Em mais um passo para a reconciliação e a paz, a Coreia Popular e a Coreia do Sul anunciaram na quarta-feira (17) sua primeira equipe olímpica unificada e confirmaram que as duas partes da nação coreana, separadas pela ocupação dos EUA, vão marchar juntas sob a mesma bandeira na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, na cidade sul-coreana de Pyeongchang, em fevereiro.
Pyongygang comunicou, ainda, que enviará uma delegação aos Jogos Paralímpicos, que acontecerão de 9 a 18 de março
O primeiro time intercoreano da história das olimpíadas será de hóquei no gelo feminino, conforme decisão tomada pelas duas partes na Casa da Unificação, em Panmunjon.
Reunião no próximo sábado (20) do Comitê Olímpico Internacional (COI) em Lausanne, na Suíça, deverá sacramentar a participação intercoreana. O COI já declarou que considera toda a cooperação entre norte e sul durante as Olimpíadas de Pyeongchang como representando um “progresso considerável para o espírito olímpico”.
Enquanto o presidente Trump intensificava as sanções e ameaças – inclusive nucleares – contra a Coreia Popular, no discurso de ano novo o líder Kim Jong Un convocou ao diálogo “entre nós coreanos” e abriu a possibilidade de negociações imediatas para uma delegação intercoreana nos Jogos Olímpicos de Inverno.
O que foi prontamente respondido por Seul, cujo atual presidente, Moon Jae-in, era chefe de gabinete do presidente Roh Moo-hyun, que em 2007 se reuniu em Pyongyang com Kim Jong Il, pai de Jong Un.
A reunião intercoreana se deu no dia 9 sob o lema da reconciliação nacional e unidade, e vem se desdobrando. O presidente Moon determinou que não haverá manobras conjuntas do sul com os militares ianques enquanto durarem os Jogos Olímpicos. Também foi reaberta a linha direta entre o norte e o sul.
Na reunião desta quarta-feira (17), a Coreia Popular propôs enviar uma delegação com 550 membros, incluindo atletas, 30 lutadores de Taekwondo, 140 artistas da renomada orquestra Samjiyon e 230 autoridades e animadoras. Está em discussão a realização de atividades conjuntas em território do norte durante os Jogos. A orquestra Samjiyon deverá se apresentar em Seul e Gangneung.
As famosas “brigadas de animadoras norte-coreanas” estiveram presentes em outros eventos realizados no sul, como os Jogos Asiáticos de Busan em 2002 e o Campeonato de Atletismo da Ásia de Incheon em 2005. Uma equipe de preparação da chegada da representação do norte deve ir ao sul no dia 25 de janeiro, segundo o comunicado.
O ministro da Cultura, Esportes e Turismo sul-coreano, Jong-whan, conforme o jornal Chosun Ilbo, saudou a constituição da equipe olímpica intercoreana, afirmando que “a paz na península coreana através do esporte é um valor que as Olimpíadas estão buscando”.
Segundo o jornal sul-coreano Kankyoreh, o presidente do COI, Thomas Bach, estaria empenhado em tornar possível também a participação de atletas do norte em modalidades como skating, esqui e cross country nos Jogos de Pyeongchang, após perderem o prazo para inscrição, em nome do espírito olímpico e dos esforços pela paz.
A suspensão durante os Jogos Olímpicos das manobras militares no sul e também dos testes nucleares e de mísseis no norte mostra o quão oportuna é a proposta russo-chinesa de duplo congelamento para negociações sem pré-condições sobre a questão nuclear da península coreana.
Afinal, foi o rompimento, pelo governo de W. Bush, do acordo negociado pelo ex-presidente Carter no governo Clinton que forçou a Coreia Popular a criar a duras penas sua força de dissuasão nuclear. Há seis décadas, Washington mantém na península o estado de guerra e 28 mil soldados e por todos os meios tenta impedir a reunificação coreana. Nesse quadro, os Jogos de Pyeongchang podem se tornar uma luminosa janela para a reconciliação intercoreana.
ANTONIO PIMENTA