“Temos certeza que a viabilidade financeira vai ser alcançada”, disse Emmanoel Rondon, presidente da estatal. “Para que a gente saia dessa discussão de viabilidade”
O presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Emmanoel Schmidt Rondon, anunciou nesta-quarta (15) a primeira fase do plano de recuperação financeira dos Correios, que prevê a tomada de empréstimo com bancos de R$ 20 bilhões e um novo programa de demissão voluntária (PDV); além da renegociação com fornecedores e o esforço na diversificação de produtos/serviços, que possam gerar novas receitas para estatal.
Frente à queda nas receitas, a estatal registrou um prejuízo de R$ 4,37 bilhões no primeiro semestre de 2025. No ano passado, o prejuízo foi de R$ 1,3 bilhão.
Há menos de um mês no cargo, Rondon afirma que o contrato de crédito terá garantia da União. “A operação de crédito visa reequilibrar a empresa nos anos de 2025 e 2026. Ter tempo de adotar as medidas que começam a impactar em 2026, para em 2027 a gente conseguir iniciar um ciclo de balanço no azul. Ou seja, lucro em 2027″, afirmou.
“Se a gente fizer as melhorias que estamos abordando, temos certeza que a viabilidade financeira vai ser alcançada”, disse o presidente da estatal. “Para que a gente saia dessa discussão de viabilidade”.
Pelo novo plano, os Correios vão realizar novas demissões e o fechamento de agências. Schmidt Rondon não entrou em detalhes sobre como o plano de Demissão Voluntária (PDV) será feito. No PDV encerrado em maio, a empresa perdeu 3.500 funcionários. “O (novo) PDV está sendo tratado de forma cuidadosa, para ver onde tem ociosidade, não de forma linear, para não perder operacionalidade”, explicou.
Segundo Rondon, ainda, empresas de serviço de entregas de correspondência e encomendas do Canadá, dos Estados Unidos e da Índia, também vêm registrando prejuízos; enquanto, França, Japão e China apresentam resultados positivos. Há hoje, argumenta o novo presidente, “um ambiente concorrencial bem mais robusto do que a gente tinha no passado”, acelerado pela pandemia.
“As empresas que conseguirem se adaptar ao novo ambiente e ter eficiência operacional, tem mais condição de gerar resultado positivo – competir no mercado, trabalhar com a encomenda, ainda prestando serviços de universalização”, disse Rondon. “Essa falta de adaptação [dos Correios] fez com que sofresse em termos de resultado, em termos de geração de caixa, em termos da operação em si”, completou.
Os Correios estão colhendo os prejuízos provocados pelo desmonte do caixa da empresa, feito via pagamento de lucros e dividendo bilionários ao Tesouro Nacional e por iniciativas de desmanche de suas estruturas, como por exemplo, o fim do monopólio da empresa na gestão de cargas nos aeroportos internacionais. Segundo o ex-presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, a última medida resultou em perda de faturamento de R$ 4 bilhões para os Correios.
Outra frustração de receita, também apontada por Santos, foi causada pelo fim da isenção de imposto sobre importações de até US$ 50 dólares, conhecido popularmente como “taxa das blusinhas”, em vigor desde 2024. Segundo um documento produzido pelos Correios, antes da medida entrar em vigor, a estatal estimava arrecadar R$ 5,9 bilhões com o transporte de mercadorias importadas da China em 2024. Com o surgimento da lei, o total efetivamente arrecadado foi de R$ 3,7 bilhões, ou R$ 2,2 bilhões a menos.
“A essa altura [em referência a 2024], os operadores [as empresas que vendem, tipo Shein, Aliexpress e Amazon] avançaram na estruturação de operações próprias e, com isso, iniciou-se, também, um movimento de migração de carga para esses canais. Como efeito prático, os Correios começaram a perder participação no mercado”, afirma o estudo, divulgado em janeiro, sobre o impacto da cobrança de imposto de importação sobre compras de até US$ 50 aprovada pelo Congresso e sancionada por Lula em junho de 2024.
A estatal possui a maior infraestrutura logística da América Latina: uma rede de atendimento de mais de 10 mil agências, mais de 8 mil unidades operacionais, 23 mil veículos e 80 mil empregadas e empregados diretos. Com mais de 360 anos de história e presente em 100% dos municípios do País, a estatal sofreu um processo de sucateamento por parte do governo Bolsonaro, que colocou a estatal no programa de desestatização e promoveu uma redução drástica nos investimentos.