Os trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) entraram em greve por tempo indeterminado em 22 estados e no Distrito Federal neste domingo, 11. De acordo com a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), a mobilização é contra as alterações no Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS); a privatização da estatal, além de outras medidas que retiram direitos.
Uma das principais questões em relação aos trabalhadores está no Plano de Saúde da empresa, que teve alterações que preveem pagamento de mensalidades pelos funcionários e a retirada de dependentes dos contratos, que podem chegar a um valor de R$ 900, dependendo da idade do segurado. Em nota, a Fentect ressaltou que o valor é abusivo sob qualquer aspecto, mas é especialmente no caso dos Correios, visto que o salário médio dos funcionários da empresa é de R$ 1,6 mil – o pior salário entre empresas públicas e estatais.
A ECT também iniciou 2018 extinguindo o cargo de Operador de Triagem e Transbordo (OTT), responsável no dia a dia em fazer a seleção dos itens que são enviados, visando a terceirização nos Correios. Já anunciou a redução da carga horária e os salários dos trabalhadores administrativos, e ainda iniciou um processo de fechamento de mais de 250 agências próprias por todo o Brasil.
Para piorar a situação, no último dia 6, os Correios chegaram a cobrar uma taxa extra de R$ 3 para encomendas com destino ao Rio de Janeiro, alegando a elevação dos custos da entrega por causa da violência no município. A federação esclarece que o aumento não garante segurança aos funcionários, apenas onera o cidadão que precisa do serviço. No dia 9, após decisão da Justiça Federal, a estatal suspendeu a cobrança.
Tudo isso porque, segundo o presidente da empresa, Guilherme Campos, a estatal está em crise e estas são as únicas formas de resolvê-la. São alardeados enormes déficits e prejuízos a cada ano, sem que a gestão da empresa mude. As únicas medidas são o fechamento de agências, demissão de funcionários e descontos assombrosos nos benefícios e na folha de pagamento dos trabalhadores: tudo o que pode levar a empresa à extinção, no intuito desmontá-la para que possa ser privatizada sob o velho argumento de que dá prejuízos.
Essa tentativa vem de muito tempo: uma auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) revelou que a parte dos lucros e dividendos que a estatal passou para a União entre 2011 e 2013, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, superou em muito o recomendado, chegando a 97% do total (R$ 300 milhões) em 2013. Anteriormente, segundo a CGU, os correios pagaram à União por volta de R$ 1,9 bilhões entre 2000 e 2010.
Por isso a Fentec denunciou que, ao contrário de que é divulgado pela direção da empresa, a ECT “não onera o governo federal ou o bolso do cidadão com arrecadação de impostos, já que, ao contrário, é o governo quem tem retirado verbas da empresa, sem retorno, nos últimos anos”.
Como se não bastasse a falta de investimento, a empresa está sem realizar concursos públicos desde 2011 e já soma mais de 10 mil desligamentos por meio de programas de demissão voluntária, sendo três deles realizados apenas no ano passado.
Tanto que a categoria reivindica a contratação de novos funcionários por meio de concurso público, a segurança dos trabalhadores e o fim dos planos de demissão. Além disso, os trabalhadores são ainda contra a suspensão das férias de 2017, a extinção do diferencial de mercado (bônus pago aos funcionários de acordo com a localidade e o cargo), a redução do salário da área administrativa e a terceirização das áreas de tratamento (sedes dos correios para onde as encomendas e cartas são enviadas em cada cidade, antes de irem para o destino final).
A categoria esclarece que o desmonte promovido pela gestão dos Correios tende a prejudicar ainda mais os serviços à população, visto que é um serviço essencial do qual nenhuma empresa privada teria condições de manter. “Empresas privadas não têm o interesse em garantir o acesso a serviços postais ou transações financeiras em qualquer interior do país. Mesmo em economias mais liberais, como Estados Unidos e Canadá, os Correios continuam público devido às dimensões continentais e ao caráter social. Na década de 1990, privatizaram os Correios argentino, o que tornou os serviços um caos e o governo precisou retomar o poder da empresa. Por tudo isso, pedimos o apoio da população. Ajudem-nos a defender os Correios, símbolo da nossa identidade nacional, que, além de ser uma empresa querida, se bem administrada, presta excelentes serviços à sociedade”, diz documento publicado pela federação.