Com a Selic em 13,25% e a inflação em 3,16%, BC avaliou que “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista” no país
O Banco Central divulgou, nesta terça-feira (8), a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da reunião que reduziu em 0,5 ponto percentual a taxa Selic, afirmando que o colegiado irá cortar os juros a conta-gotas e manter o arrocho monetário sobre a economia.
Na semana passada, após três anos sem reduzir os juros, o Copom reduziu a Selic de 13,75% para 13,25%. “Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz trecho da ata do BC.
Seguindo neste ritmo de corte, a Selic terminará este ano em 11,75%, mantendo, assim, os juros reais proibitivos no Brasil e seus efeitos maléficos sobre a produção, o consumo, a geração de empregos e as contas públicas.
Em março de 2021, o Banco Central (BC) do Brasil, liderado por Roberto Campos Neto, foi o primeiro dos bancos centrais, entre as grandes economias mundiais, a elevar a taxa de juros, dando início a um ciclo agressivo, passando a Selic de 2% (20/1/2021) para 13,75% (3/8/2022), índice que vigorou por um ano, a pretexto de combater uma inflação de demanda, quando o problema das altas dos preços no país estava sendo ocasionado pelo lado da oferta, cujo aumento dos juros não resolve.
Com a inflação desacelerando, o que se viu foram os juros reais aumentando, os maiores do mundo.
Evolução da Selic entre março de 2021 a agosto de 2022
248º 03/08/2022 – 13,75%
247º 15/06/2022 – 13,25%
246º 04/05/2022 – 12,75%
245º 16/03/2022 – 11,75%
244º 02/02/2022 – 10,75%
243º 08/12/2021 – 9,25%
242º 27/10/2021 – 7,75%
241º 22/09/2021 – 6,25%
240º 04/08/2021 – 5,25%
239º 16/06/2021 – 4,25%;
238º 05/05/2021 – 3,50%
237º: 17/03/2021 – 2,75%
Reunião do Copom nº 236º 20/01/2021 – 2,00%
Fonte: BC: Histórico das taxas de juros fixadas pelo Copom e evolução da taxa Selic.
Passados os desastres da pandemia e do governo Bolsonaro, a inflação arrefeceu – fruto, em parte, do abrasileiramento dos preços dos combustíveis – e o clamor é pela retomada econômica do país. Porém, na contramão do apelo social pela derrubada imediata dos juros, puxado por empresários do setor produtivo, além de parlamentares, economistas e pelo próprio presidente da República, o Banco Central teimou em manter por longo tempo sua monetária contracionista asfixiando a atividade econômica do país.
O Banco Central que elevou a Selic às pressas e de forma agressiva agora afirma ser “pouco provável” a aceleração dos cortes na taxa de juros.
“O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, diz o Copom no documento.
A decisão do BC de cortar os juros em dose homeopática se dá quando o próprio órgão reconhece que a situação econômica do país passa por dificuldades frente a sua política monetária contracionista.
No comunicado, divulgado na última quarta-feira (2), o Copom destacou que “o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres”. Na ata, também foi citado que no “âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes sugere um cenário de desaceleração gradual da atividade” e “desaceleração no ritmo de contratação no mercado formal e para a queda na taxa de participação”.
Com o Brasil sendo campeão mundial de juros reais (descontada a inflação), a produção industrial no país seguiu estagnada na passagem de maio para junho, ao variar apenas 0,1% no período. O setor acumula queda de -0,3% no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período do ano passado.
“Refletindo o peso que os altos níveis de taxas de juros têm exercido na evolução do setor, ramos de bens de capital e também de bens de consumo duráveis estiveram entre as maiores quedas. Ao todo, 64% das atividades industriais ficaram no vermelho”, destacou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Conforme dados do IBGE divulgados hoje, sobre a produção regional, “no acumulado no ano, frente a igual período do ano anterior, a queda na produção nacional (-0,3%) alcançou oito dos 18 locais pesquisados, com destaque para Ceará (-6,2%), Rio Grande do Sul (-6,0%) e Região Nordeste (-4,5%). Houve recuos também em Santa Catarina (-3,8%), Bahia (-3,7%), Maranhão (-2,0%), São Paulo (-1,9%) e Pernambuco (-1,1%). Goiás assinalou variação nula (0,0%) e repetiu o patamar de igual período do ano anterior”.