções e se tornar vítima de uma agressão financeira e econômica em grande escala por parte de Washington e seus satélites”, acrescentou.
A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro deste ano, quando já integrado também pelo Brasil, Índia, China e África do Sul, entraram no bloco os novos países-membros: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. No dia 20 de agosto, o Azerbaijão solicitou oficialmente sua adesão ao BRICS e agora também fez igual pedido a Argélia.
Por conta disso, os países que não seguem a cartilha dos EUA e da União Europeia, “chegam à conclusão de que um mundo com várias moedas é inevitável, como base para uma nova ordem mundial multipolar”. Contudo, salientou, ainda é difícil falar sobre uma moeda única do BRICS porque esse projeto ainda está na fase de estudo de especialistas.
No momento, o BRICS está debatendo “questões relacionadas à criação de mecanismos independentes de pagamento e câmbio que sejam resistentes à pressão de sanções”, explicou Dmitry. “A possibilidade de lançar uma infraestrutura para transações internacionais usando moedas dos bancos centrais e outros instrumentos digitais está sendo considerada”, anunciou.
Para o dirigente, a criação de tal plataforma pode ser um passo importante para aproximar ainda mais os mercados financeiros dos países-membros do BRICS e incentivar o comércio bilateral.