Plano visa “fortalecer a estatal no médio e longo prazo”
Os Correios aprovaram o plano de reestruturação da estatal, que inclui programas de demissão voluntária, renegociação de contratos e venda de ativos e o fechamento de 1 mil agências consideradas deficitárias. Para viabilizar a liquidez no curto prazo, a direção da estatal também informou que deve concluir, até o fim de novembro, uma operação de crédito de até R$ 20 bilhões, que é “indispensável para a transição estrutural projetada para a empresa”.
“Os Correios sinalizam ainda a possibilidade de operações de fusões, aquisições e outras reorganizações societárias para fortalecer a competitividade da estatal no médio e longo prazo”, diz trecho da nota. O Plano de Reestruturação dos Correios foi aprovado na última quarta-feira (19) pelo conselho de administração da empresa.
O empréstimo será realizado com um consórcio de bancos, alternativa criada pela área econômica do governo, que negou o aporte do Tesouro à estatal – que nas últimas décadas foi descapitalizada por meio do pagamentos de lucros e dividendos ao Tesouro, com percentuais que diversas vezes foram superiores ao mínimo de 25% do lucro líquido definido pelo estatuto da empresa – uma das principais medidas que freou a modernização dos serviços da estatal.
Entre 2001 e 2020, foram 16 anos de lucro contra quatro de prejuízo. No total, a empresa acumulou R$ 12,4 bilhões em ganhos (em valores atualizados pelo IPCA), nos quais repassou R$ 9 bilhões em dividendos nesse período.
Em nota, a gestão dos Correios diz “que o plano foi elaborado após análise aprofundada da situação financeira e do atual modelo de negócio” e afirma que “nos próximos 12 meses, os recursos serão aplicados em medidas determinantes, tais como: Programa de Demissão Voluntária e remodelagem dos custos com plano de saúde; 100% de adimplência com fornecedores; Modernização e readequação do modelo operacional e infraestrutura tecnológica; Liquidez assegurada durante a evolução do modelo econômico da empresa ao longo de 2026”.
Com esse plano, a direção da empresa estima a redução do déficit em 2026 e retorno à lucratividade em 2027.
Outro impacto negativo contra o caixa dos Correios veio das mudanças do programa “Remessa Conforme”, criado pelo Ministério da Fazenda em 2023, no qual o governo passou a cobrar imposto de importação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50 da China, antes isentas. Mas que também passou a permitir que empresas de transportes pudessem fazer fretes pelo Brasil de mercadorias internacionais; desta forma, eliminando a obrigação de distribuição destas encomendas junto aos Correios, como era feito até então.
Com essas alterações, a estatal teve uma frustração de receita de R$ 2,2 bilhões, segundo um estudo produzido pela empresa. Os Correios estimavam arrecadar com o transporte de mercadorias da China R$ 5,9 bilhões, em 2024. Entretanto, com o surgimento da lei, o total efetivamente arrecadado foi de R$ 3,7 bilhões. Ou seja, o Ministério da Fazenda elevou a arrecadação do governo com taxação das encomendas internacionais, sem considerar quais seriam os impactos sobre os Correios.
Enquanto a estatal estava sendo descapitalizada e tendo os seus serviços sucateados nos governos Temer e Bolsonaro, o capital financeiro estrangeiro seguiu avançando sobre o setor de e–ecommerce – o filé mignon dos serviços postais – nas cidades mais lucrativas deste país. Mas nos rincões mais longínquos e pobres do Brasil, onde os custos de envio são caros, as empresas como Mercado Livre, Amazon, Shopee etc., utilizam os serviços dos Correios – que devido a sua função social oferece custos de envio mais viáveis aos consumidores dessas regiões – que são cobertos pelos ganhos obtidos nos municípios mais rentáveis.
Os correios é a única empresa pública federal presente em todo território brasileiro. E mesmo com problemas financeiros segue com atendimento universalizado por meio de sua estrutura, que permite, por exemplo, “a entrega de livros didáticos às escolas públicas; a distribuição de milhões de provas do Enem simultaneamente em todo o território em apenas 2h; a entrega de urnas eletrônicas às zonas eleitorais de difícil acesso; além da pronta resposta em situações de emergência e calamidade, a exemplo da arrecadação e entrega de 30 mil toneladas de doações ao povo do Rio Grande do Sul, após as enchentes que afetaram o estado em 2024, e o transporte de insumos e mantimentos às famílias atingidas pelo tornado no Paraná neste mês de novembro”, lembra a gestão da empresa.











