Ao rejeitar a posição da Comissão Europeia de corte total das importações de petróleo e gás da Rússia, premiê húngaro expõe que a Hungria a vê como “ameaça a sua segurança energética”
“A segurança energética da Hungria pode ser ameaçada se a União Europeia proibir as importações de petróleo russo para o continente”, afirmou o primeiro ministro húngaro, Viktor Orbán, nesta sexta-feira.
A proposta de proibir as importações de petróleo russo para os países do bloco que faz parte do sexto pacote de sanções anti-Rússia, apresentado na quarta-feira (04) pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é uma “bomba atômica” para a economia nacional que o país não pode aceitar, assegurou o chefe do governo em entrevista à uma rádio local.
Segundo Orbán, Budapeste está disposta a negociar para conseguir um novo acordo que atenda aos interesses nacionais, já que o que a UE colocou na mesa é problemático e resultaria muito caro para eles. A Hungria precisaria de 5 anos e teria que fazer grandes investimentos em suas refinarias e oleodutos para poder transformar seu atual sistema de abastecimento, que depende 65% do petróleo russo, explicou.
O primeiro-ministro questionou se seria prudente apostar em uma transformação em grande escala, que leva anos e tem um alto custo, enquanto o conflito na Ucrânia está acontecendo agora e não pode ser instrumentalizado para atender interesses que não são do povo húngaro. “Teríamos que gastar centenas de bilhões de forins [moeda oficial da Hungria] para renovar um sistema de refino de petróleo que não precisamos agora”, enfatizou.
O rascunho do documento da UE entregue à Hungria foi devolvido à espera de uma nova alternativa, disse Orbán. “Não quero confrontar a UE, e sim cooperar, mas isso só é possível se levarem em conta nossos interesses”, insistiu.
Por outro lado, o primeiro-ministro lembrou a decisão do seu país de não enviar armas para a Ucrânia e também esclareceu que não apoiaria a ideia de incluir o Patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa, nas novas medidas restritivas contra a Rússia, por uma questão de “liberdade religiosa”.
O ministro húngaro das Comunicações e Relações Internacionais, Zoltan Kovacs, reafirmou que as propostas da UE eram “inaceitáveis” e que a Hungria as vetaria.
A União Europeia precisa que todos os seus 27 membros concordem com a proibição para que ela seja imposta.
A Hungria não é a única nação preocupada com a velocidade com que as nações estão sendo urgidas a cortar os laços por conta das pressões dos Estados Unidos. Outros países, incluindo a Eslováquia e a República Tcheca, também têm se posicionado por uma maior negociação.
As nações sem litoral no leste do continente dependem do petróleo russo que flui através da Ucrânia por meio de oleodutos. Mudar para fontes diferentes significaria alterar a infraestrutura atual e as redes de transporte e seguramente teriam um custo considerável.
Livia Gallarati, analista de mercados de petróleo da Energy Aspects em Londres, assinalou que é verdade que a dependência da Europa da energia russa é tão alta que não pode ser eliminada facilmente.
“Os preços do petróleo vão subir, assim como os preços nas bombas para os consumidores”, frisou ela. Isso é algo que os governos de todo o continente considerarão, ponderou, constatando que para eles fica cada vez mais claro que as tentativas de afetar a economia da Rússia afetam a sua própria.