A situação geopolítica na Península coreana agravou-se diante da intensificação sem precedentes dos exercícios militares conjuntos na região promovidos pelos Estados Unidos, Coreia do Sul e, agora, também o Japão.
O secretário do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coreia (PTC), vice-marechal Pak Jong Chon, em manifestação oficial, afirmou que “devido às ações de confronto militar das forças hostis, uma situação tensa é agora criada na Península Coreana”.
A gravidade da situação denunciada pelo dirigente do PTC tem a ver com a operação denominada Vigilant Storm (Tempestade Vigilante) que, segundo ele, nada mais é que “um exercício agressivo e provocativo que visa a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), tanto no número de aviões mobilizados quanto em seu tamanho e em seu título semelhante ao Desert Storm (Tempestade no Deserto), código operacional que o país americano usou quando invadiu o Iraque no início da década de 1990”.
Segundo Chon, o fato é que o Departamento de Defesa dos EUA “politizou” o “fim” do regime da RPDC como o principal alvo de sua estratégia nuclear. “Por sua vez, o Ministro da Defesa Nacional, o presidente do Estado-Maior Conjunto e outros belicistas do estrato militar sul-coreano defendem com palavras absurdas o extermínio da RPDC se ela usar armas nucleares”, acrescentou.
O secretário do PTC argumentou, ainda: “se o país norte-americano pensa que poderá se comportar na península coreana da mesma forma que bombardeou países fracos em qualquer momento do final do século passado e violou à vontade o destino dos Estados soberanos, isso será um ilusão vã e um erro estratégico fatal”, acrescentando que “a península coreana não é um lugar onde a bravura militar dos EUA possa se safar como em outras regiões do mundo”.
Chon lembrou que “a RPDC está observando de perto as atuais circunstâncias instáveis na Península Coreana criadas pelas ações militares imprudentes dos EUA e da Coreia do Sul”.
E deu um recado às forças de ocupação dos Estados Unidos no sul da península: “Se estes se atreverem a usar as forças armadas contra a RPDC, os meios especiais das forças armadas deste último cumprirão prontamente sua missão estratégica assumida e os primeiros enfrentarão o caso formidável e pagarão o preço mais terrível da história”, defendendo que “os furiosos jogos de guerra e provocações sem sentido dos EUA e da Coreia do Sul devem ser interrompidos”.
Ministério das Relações Exteriores alerta EUA e Coreia do Sul
O Ministério das Relações Exteriores da RPDC, nesta semana, emitiu uma declaração à imprensa nos seguintes termos, fazendo um alerta aos EUA e à Coreia do Sul:
“Devido à contínua ação militar imprudente dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, a situação dentro e ao redor da Península Coreana entrou mais uma vez em uma fase séria de confronto “força contra força”.
“Apenas alguns dias após o exercício militar de Hoguk, um exercício de manobras em larga escala realizado na Coreia do Sul de 17 a 28 de outubro, outro dos maiores exercícios aéreos combinados EUA-Coreia do Sul, o Vigilant Storm, começou na história.
“Este exercício, que envolve mais de uma centena de caças de vários tipos, incluindo caças furtivos F-35B baseados no aeródromo japonês, é um exercício militar agressivo destinado a atingir alvos estratégicos da RPDC durante uma guerra na Península Coreana.
“Exercícios militares de grande escala conduzidos pelos EUA e seus satélites quase todos os dias deste ano transformaram a península coreana em um ponto crítico onde as tensões militares são as mais altas do mundo e a situação de segurança na região se tornou ainda mais grave.
“Em nenhum lugar do mundo é possível encontrar tais exercícios militares de natureza claramente agressiva, como os exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e seus satélites em termos de tempo, escopo, conteúdo e intensidade.
“O exercício militar conjunto EUA-Coreia do Sul, que se intensificou em abril com o início do “Exercício de Posto de Comando Conjunto”, expandiu-se para o exercício de manobras Ulchi Freedom Shield em grande escala em agosto e para o exercício naval conjunto de dimensão elevada em setembro e outubro, em que envolveu um grupo de ataque liderado por um porta-aviões nuclear, e os maiores exercícios aéreos combinados da história. Isso indica claramente que o cenário da guerra dos EUA contra a RPDC chegou ao seu estágio final.
“Os Estados Unidos, que conduzem exercícios militares tão agressivos para tomar o território e a retaguarda do lado oposto, como exercícios anfíbios em grande escala e “operação de decapitação”, acusam nossas contramedidas militares de autodefesa de agravar a situação, que está completamente além descrição e é o comportamento de um ladrão batendo no dono.
“A RPDC lembra mais uma vez que os últimos exercícios militares das unidades KPA foram conduzidos em um ambiente de segurança instável estabelecido pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul.
“Embora os Estados Unidos, sob o pretexto de exercícios “anuais” e “defensivos”, estejam tentando nos irritar com métodos militares para provocar nossas contramedidas e transferir para nós a responsabilidade de agravar a situação, nunca poderão esconder sua essência como instigadora da destruição da paz e da segurança.
“Os Estados Unidos, o único país do mundo que faz do “fim do poder” de um Estado soberano o principal objetivo de sua estratégia nuclear, devem estar preparados para pagar um preço igual em caso de tentativa de uso da força contra a RPDC.
“Estamos prontos para tomar todas as medidas necessárias para proteger a soberania do Estado, a segurança do povo e a integridade territorial das ameaças militares externas. Se os EUA ainda recorrerem a provocações militares sérias, consideraremos medidas mais intensificadas na próxima fase.
“Se os Estados Unidos não querem o pior desenvolvimento da situação, que não atende aos seus interesses de segurança, os exercícios militares inúteis e ineficazes devem ser interrompidos imediatamente. Caso contrário, eles devem assumir total responsabilidade por todas as consequências posteriores”.
Embaixador da RPDC: “desenvolvimento de nossa defesa é para garantir a nossa soberania”
Em recente entrevista ao HP, o atual embaixador da Coreia Popular no Brasil, Kim Chol-Hak, explicou as razões do desenvolvimento da indústria da defesa de seu país, inclusive das armas nucleares, quando destacou que a RPDC integra o pequeno grupo de oito nações que já desenvolveu a tecnologia nuclear.
Segundo ele, “desde o líder Kim Il Sung, nosso país fez uma opção de promover sua indústria de defesa militar, inclusive nuclear, para fins de defensivos e de proteção da nossa soberania”.
O embaixador lembrou o que aconteceu em outras nações desprotegidas nas quais os Estados Unidos, em algumas situações, sem a autorização da ONU, invadiu militarmente e destituiu governos para impor seus interesses geopolíticos, principalmente econômicos e comerciais. Foi o caso do Iraque, da Líbia e do próprio Afeganistão, país ocupado durante longos 20 anos pelas tropas norte-americanos, sempre sob o pretexto do combate ao “terrorismo internacional” e impor a “sua democracia”.
“Esses exercícios militares dos EUA com a Coreia do Sul e também o Japão não são os primeiros e não serão os últimos, mas, agora, estão se multiplicando, e são exercícios que tem por objetivo a guerra, pois a política hostil dos EUA contra nosso país não cessa”, argumentou.
O diplomata lembrou da “moratória” das armas nucleares firmada pelo líder Kim Jong Un e ex-presidente dos EUA Donald Trump: “nosso país cumpriu a sua parte no acordo e desde 2017 interrompemos os exercícios e testes com as armas nucleares, no entanto, os Estados Unidos não fizeram a sua parte e, hoje, consideramos que na prática não existe mais moratória e vamos continuar desenvolvendo nosso sistema de defesa”.
Kim Chol-Hak acrescentou, ainda, que “se os Estados Unidos, os japoneses e os sul-coreanos continuarem agindo contra nossa República, reafirmamos que nossa postura será firme, fruto da unidade monolítica que conquistamos, representada pelo nosso líder, o partido e as massas, e é essa unidade monolítica que é maior que qualquer força militar”.
O embaixador informou, também, que a Coreia Popular “já atingiu seu desenvolvimento pleno em sua indústria de defesa, inclusive nuclear, o que implicou em um sacrifício de nosso país e de nosso povo, agravado pelas sanções impostas pelos Estados Unidos através da ONU, mas foi o único caminho que tivemos para garantir a soberania de nosso sistema socialista”.
O representante da RPDC no Brasil também lembrou das recentes leis aprovadas pela Assembleia Popular de seu país, que representa o Parlamento, no sentido de regulamentar a tecnologia e os armamentos de natureza nuclear, algo inédito na Coreia Popular. Ele também resgatou as resoluções do 8º Congresso do PTC, lembrando que, além das metas estabelecidas para a economia nacional, “o partido adotou um resolução muito firme e clara para a continuidade do desenvolvimento de nossos sistema de defesa nacional”.