“Existem cidades onde só os Correios representam o governo”, garantiu Divisa, presidente do Sintect-SP
O governo Bolsonaro anunciou que pretende privatizar os Correios alegando que a empresa não é estratégica e que daria prejuízos aos cofres públicos.
Elias Cesário, mais conhecido por Diviza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo (Sintect -SP), rechaçou, nesta quarta-feira (18), em entrevista ao HP, as duas alegações, feitas por Salim Mattar, designado pelo governo para leiloar o Brasil. “Eles estão equivocados. Nenhum país do mundo abre mão de ter uma empresa como os Correios”, afirmou o líder sindical.
GOVERNO NÃO SABE O QUE ESTÁ DIZENDO
O sindicalista destacou que “esses integrantes do governo não sabem o que estão dizendo quando afirmam que o Correio não é uma empresa estratégica”. “Como não seria estratégica uma empresa que é a única empresa do governo federal, tirando o Exército, que está em todos os municípios do país?”, indagou o sindicalista. “Existem cidades”, disse ele, “onde só os Correios representam o governo. Seria um crime a privatização”.
Divisa argumentou ainda que os Correios não podem ser privatizados porque seria um desrespeito e uma afronta à população mais pobre do país. “É a única empresa que atende todas as classes sociais. Então isso não é estratégico? Quer dizer, então, que o pobre não tem direito à comunicação, só o rico?”, indagou. Diversas cidades brasileiras só têm os Correios para poder receber vacinas, material escolar, remédios, etc.
GARANTIR QUE TODOS SEJAM ATENDIDOS É UMA QUESTÃO ESTRATÉGICA
“Aqueles que estão interessados na privatização dos Correios estão de olho apenas nas áreas mais rentáveis do país”, denunciou. “A rede privada não joga para perder. Querem atender apenas os ricos. Garantir que todos sejam atendidos é uma questão estratégica e é obrigação do governo”, observou o líder dos carteiros paulistas.
“Os Correios têm o que nós chamamos de lucro cruzado, ou seja, o maior banca o menor”, explicou o sindicalista. “Aí eu te pergunto, as empresas privadas assumiriam essa situação? Elas se responsabilizariam pelo Acre, o Maranhão? Para eles não seria interessante. Tanto que, hoje, eles vendem os serviços deles de encomenda, mas, dependendo do local, eles reportam para os Correios. Eles acabam usando os próprios Correios”, disse Divisa.
“Eles dizem que com a privatização haveria lucro para as empresas privadas, para o governo e para o consumidor, mas não é isso o que ocorrerá. Ao contrário, vai aumentar mais ainda os custos para o consumidor e quem irá ficar com o prejuízo será o Estado”, garantiu o líder sindical. “Quem vai levar a encomenda para os lugares mais distantes, como aqueles que eu citei, por exemplo? DHL? Federal Express? Claro que não. Uma encomenda, duas encomendas, cem encomendas compensam para eles? Eles fariam a remessa daqui ao Maranhão? Certamente que não”, apontou Divisa.
O presidente do Sintect-SP contestou a informação de que as empresas privadas só atuariam em cerca de 300 cidades brasileiras. Ele disse que há aquelas cidades que contratam os serviços, na maioria cidades produtoras, as demais são quase sempre cidades receptoras de encomendas. “Então”, disse ele, “essas empresas privadas só têm sede nas cidades que contratam, que são uma cinco, São Paulo, Rio, Porto Alegre, Salvador e Curitiba. Quem fazem os fluxos mesmo são esses cinco lugares”.
É MENTIRA QUE OS CORREIOS SÃO DEFICITÁRIOS
Divisa foi categórico em desmentir a afirmação do governo de que os Correios são deficitários. Ele confirmou que a empresa tem um histórico de lucros e lembrou que o período da recessão foi o único em que as contas ficaram no vermelho. E destacou também que foram retirados do caixa dos Correios para o Tesouro, mais de R$ 3 bilhões de 2014 a 2016, o que, segundo ele, “causou dificuldades para a empresa”.
O estatuto social da empresa determina que devem ser transferidos para o Tesouro 25% do lucro obtido anualmente. Isso vem sendo feito há décadas. Ou seja, os Correios é uma empresa que aporta recursos para o governo e não o contrário, como afirmam os membros do governo. “A recessão e a retirada em excesso naquele período realmente prejudicaram o caixa da empresa e afetaram suas contas, mas, logo depois, a empresa voltou a dar lucros”, afirmou o sindicalista.
“Os ‘Correios’ é uma empresa que se auto sustenta. Até o dia de hoje nunca pegou dinheiro do governo, ao contrário, o governo sempre pegou dinheiro dos Correios. Como uma empresa dessas é deficitária? O governo não põe um tostão para pagar funcionários ou algum contrato. Essa ideia de que é uma empresa deficitária não cola. É o governo que está deficitário”, acrescentou Divisa.
QUASE 70 MIL VÃO PERDER O EMPREGO
Para o sindicalista, a privatização vai provocar, assim como fez em todos os lugares onde ocorreu, um grande número de desempregados. Nós já fomos 120 mil trabalhadores, desde 2011 não temos um concurso público. Hoje estamos com 99 mil trabalhadores e assim mesmo estamos segurando essa empresa. Com a privatização, se houver, cairíamos para uns 30 mil trabalhadores. Ou seja, nós teríamos mais 69 mil pessoas no olho da rua. Mais 69 mil pais de família sem condições de sustentar os seus e nem gerar riquezas para o país”, denunciou.
Divisa tem segurança que a luta vai barrar a privatização. “A população apoia os serviços dos Correios. Mais de 70% dos brasileiros, segundo as pesquisas, aprovam a qualidade dos serviços da empresa. Nós vamos barrar essa privatização”, garante o líder sindical.
“É claro que as tarifas vão subir com a privatização”, disse ele. “Isso aconteceu com as outras tarifas, como a de energia, a água, depois da privatização das empresas. Os ônibus, aqui em São Paulo, olha para onde foram as tarifas. Então, você imagina os custos do envio de encomendas. Logicamente que eles vão aumentar do jeito que eles quiserem, 30%, 40%. E quem é que vai bancar levar três encomendas no Maranhão? Quem vai pagar? Será o cidadão”, afiançou o presidente do sindicato.
CATEGORIA ESTÁ UNIDA E VAI BARRAR PRIVATIZAÇÃO
Divisa informou que a categoria está unida nessa luta. “Estamos fazendo um grande trabalho em Brasília, junto aos parlamentares e vamos intensificar essa mobilização”, disse ele, enfatizando que já foram colhidas milhares de assinaturas pelos próprios carteiros contra a privatização.
Divisa disse que as duas federações, a Findect (Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios, na qual ele está filiado, e a Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares) estão unidas nesse trabalho no Congresso Nacional. Ele disse que haverá um congresso em fevereiro das duas entidades para o ajuste fino dessa luta. “Esteremos nas ruas de forma ainda mais intensa em 2020”, garantiu o líder dos trabalhadores dos Correios.
SÉRGIO CRUZ
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