Categoria denuncia que empresa atrasou negociação para aplicar lei da escravidão.
Os trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) entraram em greve por tempo indeterminado na noite desta terça-feira, 19. Os funcionários denunciam o desmonte pelo qual sofre a empresa, capitaneado pelo presidente Guilherme Campos, e reivindicam a manutenção dos direitos conquistados em acordos passados, além de aumento real dos salários.
Segundo o Comando Nacional de Mobilização e Negociação (CNMN) da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (FENTECT), aderiram à greve os sindicatos de Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, São Paulo (Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Vale do Paraíba e Santos), Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais (MG, Juiz de Fora e Uberaba), Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul (RS e Santa Maria), Sergipe e Santa Catarina.
O comando de mobilização também aponta que vem buscando negociar com a empresa desde 1º de agosto, data-base da categoria, porém a política da empresa é atrasar as reuniões para que entre em vigor a nova lei trabalhista de Temer. “Após mais de 40 dias de atraso, a empresa anunciou apenas propostas de exclusões de cláusulas para o novo Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) de categoria, configurando retiradas de direitos e assédio moral”.
“Estamos tentando negociar com a direção dos Correios desde julho, mas os representantes da empresa permanecem intransigentes, querendo cortar benefícios e reduzir ainda mais o quadro de funcionários. Não vamos permitir nenhum direito a menos! Os trabalhadores estão unidos e dispostos a enfrentar uma grande e forte greve pela manutenção de direitos e reajustes também nos benefícios,” disse Moisés Lima, presidente do Sintect-VP (Vale do Paraíba).
A ECT anunciou prejuízos que somam, aproximadamente, R$ 4 bilhões nos últimos dois anos. A política do Governo Federal, posta em prática por Guilherme Campos, no entanto, não terá condições de resolver o problema: corte de gastos, diminuição da folha de pagamento, fechamento de agências e corte nos direitos dos trabalhadores.
Com o sucateamento, os serviços começam a apresentar problemas. Desde o ano passado já são três Planos de Demissão Voluntária na estatal. Em carta aberta à população, a Fentect denuncia que essa política tem conseqüências claras: “Os atrasos de suas cartas, encomendas, boletos e demais correspondências não são por culpa dos empregados. Nos últimos anos, os Correios abriram vários programas de demissões voluntárias e mais de 10 mil trabalhadores saíram da empresa. Desde 2011 não houve mais concurso público nos Correios e, agora, querem abrir um programa de demissão para reduzir mais 10 mil vagas. Se a sua carta já está chegando atrasada, com mais essas demissões, ficará ainda pior”.
Além do fechamento de agências e diminuição do quadro de funcionários, a Federação ainda denuncia que há ameaças de demissão motivada; corte em investimentos, incluindo novos concursos públicos; a suspensão das férias dos trabalhadores; retirada de vigilantes das agências, interferências e o sucateamento no plano de saúde da categoria, entre outros cortes que já estão sendo promovidos. “É uma greve contra a privatização da empresa e a retirada de direitos. Estamos em campanha salarial e os Correios querem retirar cláusulas do acordo coletivo, como a que garante concurso público. Também estão atrasando a negociação para esperar a vigência da reforma trabalhista”, reclama o secretário-geral do sindicato de Minas Gerais, Robson Gomes.
É a velha política de precarizar para justificar a privatização. Em março, o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, afirmou que, se a empresa não promovesse o “equilíbrio rapidamente”, “caminharia para um processo de privatização”.
Segundo o presidente Guilherme Campos, 60% do prejuízo da empresa vem do pagamento de funcionários, mesmo que o número de empregados tenha sido reduzido. Como já apontou anteriormente o sindicato de São Paulo, a crise “é falaciosa, inventada para convencer a opinião pública. A internet impulsionou os serviços postais por meio do comércio eletrônico; as faturas de cartão de crédito e ordens de pagamento mantém as correspondências; o fluxo postal não para de crescer. De onde vem a crise, então? Em contraposição aos Correios públicos, outro modelo – corporativo e privatista – vem sendo apresentado”, denunciou o Sintect-SP.